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Jovem apaixonada por jihadista pode ser presa por terrorismo

Varvara Karaulova se apresenta a um tribunal militar há uma semana por ter tentado, há um ano, viajar para a Síria para encontrar o namorado, membro do EI


	Varvara Karaulova: detida na Turquia quando se preparava para cruzar a fronteira síria, a jovem pode ser condenada a até cinco anos de prisão
 (Divulgação / Facebook)

Varvara Karaulova: detida na Turquia quando se preparava para cruzar a fronteira síria, a jovem pode ser condenada a até cinco anos de prisão (Divulgação / Facebook)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2016 às 17h27.

Em meio a policiais com coletes à prova de balas, uma jovem de 20 anos com rosto de menina e cabelos presos em uma trança, segura alguns manuscritos nas mãos cerradas. Apaixonada por um jihadista, ela pode acabar na prisão por terrorismo.

Estudante de Filosofia na respeitada Universidade Pública de Moscou (MGU), Varvara Karaulova se apresenta a um tribunal militar há uma semana por ter tentado, há um ano, viajar para a Síria para encontrar o namorado, membro do grupo Estado Islâmico (EI).

Detida na Turquia quando se preparava para cruzar a fronteira síria, a jovem pode ser condenada a até cinco anos de prisão por ter tentando se unir a uma "organização considerada terrorista pelas leis russas".

"Não me uni a nenhuma (organização), não sou uma terrorista e nunca quis me transformar em uma", declarou Karaulova no início do julgamento, em 5 de outubro, segundo a agência de imprensa russa Interfax.

Enquanto os julgamentos contra aspirantes a jihadistas se multiplicam na Rússia, alguns até com penas severas, o caso de Karaulova é uma exceção: a maioria dos detidos é de origem caucasiana, enquanto ela nasceu e cresceu em Moscou.

Para seu advogado, o Dr. Serguei Badamchine, seu julgamento vai servir como exemplo e desincentivar mulheres jovens e apaixonadas por jihadistas, como Varvara, a viajarem para a Síria.

"Evidentemente, é o simulacro de um julgamento", denunciou seu advogado em entrevista à AFP. "Fizeram vítima uma pessoa que não tem nada a ver com atividades terroristas". "Por que ela? Não sei", acrescentou.

Aluna exemplar

Varvara Karaulova, que usou o nome de Alexandra Ivanovna para evitar o assédio da imprensa russa, cresceu em uma família de classe média em um bairro residencial conhecido como "Chelsea" de Moscou.

Aluna exemplar, cursava a MGU e na universidade começou a se interessar pelo Islamismo e decide usar o véu. Discreta, passou despercebida até seu desaparecimento, em 27 de maio de 2015. Seu pai voltou a saber dela quando foi presa juntamente com outras mulheres em Kilis, Turquia, ponto de passagem obrigatório para quem quer cruzar para a Síria.

Repatriada para a Rússia, no início foi libertada porque os investigadores tinham certeza de que não cometeu nenhum delito, mas seis meses depois foi novamente detida e presa na prisão Lefortovo.

Durante seu julgamento, que deve acabar em duas semanas, Varvara fala pouco, mas sempre com uma voz clara. Lê suas anotações e por vezes folheia o Código Penal, sentada em uma jaula envidraçada da sala de audiências, como é tradicional na Rússia. Se nega a responder as perguntas sobre suas convicções religiosas. Mas não usa o véu, usa maquiagem e vestidos coloridos.

Varvara Karaulova nunca se encontrou com o homem que desejava ver na Síria. Na internet ele usa o nome Vlad, Adam ou Artur Sokolov. Segundo os investigadores, se trata de Airat Samatov, um combatente do EI. Durante vários meses a jovem manteve conversas online com esse homem, se apaixonou e aceitou sua proposta de casamento.

"Ninguém sabia o que estava acontecendo. Nem ela, nem seus pais, nem seus amigos", diz o Dr. Badamchin, que fala de uma pessoa fechada e reservada. "Era seu primeiro amor", assegura.

A defesa apresentou testemunhas, entre as quais várias mulheres que foram detidas ao mesmo tempo que a estudante em Kilis e depois libertadas pelas autoridades desde que chegaram à Rússia. Uma delas, Regina Velimetova, se lembra quando Varvara estava a ponto de cruzar a fronteira. "Chorava e sentia falta dos pais", diz em uma videoconferência. "Conheceu um homem que vivia na Síria e que propôs casamento. Tinha se apaixonado", acrescenta, enquanto arruma seu hijab.

Mulheres como Varvara "querem se casar como diz a sharia", a lei islâmica, explicou Regina, que diz ter ido para lá para buscar a felicidade conjugal".

"Isso não significa que vamos para lá para participar de atos militares e nos explodir", afirmou. "Nosso objetivo é simplesmente viver onde a lei islâmica é respeitada", acrescentou.

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