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Kamala Harris: a vice que pode salvar o Partido Democrata

Senadora representa a renovação dos democratas; para o mercado, ela é uma representante da ala moderada -- e tem tudo para ser candidata em 2024

Kamala Harris: a primeira mulher negra que concorre em uma eleição americana (Alex Wong/Reuters)

Kamala Harris: a primeira mulher negra que concorre em uma eleição americana (Alex Wong/Reuters)

CA

Carla Aranha

Publicado em 11 de agosto de 2020 às 20h17.

Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 16h01.

A escolha da senadora Kamala Harris, de 55 anos, como vice de Joe Biden nas eleições americanas talvez tenha sido uma das decisões mais bem pensadas (e acertadas) do Partido Democrata nos últimos tempos, na visão de economistas e analistas políticos. Não que o eleitor americano preste muita atenção no vice. “Culturalmente, todas as luzes estão voltadas para o candidato a presidente”, diz o economista Mauricio Moura, pesquisador da George Washington University na área de políticas públicas e fundador da Ideia Big Data, empresa de pesquisas políticas.

Mas com Kamala na chapa dos democratas a candidatura de Biden ganha um novo frescor, o que pode mudar inclusive a dinâmica das eleições de 2024. Com 77 anos, Biden dificilmente disputaria mais uma eleição, quebrando o costume do presidente americano tentar se reeleger. “Já Kamala, que sinaliza uma renovação importante no partido, teria condições de angariar votos”, diz Moura.

Em um momento de grande polarização política nos Estados Unidos e manifestações contra o racismo, a senadora também representa uma escolha política importante. Ela é a primeira mulher negra a participar de uma eleição presidencial. “Além disso, Kamala está acostumada ao processo público, já que foi pré-candidata nas primárias”, afirma Moura. Eis aí outro ponto a favor.

Para o mercado, Kamala, uma senadora de visão moderada, é uma escolha bem mais palatável do que Elizabeth Warren, senadora por Massachusetts. Warren está situada à esquerda no espectro político. Ela defende pautas como o aumento dos impostos para os mais ricos e uma taxação de 7% sobre cada dólar gerado de lucro em empresas com faturamento superior a 100 milhões de dólares por ano.

“De qualquer modo, a eleição deverá ser bem disputada”, diz Moura. Apesar de Biden estar alguns pontos à frente nas pesquisas, até o dia 4 de novembro, quando será escolhido o novo presidente, tudo pode mudar. Tudo indica que será uma campanha bem diferente. Para começar, os comícios, uma tradição da corrida presidencial americana, ficarão de escanteio por causa do coronavírus. Não se sabe também quantos eleitores terão coragem de sair de casa para votar.

Em 33 Estados, os americanos podem votar pelo correio, o que aumenta a possiblidade de judicialização do resultado eleitoral. É de se esperar que o presidente Donald Trump peça uma recontagem dos votos caso não seja o vencedor.

Sem os comícios, os debates na televisão deverão ganhar mais força – e aí a balança pode pender mais para o lado de Trump. Biden é conhecido por não conseguir manter uma boa oratória. Não foram poucas as vezes em que ele se engasgou com as palavras ao vivo. O Partido Republicano não cansa de repetir que o candidato é idoso e talvez não tenha perfeito domínio sobre o modo como se expressa.

Até novembro, também é difícil prever em que estágio estará a pandemia do coronavírus nos Estados Unidos. Hoje, o país é líder mundial no número de casos – mais de 5 milhões de americanos já contraíram o vírus. “É provável que Trump precise explicar o grande aumento do número de casos”, afirma Moura. “Mas ainda é muito difícil prever a evolução da doença, portanto tudo está em aberto”.

 

 

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