Mandela foi catalogado por décadas como terrorista pelos EUA
Na quinta-feira, quando Mandela faleceu, aos 95 anos, o presidente americano Barack Obama o destacou como uma figura inspiradora
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 20h06.
Washington - Em 2008, pouco antes de seu 90º aniversário, os Estados Unidos concederam a Nelson Mandela um presente: retiraram seu nome de sua lista de terroristas , na qual ele havia figurado por décadas, colocando fim ao que funcionários americanos consideram "um assunto bastante vergonhoso".
Na ocasião, o líder anti-apartheid já havia abandonado há tempos a prisão na qual permaneceu por 27 anos, e já desfrutava de sua aposentadoria e de seu papel como uma das figuras mais veneradas do século XX depois de se converter no primeiro presidente negro da África do Sul.
Na quinta-feira, quando Mandela faleceu, aos 95 anos, o presidente americano Barack Obama o destacou como uma figura inspiradora que "alcançou mais do que podemos esperar de qualquer homem" e ordenou que as bandeiras em todos os edifícios públicos fossem colocadas a meio mastro - um tributo concedido raras vezes a um líder estrangeiro.
Mas décadas atrás muitos americanos não compartilhavam a admiração por Mandela e seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), que foi catalogado como uma organização terrorista pela África do Sul e pelos Estados Unidos. Seus opositores de direita o acusavam de ser um terrorista impertinente e simpatizante do comunismo.
De fato, soube-se que a Agência Central de Inteligência americana (CIA) ajudou a orquestrar a prisão de Mandela em 1962, ao infiltrar um agente na ANC que fornecia dados às autoridades sul-africanas para que pudessem rastreá-lo.
No entanto, na década de 1980 o falecido senador democrata Ted Kennedy redigiu uma lei junto ao senador Lowell Weicker que, com o tempo, se converteria em um dos catalisadores que conduziriam ao colapso do apartheid.
O então presidente Ronald Reagan tentou enterrar com seu veto o projeto anti-apartheid, que se dispunha a impor sanções econômicas à Africa do Sul, afirmando que considerava que ele só conduziria a mais violência e à repressão dos negros.
Mas pela primeira e única vez no século, o Congresso americano se rebelou e levantou o veto, abrindo caminho para a aplicação de sanções contra Pretória que afetaram as ligações aéreas diretas e cortaram ajuda vital.
Alguns especialistas consideram que a história de redenção de Mandela e a inegável justiça de sua causa representam lições únicas para Washington, que enfrenta abusos flagrantes dos direitos humanos por parte de regimes repressivos em todo o mundo.
Brian Dooley, que trabalhou com Kennedy na legislação e agora dirige a organização Human Rights First, critica a justificativa de que os Estados Unidos buscam um compromisso construtivo com os regimes autocráticos visando um bem maior e para garantir interesses em matéria de segurança.
"As justificativas para apoiar o regime do apartheid são agora quase as mesmas que são ouvidas quando se fala sobre por que os Estados Unidos não são mais firmes contra as violações dos direitos humanos na Arábia Saudita, no Bahrein ou em muitos outros países", disse Dooley à AFP.
"Vamos esquecer a moral por um segundo, e observar o interesse nacional, o interesse próprio. Alinhar-se com os tipos maus não apenas parece mau, está mau. E eventualmente caem, e eventualmente existirá um terrível ressentimento" em relação ao país, acrescentou.
As lições extraídas no tempo do apartheid ainda são aplicadas hoje, considerou Dooley, já que "o simples fato de o Congresso ter ignorado o veto salvou a reputação dos Estados Unidos".
Há cinco anos, Mandela e outros integrantes da ANC permaneciam na lista terrorista dos Estados Unidos, devido a sua luta armada contra o regime segregacionista, que em meados da década de 1990 cedeu lugar à democracia.
O Departamento de Estado concedeu a Mandela uma isenção para que pudesse entrar nos Estados Unidos para participar de reuniões como a Assembleia Geral da ONU, algo que a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice considerou vergonhoso.
Quando Mandela finalmente foi retirado da lista, em 2008, o então senador e atual secretário de Estado, John Kerry, afirmou: "ele não tem lugar na lista de vigilância terrorista de nosso governo".
Em um discurso na Casa Branca na quinta-feira, Obama destacou Mandela como alguém que "pegou a História nas mãos e curvou o arco do universo moral na direção da justiça". "Não veremos mais alguém como Nelson Mandela", ressaltou.
J. Peter Pham, diretor do Centro para a África do Conselho do Atlântico, classificou Mandela como "um dos raros estadistas que capturaram a imaginação dos americanos ao longo do espectro político".
"Inclusive aqueles que normalmente não se interessam pela África encontraram nele um indivíduo muito persuasivo", declarou Pham, que recebeu em 2008 o Prêmio Internacional Nelson Mandela para a segurança e o desenvolvimento africano.
Washington - Em 2008, pouco antes de seu 90º aniversário, os Estados Unidos concederam a Nelson Mandela um presente: retiraram seu nome de sua lista de terroristas , na qual ele havia figurado por décadas, colocando fim ao que funcionários americanos consideram "um assunto bastante vergonhoso".
Na ocasião, o líder anti-apartheid já havia abandonado há tempos a prisão na qual permaneceu por 27 anos, e já desfrutava de sua aposentadoria e de seu papel como uma das figuras mais veneradas do século XX depois de se converter no primeiro presidente negro da África do Sul.
Na quinta-feira, quando Mandela faleceu, aos 95 anos, o presidente americano Barack Obama o destacou como uma figura inspiradora que "alcançou mais do que podemos esperar de qualquer homem" e ordenou que as bandeiras em todos os edifícios públicos fossem colocadas a meio mastro - um tributo concedido raras vezes a um líder estrangeiro.
Mas décadas atrás muitos americanos não compartilhavam a admiração por Mandela e seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), que foi catalogado como uma organização terrorista pela África do Sul e pelos Estados Unidos. Seus opositores de direita o acusavam de ser um terrorista impertinente e simpatizante do comunismo.
De fato, soube-se que a Agência Central de Inteligência americana (CIA) ajudou a orquestrar a prisão de Mandela em 1962, ao infiltrar um agente na ANC que fornecia dados às autoridades sul-africanas para que pudessem rastreá-lo.
No entanto, na década de 1980 o falecido senador democrata Ted Kennedy redigiu uma lei junto ao senador Lowell Weicker que, com o tempo, se converteria em um dos catalisadores que conduziriam ao colapso do apartheid.
O então presidente Ronald Reagan tentou enterrar com seu veto o projeto anti-apartheid, que se dispunha a impor sanções econômicas à Africa do Sul, afirmando que considerava que ele só conduziria a mais violência e à repressão dos negros.
Mas pela primeira e única vez no século, o Congresso americano se rebelou e levantou o veto, abrindo caminho para a aplicação de sanções contra Pretória que afetaram as ligações aéreas diretas e cortaram ajuda vital.
Alguns especialistas consideram que a história de redenção de Mandela e a inegável justiça de sua causa representam lições únicas para Washington, que enfrenta abusos flagrantes dos direitos humanos por parte de regimes repressivos em todo o mundo.
Brian Dooley, que trabalhou com Kennedy na legislação e agora dirige a organização Human Rights First, critica a justificativa de que os Estados Unidos buscam um compromisso construtivo com os regimes autocráticos visando um bem maior e para garantir interesses em matéria de segurança.
"As justificativas para apoiar o regime do apartheid são agora quase as mesmas que são ouvidas quando se fala sobre por que os Estados Unidos não são mais firmes contra as violações dos direitos humanos na Arábia Saudita, no Bahrein ou em muitos outros países", disse Dooley à AFP.
"Vamos esquecer a moral por um segundo, e observar o interesse nacional, o interesse próprio. Alinhar-se com os tipos maus não apenas parece mau, está mau. E eventualmente caem, e eventualmente existirá um terrível ressentimento" em relação ao país, acrescentou.
As lições extraídas no tempo do apartheid ainda são aplicadas hoje, considerou Dooley, já que "o simples fato de o Congresso ter ignorado o veto salvou a reputação dos Estados Unidos".
Há cinco anos, Mandela e outros integrantes da ANC permaneciam na lista terrorista dos Estados Unidos, devido a sua luta armada contra o regime segregacionista, que em meados da década de 1990 cedeu lugar à democracia.
O Departamento de Estado concedeu a Mandela uma isenção para que pudesse entrar nos Estados Unidos para participar de reuniões como a Assembleia Geral da ONU, algo que a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice considerou vergonhoso.
Quando Mandela finalmente foi retirado da lista, em 2008, o então senador e atual secretário de Estado, John Kerry, afirmou: "ele não tem lugar na lista de vigilância terrorista de nosso governo".
Em um discurso na Casa Branca na quinta-feira, Obama destacou Mandela como alguém que "pegou a História nas mãos e curvou o arco do universo moral na direção da justiça". "Não veremos mais alguém como Nelson Mandela", ressaltou.
J. Peter Pham, diretor do Centro para a África do Conselho do Atlântico, classificou Mandela como "um dos raros estadistas que capturaram a imaginação dos americanos ao longo do espectro político".
"Inclusive aqueles que normalmente não se interessam pela África encontraram nele um indivíduo muito persuasivo", declarou Pham, que recebeu em 2008 o Prêmio Internacional Nelson Mandela para a segurança e o desenvolvimento africano.