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Medo e repressão: como manifestantes tentam driblar a vigilância da polícia na China

A frustração com as severas e prolongadas restrições sanitárias para combater a covid-19 deu origem a uma enorme revolta popular que não se via há décadas no país

China: intensos protestos vêm sendo reprimidos pela polícia (HECTOR RETAMAL/Getty Images)
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AFP

Publicado em 1 de dezembro de 2022 às 11h04.

Última atualização em 1 de dezembro de 2022 às 11h16.

A polícia chinesa emprega sofisticadas ferramentas de vigilância, incluindo programas de reconhecimento facial e rastreamento de telefones, para localizar os manifestantes envolvidos nos recentes protestos e, com isso, sufocar uma histórica onda de revolta no país.

A frustração com as severas e prolongadas restrições sanitárias para combater a covid-19 deu origem a uma revolta popular de magnitude que não se via há décadas no gigante asiático.

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No último fim de semana, os manifestantes também entoaram reivindicações políticas. Alguns chegaram a pedir a renúncia do presidente Xi Jinping, que recentemente assumiu um terceiro mandato.

O governo determinou a "repressão" aos protestos e mobilizou um importante arsenal de segurança, que inclui ferramentas de vigilância de última geração para localizar os manifestantes.

"Ao que parece, em Pequim, Xangai e Guangzhou, a polícia usa métodos de alta tecnologia", comentou à AFP Wang Shengsheng, uma advogada que oferece assistência jurídica gratuita aos manifestantes.

"Em outras cidades, parece que usam imagens de vigilância e reconhecimento facial", acrescenta esta especialista em direitos humanos, que mora em Shenzhen (sudeste).

Na capital do país, Pequim, a polícia conseguiu usar dados de localização dos telefones celulares. Também conseguiu obter esses dados, solicitando aos taxistas que transportaram os manifestantes e que controlavam os passes sanitários.

Muitas pessoas em Pequim "não entenderam por que a polícia entrou em contato, quando eles simplesmente passaram pelo local da manifestação e não participaram dela", disse a advogada.

Em Xangai, a polícia convocou as pessoas identificadas para interrogá-las e confiscou seus telefones, "talvez para extrair todos os seus dados", acrescenta.

Medo e paranoia

Em Guangzhou, algumas pessoas disseram à advogada que suas contas do Telegram foram invadidas, após controles policiais durante os protestos.

As contas dos detidos em Pequim continuavam ativas enquanto eles estavam na prisão, disseram à advogada amigos desses manifestantes, sugerindo que a polícia tinha acesso a elas.

Em alerta máximo devido a denúncias de novas detenções e de intimidação policial, os manifestantes trocam mensagens em grupos de discussão criptografados, acessíveis apenas por meio de um software VPN, que é ilegal na China.

Nesse espaço, discutem recomendações sobre como evitar a infiltração da polícia, além de conselhos legais sobre o que fazer se forem interrogados, detidos, ou se tiverem seus telefones apreendidos.

O importante é apagar de seus celulares qualquer vestígio de participação em manifestações, incluindo conversas, vídeos e fotos.

Um morador da capital disse à AFP que dois amigos que participaram dos protestos em Pequim e em Xangai foram detidos pela polícia na tarde de domingo e na noite de terça-feira.

Seu amigo em Xangai foi solto na segunda à noite, mas seu telefone continua nas mãos da polícia, relatou este homem, que pediu para não ser identificado por razões de segurança.

Nas redes sociais da China, qualquer usuário que publicar conteúdo sobre os protestos pode ser facilmente rastreado, já que as plataformas exigem seu nome real para se inscrever.

"O conteúdo dos telefones e das postagens nas redes sociais são, sem dúvida, controlados", diz Rui Zhong, especialista em China do "think tank" Wilson Center, em Washington.

"Não há vida privada!"

A AFP viu vários policiais filmando manifestantes durante o protesto de domingo em Pequim.

Uma manifestante contou à AFP que ela e cinco amigos foram procurados pela polícia, depois de participarem da concentração no bairro das embaixadas. Ela disse que foi chamada à delegacia na terça-feira, mas não foi recebida porque não conseguiu apresentar um teste recente de covid.

Em Xangai, um jornalista da AFP testemunhou várias prisões e viu a polícia verificar, à força, o telefone de um manifestante para ver se ele tinha redes sociais estrangeiras bloqueadas na China. Esses aplicativos são usados para divulgar informações sobre os protestos.

"O que é vida privada? Não existe vida privada!", declarou um policial a um manifestante de 17 anos, em Xangai, na segunda-feira, de acordo com uma gravação.

A advogado Wang Shengsheng lamenta que "a tecnologia de ponta seja usada" para "manifestações públicas", em vez de "quando pessoas desaparecem, ou são assassinadas".

“Se podem manipular nossos telefones como quiserem, entrar nas nossas contas [ sem consentimento ], o que nos resta da nossa liberdade?”, questiona.

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