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Maduro dá início à sua campanha pela reeleição na Venezuela

Impopular em um contexto de escassez de alimentos e hiperinflação, Maduro volta a recuperar a iniciativa no cenário eleitoral

O presidente Nicolás Maduro abraça o filho Nicolás e a mulher, Cilia (Juan Barreto/AFP)

O presidente Nicolás Maduro abraça o filho Nicolás e a mulher, Cilia (Juan Barreto/AFP)

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AFP

Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 06h59.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, começou a campanha para tentar se reeleger nas eleições que serão celebradas antes de 30 de abril, com amplas possibilidades de ganhar apesar do país enfrentar uma de suas piores crise.

"Não vou falhar com vocês. Assumo a candidatura presidencial para o período 2019-2025 (...) Serei o candidato de toda a classe operária venezuelana e continuarei sendo o presidente dos humildes", afirmou nesta quarta-feira (24), em ato com trabalhadores.

Somada ao controle institucional exercido pelo regime, a decisão estratégica de adiantar as eleições voltou a colocar o sucessor de Hugo Chávez em posição favorável diante de uma oposição dividida e fragilizada.

Impopular em um contexto de escassez de alimentos e hiperinflação, Maduro volta a recuperar a iniciativa no cenário eleitoral apesar do crescente isolamento internacional de que padece a Venezuela - a exceção notória do apoio que continua recebendo de Rússia e China - após as sanções impostas pela União Europeia.

Os Estados Unidos rechaçaram a convocação a eleições presidenciais antecipadas e, através de uma declaração do Departamento de Estado, apoiou o Grupo de Lima, que já tinha condenado a antecipação do pleito.

A televisão governamental difundiu nesta quarta-feira (24) vídeos que exaltam sua figura, enquanto se espera que o poder eleitoral defina a data exata das eleições. Maduro pediu que seja logo: "Se estivesse nas minhas mãos, as realizaria neste domingo". "A direita observa no horizonte o panorama da derrota", disse o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez.

Maduro se declarou preparado para tentar a reeleição, depois que a Assembleia Constituinte, que governa com poderes absolutos, adiantou na terça-feira a votação, que tradicionalmente acontece em dezembro.

O presidente socialista, de 55 anos, enfrenta uma impopularidade de aproximadamente 70%, segundo a agência de pesquisas Delphos, pois parte da população o associa à hiperinflação e à escassez de alimentos e medicamentos. Contudo, os especialistas enxergam Maduro, que entre abril e julho enfrentou protestos que deixaram 125 mortos, como um candidato sólido. Em 4 de fevereiro ele formalizará sua candidatura.

Oposição debilitada

Analistas e opositores advertiram que o governo adiantaria a data para aproveitar as divisões da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD). "Fomos pegos de surpresa", disse o dirigente Andrés Velásquez.

O racha se agravou após as eleições de outubro, nas quais o chavismo ganhou de lavada, em meio a denúncias de fraude e alta abstenção opositora. Os grandes partidos da MUD se marginalizaram das eleições municipais de 10 de dezembro.

Agora, enfrenta o desafio de recuperar a confiança de dois a três milhões de eleitores, perdida no último ano e meio, avaliou Félix Seijas, do Delphos. "A metade dos opositores pensa que Maduro vai sair por uma intervenção internacional (...). Estão buscando um herói", disse Seijas.

"Colocar um candidato único daria à oposição, em teoria, uma oportunidade muito melhor de derrotar Maduro. Mas o governo limitará severamente que candidato pode competir", advertiu Eurasia Group.

A MUD não tem um dirigente que entusiasme. Seus principais líderes, Henrique Capriles e Leopoldo López -em prisão domiciliar-, estão desabilitados. Mas o veterano deputado Henry Ramos Allup disse que a oposição tem "capacidade de eleger nas primárias um candidato em quatro semanas".

Nesta quarta-feira, o ex-governador de Lara (oeste), o opositor Henri Falcón, anunciou seu desejo de concorrer. "A oposição vai participar rachada entre os que vão apresentar candidato (único ou não) e os que pedirão" a abstenção, destacou o analista Luis Vicente León.

Regras eleitorais

As condições eleitorais e a data da votação eram os pontos principais das negociações entre governo e oposição que começaram no dia 1 de dezembro na República Dominicana. Maduro disse que a rodada seguinte seria em 28 e 29 de janeiro, mas a oposição não confirmou se participará.

"Com as mesmas condições eleitorais, rachas opositores, convocação à abstenção, sem opção alternativa (...), o resultado poderia ser o mesmo das eleições regionais", advertiu à AFP Luis Vicente León.

Apesar do pedido da oposição de uma renovação do CNE, Rodríguez afirmou que "estas eleições serão celebradas pelo sistema eleitoral mais transparente e eficiente do mundo".

Controle institucional

Segundo os analistas, Maduro se garante com o controle institucional e com o clientelismo. Sua influência se estende a todos os poderes salvo o Parlamento, de maioria opositora, mas declarou em "desacato" pela corte suprema. Os militares o apoiam.

Outro de seus pilares de sustentação é a Assembleia Constituinte, que a MUD não reconhece, assim como parte da comunidade internacional, que ordenou a essa coalizão e seus principais partidos a reinscrição no poder eleitoral depois de terem se afastado das eleições municipais.

Como paliativo para a escassez de alimentos, que chegou a 80%, Maduro lançou em 2016 um programa de venda de comida subsidiada, que segundo o governo beneficia seis milhões de famílias.

Além disso, o governo diz ter entregue o "carnê da pátria", cartão eletrônico para acessar programas sociais, a 16 milhões de pessoas. A MUD denuncia que ambos são mecanismos de "clientelismo" e controle social.

Maduro pediu na quarta-feira a criação de comitês de trabalhadores em "todos os setores", incluindo a estatal petroleira PDVSA, para que "se comprometam por escrito" a votar nele. As circunstâncias, avalia Seijas, levam a um cenário em que o chavismo tem a chance de, "sem sombra de dúvidas, vencer esta eleição".

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