Julgamento de ex-presidente do Egito hipnotiza mundo árabe
O homem que governou o país por 30 anos foi levado de cadeira de rodas até uma cela montada dentro do tribunal
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2011 às 22h42.
Cairo - O ex-presidente Hosni Mubarak, acusado de corrupção e envolvimento na morte de manifestantes, começou a ser julgado na quarta-feira, para alegria dos que participaram da sua derrubada, e preocupação de outros ditadores do mundo árabe.
Em uma cena que os egípcios considerariam inimaginável há apenas oito meses, o homem que os governou por 30 anos foi levado de cadeira de rodas até uma cela montada dentro do tribunal, onde se deitou num leito hospitalar para escutar as acusações que podem lhe acarretar a pena de morte.
Ele é o primeiro ex-líder árabe a ser julgado presencialmente desde o início das rebeliões que ficaram conhecidas como "Primavera Árabe." O tunisiano Zine al Abidine Ben Ali, também deposto neste ano, fugiu para a Arábia Saudita e foi julgado e condenado à revelia por casos de corrupção.
Os dois filhos de Mubarak, Alaa e Gamal, também são réus e estavam na cela, segurando exemplares do Alcorão. Entre os acusados no processo estão ainda o outrora poderoso ministro do Interior Habib al-Adli e seis ex-funcionários dos serviços de segurança
"Nego inteiramente todas essas acusações", disse o fragilizado Mubarak, de 83 anos, depois de o promotor acusá-lo de pretender matar manifestantes pacíficos durante os 18 dias de rebelião popular que culminaram na sua derrubada, em 11 de fevereiro, e durante toda a década anterior.
O promotor também acusou Mubarak de corrupção e desperdício de verbas públicas, e disse que o ex-presidente autorizou Adli para que suas forças usassem munição real na repressão a manifestações.
Cerca de 850 pessoas foram mortas durante os protestos deste ano. Um advogado de parentes das vítimas pediu a execução de Adli.
Uma junta militar encabeçada pelo marechal Mohamed Husein Tantawi, que foi por vários anos ministro da Defesa de Mubarak, assumiu o poder no Egito e prometeu uma transição para a democracia no país, o mais populoso do mundo árabe.
Advogados de defesa pediram que Tantawi, o ex-chefe de inteligência Omar Suleiman e 1.600 outras pessoas deponham no processo, o que pode gerar constrangimentos para os governantes militares do Egito.
Os militares vêm tentando se distanciar de Mubarak, mas sem conseguir silenciar os críticos que os acusam de tentar adiar o julgamento e blindar seu ex-comandante.
Em julho, manifestantes passaram três semanas acampados na praça Tahrir, no centro do Cairo, exigindo um rápido julgamento de Mubarak e um ritmo mais veloz nas reformas democráticas.
Após a audiência, o juiz Ahmed Refaat disse que Mubarak deveria ser levado para um hospital do Cairo, e não para o hospital de Sharm el-Sheikh, balneário do mar Vermelho onde ele estava desde abril.
O magistrado disse que Mubarak deverá assistir à próxima audiência do seu processo, no dia 15, e que no caso de Adli os trabalhos serão retomados na quinta-feira.
Repercussão no mundo árabe
O julgamento, televisionado para o mundo todo, hipnotizou os egípcios e outros árabes -- a maioria dos quais passou a maior parte das suas vidas sob sistemas autoritários que foram derrubados ou abalados pela "Primavera Árabe."
"Fico tão feliz, sinto que o amanhã será melhor, e que o próximo presidente sabe o que vai lhe acontecer se ele se voltar contra o povo", disse Ahmed Amer, de 30 anos, funcionário da empresa de águas, que participava da multidão que assistiu à audiência por um telão montado em frente ao tribunal.
No resto do mundo árabe, ativistas pró-democracia também se empolgaram ao verem Mubarak no banco dos réus.
"O julgamento sem dúvida inspira os sírios ... a verem os implicados no derramamento de sangue dos sírios e no furto das riquezas da Síria sendo colocados atrás das grades", disse Imadeddin al-Rashid, professor de Direito Islâmico que fugiu da Síria, onde o regime de Bashar al-Assad realiza uma violenta repressão a protestos.
Pela Internet, um ativista barenita que se identifica como Online Bahrain se dirigiu a outros déspotas da região: "Caro ditador árabe, olhe bem para Mubarak. Ele era tão poderoso quanto você. O seu tempo terá acabado se você não mudar."
Mas a imagem fragilizada de Mubarak também lhe valeu alguma simpatia. "Oh, Mubarak, mantenha a cabeça erguida", gritava um pequeno grupo de simpatizantes em frente ao tribunal. Perto dali, manifestantes anti-Mubarak respondiam: "Levante sua voz, a liberdade não vai morrer."
Cairo - O ex-presidente Hosni Mubarak, acusado de corrupção e envolvimento na morte de manifestantes, começou a ser julgado na quarta-feira, para alegria dos que participaram da sua derrubada, e preocupação de outros ditadores do mundo árabe.
Em uma cena que os egípcios considerariam inimaginável há apenas oito meses, o homem que os governou por 30 anos foi levado de cadeira de rodas até uma cela montada dentro do tribunal, onde se deitou num leito hospitalar para escutar as acusações que podem lhe acarretar a pena de morte.
Ele é o primeiro ex-líder árabe a ser julgado presencialmente desde o início das rebeliões que ficaram conhecidas como "Primavera Árabe." O tunisiano Zine al Abidine Ben Ali, também deposto neste ano, fugiu para a Arábia Saudita e foi julgado e condenado à revelia por casos de corrupção.
Os dois filhos de Mubarak, Alaa e Gamal, também são réus e estavam na cela, segurando exemplares do Alcorão. Entre os acusados no processo estão ainda o outrora poderoso ministro do Interior Habib al-Adli e seis ex-funcionários dos serviços de segurança
"Nego inteiramente todas essas acusações", disse o fragilizado Mubarak, de 83 anos, depois de o promotor acusá-lo de pretender matar manifestantes pacíficos durante os 18 dias de rebelião popular que culminaram na sua derrubada, em 11 de fevereiro, e durante toda a década anterior.
O promotor também acusou Mubarak de corrupção e desperdício de verbas públicas, e disse que o ex-presidente autorizou Adli para que suas forças usassem munição real na repressão a manifestações.
Cerca de 850 pessoas foram mortas durante os protestos deste ano. Um advogado de parentes das vítimas pediu a execução de Adli.
Uma junta militar encabeçada pelo marechal Mohamed Husein Tantawi, que foi por vários anos ministro da Defesa de Mubarak, assumiu o poder no Egito e prometeu uma transição para a democracia no país, o mais populoso do mundo árabe.
Advogados de defesa pediram que Tantawi, o ex-chefe de inteligência Omar Suleiman e 1.600 outras pessoas deponham no processo, o que pode gerar constrangimentos para os governantes militares do Egito.
Os militares vêm tentando se distanciar de Mubarak, mas sem conseguir silenciar os críticos que os acusam de tentar adiar o julgamento e blindar seu ex-comandante.
Em julho, manifestantes passaram três semanas acampados na praça Tahrir, no centro do Cairo, exigindo um rápido julgamento de Mubarak e um ritmo mais veloz nas reformas democráticas.
Após a audiência, o juiz Ahmed Refaat disse que Mubarak deveria ser levado para um hospital do Cairo, e não para o hospital de Sharm el-Sheikh, balneário do mar Vermelho onde ele estava desde abril.
O magistrado disse que Mubarak deverá assistir à próxima audiência do seu processo, no dia 15, e que no caso de Adli os trabalhos serão retomados na quinta-feira.
Repercussão no mundo árabe
O julgamento, televisionado para o mundo todo, hipnotizou os egípcios e outros árabes -- a maioria dos quais passou a maior parte das suas vidas sob sistemas autoritários que foram derrubados ou abalados pela "Primavera Árabe."
"Fico tão feliz, sinto que o amanhã será melhor, e que o próximo presidente sabe o que vai lhe acontecer se ele se voltar contra o povo", disse Ahmed Amer, de 30 anos, funcionário da empresa de águas, que participava da multidão que assistiu à audiência por um telão montado em frente ao tribunal.
No resto do mundo árabe, ativistas pró-democracia também se empolgaram ao verem Mubarak no banco dos réus.
"O julgamento sem dúvida inspira os sírios ... a verem os implicados no derramamento de sangue dos sírios e no furto das riquezas da Síria sendo colocados atrás das grades", disse Imadeddin al-Rashid, professor de Direito Islâmico que fugiu da Síria, onde o regime de Bashar al-Assad realiza uma violenta repressão a protestos.
Pela Internet, um ativista barenita que se identifica como Online Bahrain se dirigiu a outros déspotas da região: "Caro ditador árabe, olhe bem para Mubarak. Ele era tão poderoso quanto você. O seu tempo terá acabado se você não mudar."
Mas a imagem fragilizada de Mubarak também lhe valeu alguma simpatia. "Oh, Mubarak, mantenha a cabeça erguida", gritava um pequeno grupo de simpatizantes em frente ao tribunal. Perto dali, manifestantes anti-Mubarak respondiam: "Levante sua voz, a liberdade não vai morrer."