Londres volta a ameaçar suspender autonomia da Irlanda do Norte
O ultimato é de que, se não houver acordo entre as partes, o Executivo britânico poderá convocar segundas eleições ou tomar de volta o governo da província
EFE
Publicado em 12 de abril de 2017 às 10h45.
Dublin - O governo britânico afirmou nesta quarta-feira que suspenderá autonomia da Irlanda do Norte ou convocará novas eleições se os partidos da região não alcançarem a formação de um Executivo de poder compartilhado depois da Semana Santa.
O ministro do Reino Unido para a província, James Brokenshire, lançou esse ultimato ao término de uma rodada de conversas que não aproximou as posições das principais formações norte-irlandesas, seis semanas depois das eleições de 2 de março.
"Acredito que as principais diferenças entre os partidos são superáveis mas, se não houver Governo no começo de maio, terei que adotar medidas para assegurar a estabilidade política de Irlanda do Norte", disse Brokenshire.
Embora nenhuma das opções seja "a desejável", o Executivo britânico será obrigado a convocar "segundas eleições" ou a retomar o governo da província desde Londres, advertiu.
O pró-britânico Partido Democrático Unionista (DUP) e o nacionalista Sinn Féin, os mais votados nas passadas eleições, declararam que estas negociações foram construtivas, mas estão longe de alcançar unidade em questões como política linguística do futuro governo de poder compartilhado entre protestantes e católicos.
Também há divergências relacionadas com o legado do passado conflito, que afeta a investigação de crimes não resolvidos cometidos pelos grupos terroristas e as forças de segurança.
Ambas formações já ultrapassaram a data limite de 27 de março e a de amanhã para formar Governo, pois os nacionalistas insistem agora que não retornarão a um Executivo autônomo para manter a "ordem estabelecida" durante os últimos anos e que estão dispostos a comparecer de novo às urnas.
O Sinn Féin, antigo braço político do já inativo Exército Republicano Irlandês (IRA), entende que outras eleições poderiam converter o partido na primeira força da região, depois que as passadas eleições o deixaram a apenas uma cadeira do DUP.
"Todos os partidos participaram ativamente e fizeram alguns progressos (...) Não obstante, ainda não há acordo em um número de assuntos pequenos, mas significativos", lembrou hoje Brokenshire, que foi acompanhado nestas negociações pelo ministro de Assuntos Exteriores da República de Irlanda, Charlie Flanagan.
A nova crise que afeta a Irlanda do Norte começou quando Martin McGuinness, já falecido, demitiu em janeiro de seu posto de adjunta a ex-ministra principal e líder do DUP, Arlene Foster, por um escândalo financeiro na política de energias renováveis do anterior Executivo.
As eleições realizadas depois afiançaram a posição maioritária de DUP e Sinn Féin, ao mesmo tempo que afastou o Partido Unionista do Ulster (UUP), o nacionalista Partido Social democrata e Trabalhista (SDLP) e o multiconfessional Partido Aliança (AP).
Essas três formações abandonaram o Governo de poder compartilhado em 2016, mas consideram agora a possibilidade de retornar ao futuro Executivo e sua participação nas presentes negociações poderia servir para aproximar posições, segundo destacou hoje Flanagan.
"Posso dizer com confiança que houve progressos, sobretudo desde que este processo se tornou mais inclusivo e estruturado nas últimas duas semanas com a participação dos cinco partidos", explicou o chefe da diplomacia irlandesa.