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Maduro completa um mês à frente de uma Venezuela em crise

Para Magdaleno, Maduro "manterá a linha dura em relação à oposição, tentando fazer com que cometa erros como no passado"


	Paralelamente à crise política, que foi refletida de forma mais clara em uma briga entre deputados em 30 de abril na Assembleia Nacional, Maduro enfrenta uma situação econômica muito delicada
 (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

Paralelamente à crise política, que foi refletida de forma mais clara em uma briga entre deputados em 30 de abril na Assembleia Nacional, Maduro enfrenta uma situação econômica muito delicada (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2013 às 18h07.

O chavista Nicolás Maduro completa no domingo um mês à frente do governo da Venezuela, em um contexto de crise pós-eleitoral com a contestação dos resultados de 14 de abril, uma inflação crescente e uma escassez de bens básicos que o obriga a negociar com o setor privado para evitar o colapso econômico.

"Tem sido um mês difícil para Maduro. Por um lado, teve de lidar com o questionamento de sua legitimidade e, por outro lado, precisou enfrentar uma crise econômica que está causando desconforto e descontentamento", considera o cientista político John Magdaleno.

A tensão nas ruas durante as manifestações organizadas pelo líder da oposição Henrique Capriles, que não reconhece a vitória de Maduro com uma pequena vantagem nas eleições de 14 de abril (diferença de 1,49 ponto percentual), que causou, segundo o governo, doze mortes, levaram o herdeiro de Hugo Chávez a radicalizar ainda mais seu discurso.

Ele acusa a oposição e a "extrema-direita" dos Estados Unidos de estarem tramando um golpe. Além disso, ameaçou Capriles de prisão e ainda prendeu um líder político acusando-o de instigar uma rebelião.

"O plano é eliminar o povo, para fazer com que Chávez desapareça e a revolução bolivariana acabe", declarou Maduro na quinta-feira em um ato político em Barinas (oeste), estado natal do falecido líder.

Para Magdaleno, Maduro "manterá a linha dura em relação à oposição, tentando fazer com que cometa erros como no passado", explicou, referindo-se ao golpe de Estado em 2002, que derrubou Chávez por um breve período e à greve do petróleo que alguns meses depois paralisou o país.


Dessa forma, o presidente tenta manter a unidade dentro do chavismo, principalmente com a proximidade das próximas eleições, as municipais, que devem ser convocadas em breve.

"Peço para que se preparem unidos para a vitória", pediu Maduro na quinta-feira, prometendo "corrigir erros".

"Agora, a batata quente está do lado do governo, que enfrenta uma crise de falta de legitimidade", afirmou o opositor Capriles em uma entrevista exclusiva à AFP.

Capriles, governador de Miranda (norte), está à espera de uma resposta do Supremo Tribunal sobre o recurso que ele apresentou contra os resultados das eleições por supostas irregularidades.

Se essa iniciativa não der certo, pretende apelar para organismos internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Paralelamente à crise política, que foi refletida de forma mais clara em uma briga entre deputados em 30 de abril na Assembleia Nacional, Maduro enfrenta uma situação econômica muito delicada.

O anúncio feito pelo governo esta semana da importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico é um exemplo claro dos problemas de inflação, de escassez e falta de abastecimento que afligem os venezuelanos, em uma economia com um forte controle sobre os preços e altamente dependente do petróleo e das importações.

De acordo com dados do Banco Central venezuelano, a inflação subiu para 4,3% em abril, acumulando 12,5% até agora este ano, em meio a uma crise de escassez sem precedentes.

O governo já avisou que este ano vai ser difícil cumprir as metas de crescimento (6% do PIB) e de aumento dos preços (entre 14 e 16%).

"Imagine que o país com as maiores reservas de petróleo do planeta não tem papel higiênico", ironizou Capriles à AFP.


Enquanto acusa a direita de travar "uma guerra econômica para desestabilizar o país", Maduro é obrigado a mostrar sinais de abertura para o setor privado, muito marginalizado nos 14 anos do governo de Chávez.

"O governo pode tentar desviar a atenção de suas responsabilidades, mas, claramente, precisa aumentar a produção ou assumirá o custo total", ressalta o presidente da empresa Datanálisis, Luis Vicente León.

Dessa forma, Maduro se comprometeu a facilitar o acesso a moedas internacionais para importação e se reuniu com vários empresários para tentar estimular a produção nacional, incluindo Lorenzo Mendoza, diretor executivo da Polar, a maior produtora e distribuidora de alimentos, que Chávez ameaçou nacionalizar várias vezes.

"Eu disse 'você produzirá, eu trabalharei' para garantir todo o apoio de que necessitem", disse Maduro sobre a reunião com Mendoza.

"Os contatos com os empresários são um bom sinal, mas é preciso abrandar a retórica e partir para a prática, concretizando com fatos os acordos", alertou à AFP Jesus Casique, professor da Universidade de Preston.

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