Mundo

Líderes rebeldes da Ucrânia tomam posse

Kiev denunciou as eleições como uma farsa e que alega ter violado o plano de paz para pôr fim à guerra

Líder separatista Alexander Zakharchenko durante cerimônia de posse em Donetsk (Maxim Zmeyev/Reuters)

Líder separatista Alexander Zakharchenko durante cerimônia de posse em Donetsk (Maxim Zmeyev/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2014 às 16h47.

Donetsk - Separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia realizaram cerimônias de posse para seus líderes nesta terça-feira, depois de uma eleição que Kiev denunciou como uma farsa e que alega ter violado o plano de paz para pôr fim à guerra que já matou mais de quatro mil pessoas.

Alertando para a ameaça de uma nova ofensiva dos rebeldes apoiados por Moscou, o líder ucraniano disse que unidades recém-formadas do Exército serão enviadas para defender uma série de cidades do leste.

O militar mais graduado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), um general dos Estados Unidos, declarou que agora existem condições para se criar um “conflito congelado”, termo que o Ocidente usa para descrever regiões rebeldes nascidas de ex-países soviéticos que Moscou protege com suas tropas.

As cerimônias de posse no leste da Ucrânia aconteceram enquanto dezenas de milhares de pessoas marchavam pelas ruas de Moscou no "Dia da Unidade", feriado nacionalista que comemora uma batalha do século 17 ressuscitado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para substituir as comemorações da revolução bolchevique dos tempos soviéticos.

A Ucrânia foi muito mencionada nos discursos que marcaram a ocasião.

A maior parte dos combates no leste ucraniano foi interrompida em setembro, quando Kiev concordou com uma trégua depois de ver suas forças repelidas pelo o que a capital e países ocidentais dizem ter sido uma incursão de colunas de blindados com soldados russos.

Mas a frente de batalha continua perigosa e tensa, e os dois lados se queixam de disparos quase todos os dias. Fogo de artilharia da direção dos destroços do aeroporto internacional de Donetsk, ainda sob controle do governo, reverberou durante a posse dos líderes rebeldes na cidade.

Moscou afirma que a eleição de Alexander Zakharchenko e Igor Plotnitsky como líderes das “Repúblicas Populares” de Donetsk e Luhansk, que juntas chamam a si mesmas de “nova Rússia”, significa que Kiev deve agora negociar diretamente com eles.

O governo central ucraniano sempre rejeitou a ideia, descrevendo os rebeldes como “terroristas” ou “bandidos” apoiados pela Rússia e sem legitimidade.

O temor ocidental é que Moscou, que já anexou a península da Crimeia em março, agora exerça controle sobre a região industrial de Donbass, também no leste da Ucrânia, em definitivo, como faz há duas décadas em partes da Moldávia e da Geórgia que se separaram após o colapso da União Soviética.

“Temo terem surgido as condições que poderiam levar... a um conflito congelado”, declarou Philip Breedlove, general da força aérea dos EUA e autoridade de mais alta patente da Otan, em Washington.

A fronteira russa com o leste ucraniano se enfraqueceu a ponto de ter se tornado completamente sem controle, enquanto a linha dentro da Ucrânia que separa o governo dos territórios rebeldes se aprofundou, disse.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, reuniu-se com seus chefes de segurança e disse continuar comprometido com uma solução pacífica para o conflito, embora tenha declarado que o plano de paz e a trégua firmados na capital bielorrussa, Minsk, em setembro, foram violados pela Rússia e pelos separatistas.

Kiev postula que os acordos de Minsk só preveem que as eleições de autoridades locais no leste sejam realizadas de acordo com a lei ucraniana, e não através de votações independentes para instalar líderes de entidades separatistas que buscam maior proximidade, ou até união, com Moscou.

O Ocidente e Kiev também afirmam que a Rússia continua fornecendo apoio militar para os rebeldes.

Na posse em um teatro de Donetsk, o líder eleito Zakharchenko prometeu “servir honestamente aos interesses do povo da República Popular de Donetsk”.

Já Putin levou adiante a campanha da Rússia na Ucrânia, apesar das sanções econômicas europeias e norte-americanas.

“Queridos amigos, este ano tivemos que encarar desafios difíceis. E como já aconteceu mais de uma vez em nossa história, nosso povo reagiu se consolidando e mostrando ímpeto moral e espiritual”, declarou Putin em uma recepção de gala após o desfile do “Dia da Unidade”.

"O desejo de justiça, de verdade, sempre foi honrado na Rússia. E ameaças não irão nos forçar a abandonar nossos valores e ideais."

Nas últimas semanas, Rússia e Ucrânia chegaram a um acordo provisório sobre o fornecimento de gás russo, o que permitirá aos dois países retomar a parte mais importante de suas relações econômicas e trazer alguma estabilidade ao cenário atual, mesmo sem resolverem o conflito separatista.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCrise políticaEleiçõesEuropaRússiaUcrânia

Mais de Mundo

Israel reconhece que matou líder do Hamas em julho, no Irã

ONU denuncia roubo de 23 caminhões com ajuda humanitária em Gaza após bombardeio de Israel

Governo de Biden abre investigação sobre estratégia da China para dominar indústria de chips

Biden muda sentenças de 37 condenados à morte para penas de prisão perpétua