Luta pela terra na América Latina ainda marcada pelo derramamento de sangue
A violência relacionada aos conflitos agrários é moeda corrente no Brasil, onde 1% da população controla 46% de suas extensas terras cultiváveis
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 23h08.
São Paulo - Os recentes assassinatos de dois caciques indígenas, que defendiam territórios ancestrais no Brasil e na Argentina do avanço da agricultura extensiva, são os últimos episódios de uma luta mais ampla pela terra na América Latina.
Este conflito, que em meados de novembro custou a vida dos líderes indígenas Nísio Gomes, do Brasil, e Cristian Ferreyra, da Argentina, coloca vários interesses opostos em jogo.
De um lado, as comunidades indígenas reivindicam o seu direito à posse das terras de seus antepassados, com exigências muitas vezes apoiadas por ecologistas. No outro lado estão as empresas transnacionais de gado ou agrícolas, os megaprojetos de mineração, os latifundiários ou os narcotraficantes lutam por grandes extensões de terra.
A violência relacionada aos conflitos agrários é moeda corrente no Brasil, onde 1% da população controla 46% de suas extensas terras cultiváveis.
Aos recentes assassinatos de Gomes e do guarani Teodoro Ricardi, no Mato Grosso do Sul (centro-oeste), somam-se outros oito desde maio nas regiões isoladas da selva amazônica do Pará e de Rondônia (norte), supostamente ordenados por coronéis.
Em 2010, 60 indígenas foram assassinados no Brasil, número igual aos de 2008 e de 2009, segundo o Conselho Indigenista Missionário, vinculado à Igreja Católica.
Este organismo não indica exatamente quantos assassinatos ocorreram em decorrência de conflitos pela terra, mas estabelece uma relação inequívoca, não só pelos ataques, e sim pelo aumento da tensão nas aldeias, onde os nativos vivem confinados e na pobreza por terem perdido a capacidade de se auto-sustentarem.
Na Argentina, onde a morte do líder indígena Ferreyra em Santiago del Estero (norte) foi atribuída a um empresário da soja, são exatamente as pressões das multinacionais agrícolas que desencadearam as maiores tensões.
A comunidade Qom, pertencente à etnia toba de Formosa (nordeste), chegou a bloquear em abril a principal avenida de Buenos Aires, exigindo a devolução de suas terras ancestrais. Meses antes, tinha denunciado perseguições e violações de seus direitos.
"Não temos água potável, não nos permitem pescar na lagoa, nem usar outros meios de subsistência. Passamos fome, frio. Também nos criaram problemas judiciais", disse em dezembro o cacique Félix Díaz, em uma entrevista coletiva à imprensa que contou com o apoio de vários intelectuais.
No Paraguai, os interesses das transnacionais estão no centro da disputa. No nordeste do país, os indígenas ayoreo lutam há uma década contra grandes empresas brasileiras, como a River Plate e a Yaguaraté SA.
As companhias que disputam o terreno com os indígenas, estimados em cerca de 110.000 no Paraguai, podem utilizar o nome de empresas de gado, criadas através de brechas na lei com apoio governamental, por meio do pagamento de subornos, denunciou na segunda-feira a União de Nativos Silvícolas do Paraguai.
Este problema também tem impacto ambiental: apenas em 2009 foram destruídos cerca de 70.000 hectares de selva, segundo estudos que monitoram via satélite o desflorestamento do Chaco ocidental.
Além do dano ambiental que este problema gera em toda a região, na Colômbia o conflito pela terra é marcado pelos interesses dos coronéis -52,2% das terras são latifúndios e estão nas mãos de 1,15% dos proprietários-, e pelas atuações do narcotráfico e das guerrilhas.
Embora os indígenas se digam neutros, nem os narcotraficantes nem os grupos armados os respeitam e tentam ocupar seus territórios para utilizá-los para cultivo ou para a exportação das drogas ou, simplesmente, com fins táticos.
Segundo a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), neste ano 73 indígenas foram assassinados. Em 2010 o número foi de 122 e calcula-se que entre 1999 e 2010 tenham morrido no total 2.582.
Na América Central as maiores lutas pela posse de terras ocorrem em Honduras, com cerca de cinquenta mortos em dois anos no Vale de Bajo Aguán (norte). Camponeses pobres brancos e coronéis que cultivam a palma africana disputam territórios em uma região onde agem os cartéis do narcotráfico.
São Paulo - Os recentes assassinatos de dois caciques indígenas, que defendiam territórios ancestrais no Brasil e na Argentina do avanço da agricultura extensiva, são os últimos episódios de uma luta mais ampla pela terra na América Latina.
Este conflito, que em meados de novembro custou a vida dos líderes indígenas Nísio Gomes, do Brasil, e Cristian Ferreyra, da Argentina, coloca vários interesses opostos em jogo.
De um lado, as comunidades indígenas reivindicam o seu direito à posse das terras de seus antepassados, com exigências muitas vezes apoiadas por ecologistas. No outro lado estão as empresas transnacionais de gado ou agrícolas, os megaprojetos de mineração, os latifundiários ou os narcotraficantes lutam por grandes extensões de terra.
A violência relacionada aos conflitos agrários é moeda corrente no Brasil, onde 1% da população controla 46% de suas extensas terras cultiváveis.
Aos recentes assassinatos de Gomes e do guarani Teodoro Ricardi, no Mato Grosso do Sul (centro-oeste), somam-se outros oito desde maio nas regiões isoladas da selva amazônica do Pará e de Rondônia (norte), supostamente ordenados por coronéis.
Em 2010, 60 indígenas foram assassinados no Brasil, número igual aos de 2008 e de 2009, segundo o Conselho Indigenista Missionário, vinculado à Igreja Católica.
Este organismo não indica exatamente quantos assassinatos ocorreram em decorrência de conflitos pela terra, mas estabelece uma relação inequívoca, não só pelos ataques, e sim pelo aumento da tensão nas aldeias, onde os nativos vivem confinados e na pobreza por terem perdido a capacidade de se auto-sustentarem.
Na Argentina, onde a morte do líder indígena Ferreyra em Santiago del Estero (norte) foi atribuída a um empresário da soja, são exatamente as pressões das multinacionais agrícolas que desencadearam as maiores tensões.
A comunidade Qom, pertencente à etnia toba de Formosa (nordeste), chegou a bloquear em abril a principal avenida de Buenos Aires, exigindo a devolução de suas terras ancestrais. Meses antes, tinha denunciado perseguições e violações de seus direitos.
"Não temos água potável, não nos permitem pescar na lagoa, nem usar outros meios de subsistência. Passamos fome, frio. Também nos criaram problemas judiciais", disse em dezembro o cacique Félix Díaz, em uma entrevista coletiva à imprensa que contou com o apoio de vários intelectuais.
No Paraguai, os interesses das transnacionais estão no centro da disputa. No nordeste do país, os indígenas ayoreo lutam há uma década contra grandes empresas brasileiras, como a River Plate e a Yaguaraté SA.
As companhias que disputam o terreno com os indígenas, estimados em cerca de 110.000 no Paraguai, podem utilizar o nome de empresas de gado, criadas através de brechas na lei com apoio governamental, por meio do pagamento de subornos, denunciou na segunda-feira a União de Nativos Silvícolas do Paraguai.
Este problema também tem impacto ambiental: apenas em 2009 foram destruídos cerca de 70.000 hectares de selva, segundo estudos que monitoram via satélite o desflorestamento do Chaco ocidental.
Além do dano ambiental que este problema gera em toda a região, na Colômbia o conflito pela terra é marcado pelos interesses dos coronéis -52,2% das terras são latifúndios e estão nas mãos de 1,15% dos proprietários-, e pelas atuações do narcotráfico e das guerrilhas.
Embora os indígenas se digam neutros, nem os narcotraficantes nem os grupos armados os respeitam e tentam ocupar seus territórios para utilizá-los para cultivo ou para a exportação das drogas ou, simplesmente, com fins táticos.
Segundo a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), neste ano 73 indígenas foram assassinados. Em 2010 o número foi de 122 e calcula-se que entre 1999 e 2010 tenham morrido no total 2.582.
Na América Central as maiores lutas pela posse de terras ocorrem em Honduras, com cerca de cinquenta mortos em dois anos no Vale de Bajo Aguán (norte). Camponeses pobres brancos e coronéis que cultivam a palma africana disputam territórios em uma região onde agem os cartéis do narcotráfico.