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Jornalistas Dmitri Muratov e Maria Ressa recebem Prêmio Nobel da Paz

Nomes foram divulgados pelo Comitê do Nobel em outubro por suas lutas "a favor da liberdade de imprensa"

Maria Ressa e Dmitry Muratov recebem o Prêmio Nobel da Paz. (STIAN LYSBERG SOLUM/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 16h12.

Última atualização em 10 de dezembro de 2021 às 16h17.

O jornalista russo Dmitri Muratov alertou sobre a escalada de violência no mundo e pediu "um minuto de silêncio" em respeito aos repórteres mortos por fazerem seus trabalhos. A jornalista filipina Maria Ressa culpou grupos de tecnologia americanos pela "lama tóxica" propagada nas redes sociais e seus impactos danosos à sociedade. Foi com alertas sobre ameaças às democracias e pedidos de uma renovação do compromisso com valores democráticos que os dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2021 se dirigiram ao mundo nesta sexta-feira, 10, em seus discursos de aceitação da premiação em Oslo.

Ressa e Muratov, cujos nomes foram divulgados pelo Comitê do Nobel em outubro por suas lutas "a favor da liberdade de imprensa", usaram seus discursos para advertir de que o mundo caminha para um aumento da violência e da miséria se não houver uma renovação do compromisso com a democracia e os valores a ela vinculados: verdade, paz e direitos humanos.

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"Fiquemos de pé e honremos com um minuto de silêncio os nossos colegas jornalistas (...) que deram a vida por essa profissão", disse Muratov, de 60 anos, editor-chefe do Novaya Gazeta, considerado o principal jornal de oposição na Rússia. E acrescentou: "Quero que os jornalistas morram de velhice".

O editor-chefe fez um apelo contra a escalada de violência no mundo, condenando a "retórica militarista" dominante na mídia russa controlada pelo Kremlin — em um momento em que a Rússia concentra tropas na fronteira com a Ucrânia, levantando preocupações de uma invasão. "Os poderosos promovem ativamente a ideia de guerra”, disse ele. “O marketing agressivo da guerra afeta as pessoas e elas começam a pensar que a guerra é aceitável".

O jornalista russo também afirmou que as ideias da democracia liberal estão sob ameaça pela decepção do povo com as elites políticas de seus países. "O mundo perdeu o amor pela democracia (...), ficou decepcionado com as elites no poder. O mundo começou a virar para a ditadura".

Ressa, de 58 anos, a primeira Nobel da Paz das Filipinas e executiva-chefe da Rappler — uma organização de notícias online reconhecida principalmente por suas investigações sobre a guerra às drogas promovida pelo presidente Rodrigo Duterte —, criticou veementemente as empresas de mídias sociais, apontando seu papel na crise democrática sentida ao redor do mundo.

"Essas empresas americanas que controlam nosso ecossistema de informação global são tendenciosas contra os fatos, tendenciosas contra os jornalistas (...) Elas estão — por design — nos dividindo e nos radicalizando", afirmou Ressa. E acrescentou: "Sem os fatos [ porém ], não podemos ter a verdade. Sem a verdade, não podemos ter a confiança. Sem confiança, não temos (...) democracia, e se torna impossível enfrentar os problemas existenciais do nosso planeta: o clima, o coronavírus, a luta pela verdade".

Ressa ainda criticou as redes sociais pela difusão de desinformação e ódio. "Nossa maior necessidade hoje é transformar esse ódio e violência, a lama tóxica que está percorrendo nosso ecossistema de informações, priorizada por empresas americanas de internet que ganham mais dinheiro espalhando esse ódio e desencadeando o que há de pior em nós", disse.

"Informar não deve custar a vida"

Até 1º de dezembro, 1.636 jornalistas morreram nos últimos 20 anos no mundo, 46 em 2021, segundo os dados de Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Além disso, o número de jornalistas detidos também bateu recorde, com 293 profissionais presos, segundo denunciou na quinta-feira o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede nos Estados Unidos.

"Informar não deve continuar custando a vida", insistiu o secretário-geral de RSF, Christophe Deloire, durante a apresentação do relatório nesta semana.

Ambos os jornalistas premiados nesta sexta-feira enfrentaram perseguições de seus governos. Seis jornalistas e colaboradores do Novaya Gazeta foram assassinados sob sua supervisão na Rússia incluindo Anna Politkovskaya, cujo assassinato em 2006 no elevador de seu prédio nunca foi solucionado — Muratov dedicou o prêmio aos colegas. Ressa, há muito tempo uma crítica conhecida do líder autoritário de seu país, foi alvo de sete processos criminais, incluindo por difamação cibernética e evasão fiscal, movidos pelo governo filipino.

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