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Kony sobrevive ao ano em que se tornou conhecido no mundo

Líder da guerrilha Exército de Resistência do Senhor segue sendo procurado após o fim do ano no qual uma polêmica campanha de ONG que divulgou seu histórico de crimes

Joseph Kony: guerrilheiro estaria nos arredores da cidade de Obo, que faz fronteira com o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de janeiro de 2013 às 08h12.

Campala - Joseph Kony, líder da guerrilha de origem ugandense Exército de Resistência do Senhor (LRA, por sua sigla em inglês), segue sendo procurado após o fim de 2012, ano no qual uma polêmica campanha de uma ONG americana divulgou mundialmente sua imagem e histórico de crimes.

Segundo a imprensa da República Centro-Africana (RCA), Kony está atualmente nos arredores da cidade de Obo, que faz fronteira com o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo (RDC).

A população da região, segundo o jornal "Le Confidente", evita se afastar da cidade devido às notícias de ataques, o que vem criando um estado de terror nos moradores.

Nem os esforços do exército ugandense nem a ajuda oferecida pelos Estados Unidos para capturar o rebelde (em 2011 os EUA enviaram 100 unidades especiais com esse objetivo) deram resultado até agora, em um conflito muito mais complexo que o mostrado pela simplista campanha da ONG Invisivel Children.

O vídeo "Kony 2012", bastante criticado em Uganda e que pretendia divulgar ao mundo a imagem do rebelde (procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra desde 2005), foi visto mais de 100 milhões de vezes, a maioria durante os primeiros dias da campanha, no início de março.


Kony, no entanto, que com seu grupo, desde o final dos anos 80 assassinou, mutilou, sequestrou e estuprou milhares de pessoas, a maioria crianças, continuou sua atividade.

Segundo uma ferramenta criada pela ONG, chamada "Rastreador da Crise do LRA", que tem como objetivo registrar a atividade do grupo rebelde, neste ano a organização matou 50 civis e sequestrou 427 pessoas, enquanto 372 foram libertadas.

"A luta começou para defender a população acholi das represálias do presidente de Uganda, Yoweri Museveni", disse à Agência Efe Kenneth Banya, antigo conselheiro de Kony e ex-número três do LRA por 18 anos. Museveni contou ainda que foi recrutado ao grupo pela força.

No final dos anos 80, Kony aproveitou o que sobrou do Movimento do Espírito Santo, criado por uma tia distante sua, Alice Lakwena, e que foi derrotado por Museveni.

Alice Lakwena, da mesma forma que Kony faria depois, misturava religião com política. Inicialmente, o líder do LRA lutava com o suposto objetivo de instaurar um Estado teocrático em Uganda.

Até mesmo poderes sobrenaturais são atribuídos a Kony, que chegou a ser quase capturado por várias ocasiões, segundo fontes militares ugandenses.

Várias ONGs africanas e internacionais publicaram no início de dezembro um relatório no qual se alertava que "seis meses depois da ONU iniciar uma estratégia para acabar com 26 anos de violência do LRA", o plano não deu nenhum resultado significativo.

"A ONU, em associação com a União Africana e os doadores internacionais, deveria liderar os esforços para acabar com o conflito do LRA", disse no texto John Bradshaw, diretor do Projeto Enough, uma das ONGs que elaborou o documento.


Em sua opinião, é preciso mais tropas, materiais e compromisso para acabar com o problema. No entanto, vários analistas concordam que Uganda e outros governos dos países afetados desperdiçaram oportunidades de terminar com o conflito para poder seguir obtendo apoio econômico e militar de doadores internacionais, cujos fundos estariam sendo desviados.

Além disso, vários relatórios, entre eles do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, dizem que o Exército de Uganda também é responsável pela violência, saques e abusos sexuais.

O porta-voz do exército ugandense, Feliz Kulayigye, explicou à Efe que a captura de Kony é muito complicada, pois é realizada em plena floresta, com riscos de doenças, rios infestados de crocodilos e povos nômades que dificultam a busca pelo LRA.

Além disso, Kulayigye alertou que a ameaça de Kony poderia voltar com força já que "os recursos destinados para prendê-lo não aumentam, mas diminuem".

A tudo isso se soma a atual crise na RCA, onde uma coalizão rebelde pegou em armas para lutar contra o governo e ameaça derrubar o presidente do país, François Bozize.

"Estamos preocupados com a situação. Não sabemos se as conversas de paz entre governo e rebeldes centro-africanos resolverão os problemas e poderemos seguir com nossas operações", admitiu o porta-voz militar.

"Mas se os rebeldes derrubarem o governo e pedirem para que a gente saia do país, não teremos opção", disse Kulayigye.

Enquanto isso, Kony segue em liberdade, vagueando pela República Centro-Africana e a crise já se prolonga há anos.

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Campala - Joseph Kony, líder da guerrilha de origem ugandense Exército de Resistência do Senhor (LRA, por sua sigla em inglês), segue sendo procurado após o fim de 2012, ano no qual uma polêmica campanha de uma ONG americana divulgou mundialmente sua imagem e histórico de crimes.

Segundo a imprensa da República Centro-Africana (RCA), Kony está atualmente nos arredores da cidade de Obo, que faz fronteira com o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo (RDC).

A população da região, segundo o jornal "Le Confidente", evita se afastar da cidade devido às notícias de ataques, o que vem criando um estado de terror nos moradores.

Nem os esforços do exército ugandense nem a ajuda oferecida pelos Estados Unidos para capturar o rebelde (em 2011 os EUA enviaram 100 unidades especiais com esse objetivo) deram resultado até agora, em um conflito muito mais complexo que o mostrado pela simplista campanha da ONG Invisivel Children.

O vídeo "Kony 2012", bastante criticado em Uganda e que pretendia divulgar ao mundo a imagem do rebelde (procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra desde 2005), foi visto mais de 100 milhões de vezes, a maioria durante os primeiros dias da campanha, no início de março.


Kony, no entanto, que com seu grupo, desde o final dos anos 80 assassinou, mutilou, sequestrou e estuprou milhares de pessoas, a maioria crianças, continuou sua atividade.

Segundo uma ferramenta criada pela ONG, chamada "Rastreador da Crise do LRA", que tem como objetivo registrar a atividade do grupo rebelde, neste ano a organização matou 50 civis e sequestrou 427 pessoas, enquanto 372 foram libertadas.

"A luta começou para defender a população acholi das represálias do presidente de Uganda, Yoweri Museveni", disse à Agência Efe Kenneth Banya, antigo conselheiro de Kony e ex-número três do LRA por 18 anos. Museveni contou ainda que foi recrutado ao grupo pela força.

No final dos anos 80, Kony aproveitou o que sobrou do Movimento do Espírito Santo, criado por uma tia distante sua, Alice Lakwena, e que foi derrotado por Museveni.

Alice Lakwena, da mesma forma que Kony faria depois, misturava religião com política. Inicialmente, o líder do LRA lutava com o suposto objetivo de instaurar um Estado teocrático em Uganda.

Até mesmo poderes sobrenaturais são atribuídos a Kony, que chegou a ser quase capturado por várias ocasiões, segundo fontes militares ugandenses.

Várias ONGs africanas e internacionais publicaram no início de dezembro um relatório no qual se alertava que "seis meses depois da ONU iniciar uma estratégia para acabar com 26 anos de violência do LRA", o plano não deu nenhum resultado significativo.

"A ONU, em associação com a União Africana e os doadores internacionais, deveria liderar os esforços para acabar com o conflito do LRA", disse no texto John Bradshaw, diretor do Projeto Enough, uma das ONGs que elaborou o documento.


Em sua opinião, é preciso mais tropas, materiais e compromisso para acabar com o problema. No entanto, vários analistas concordam que Uganda e outros governos dos países afetados desperdiçaram oportunidades de terminar com o conflito para poder seguir obtendo apoio econômico e militar de doadores internacionais, cujos fundos estariam sendo desviados.

Além disso, vários relatórios, entre eles do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, dizem que o Exército de Uganda também é responsável pela violência, saques e abusos sexuais.

O porta-voz do exército ugandense, Feliz Kulayigye, explicou à Efe que a captura de Kony é muito complicada, pois é realizada em plena floresta, com riscos de doenças, rios infestados de crocodilos e povos nômades que dificultam a busca pelo LRA.

Além disso, Kulayigye alertou que a ameaça de Kony poderia voltar com força já que "os recursos destinados para prendê-lo não aumentam, mas diminuem".

A tudo isso se soma a atual crise na RCA, onde uma coalizão rebelde pegou em armas para lutar contra o governo e ameaça derrubar o presidente do país, François Bozize.

"Estamos preocupados com a situação. Não sabemos se as conversas de paz entre governo e rebeldes centro-africanos resolverão os problemas e poderemos seguir com nossas operações", admitiu o porta-voz militar.

"Mas se os rebeldes derrubarem o governo e pedirem para que a gente saia do país, não teremos opção", disse Kulayigye.

Enquanto isso, Kony segue em liberdade, vagueando pela República Centro-Africana e a crise já se prolonga há anos.

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