Johnson mandará carta a Tusk pedindo adiamento do prazo para saída da UE
Por lei, o fracasso em ratificar o acordo do Brexit neste fim de semana exige que o governo britânico busque uma prorrogação de três meses
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de outubro de 2019 às 17h11.
Última atualização em 19 de outubro de 2019 às 17h39.
São Paulo — Após a derrota do Brexit sofrida neste sábado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conversou com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e confirmou que enviará uma carta pedindo formalmente a extensão do prazo para a saída da União Europeia , informou uma autoridade do bloco europeu. Segundo a fonte, Tusk teria dito a Johnson que começaria a consultar líderes europeus como responder à solicitação, um processo que pode demorar alguns dias.
Os deputados britânicos decidiram neste sábado adiar a decisão sobre o o acordo do Brexit , mas o primeiro-ministro Boris Johnson insistiu que está determinado a retirar o país da UE no fim do mês e disse que se recusa a "negociar" um adiamento.
A apenas 12 dias da data de saída do Reino Unido da UE, os deputados aumentaram a confusão ao aprovar por 322 votos contra 306 uma emenda segundo a qual o acordo não será adotado antes da aprovação de toda a legislação necessária para implementar o Brexit.
Isto obriga o governo a pedir um novo adiamento do Brexit, inicialmente previsto para março passado e já adiado em duas oportunidades, até 31 de outubro.
Apesar de a fonte ter informado que Johnson pedirá o adiamento à UE, ele parece estar determinado a manter a data, afirmou que não negociará um adiamento com a UE, dando a entender que poderia solicitar a medida, como é obrigado por uma lei, mas não defenderá a prorrogação ante os sócios europeus.
A fonte da União Europeia explicou que Johnson garantiu ao presidente do Conselho Europeu que mandaria a mensagem neste mesmo sábado.
"Sobre essa base, Tusk começará a consultar os líderes europeus sobre como reagir. Isso poderia levar alguns dias", informou a fonte.
Para ser efetivo, o terceiro adiamento precisa ser aprovado de maneira unânime pelos outros 27 países do bloco, que exigirão uma justificativa.
Pouco depois da votação, a Comissão Europeia pediu ao governo de Boris Johnson para indicar "o mais rápido possível" o caminho a seguir.
"Corresponde ao governo britânico nos informar sobre as próximas etapas o mais rápido possível", escreveu no Twitter a porta-voz do Executivo europeu, Mina Andreeva.
O governo da França também reagiu e afirmou que um novo adiamento do Brexit "não interessa a ninguém". Johnson também conversou com Macron, segundo o Eliseu.
"Uma prorrogação só pode ser decidida por unanimidade", recordou o governo da Irlanda.
A emenda Letwin
O idealizador da emenda que adiou o que deveria ser uma votação história foi o ex-ministro conservador Oliver Letwin, deputado independente desde que foi expulsado de seu partido em setembro por votar contra o governo.
Letwin afirma respaldar o acordo anunciado na quinta-feira entre Londres e Bruxelas, mas pretendia evitar uma armadilha dos eurófobos mais teimosos: ele temia que estes votassem a favor do texto neste sábado e contra a legislação nos próximos dias, o que levaria o país a um catastrófico Brexit sem acordo no fim do mês.
Aceitando o novo revés sem perder a determinação, Johnson anunciou que "na próxima semana o governo apresentará a legislação necessária".
Em caso de aprovação dentro do prazo, o país ainda poderia abandonar o bloco no fim de outubro.
A política britânica está paralisada por esta "única questão que a Câmara parece incapaz de resolver", afirmou Johnson aos deputados na abertura de uma sessão excepcional, a primeira convocada para um sábado desde a guerra das Malvinas em 1982.
Ele disse ainda que qualquer novo adiamento do Brexit seria "inútil, caro e destrutivo".
Mas nem todos os britânicos estão de acordo com o primeiro-ministro. Enquanto os deputados debatiam a questão, milhares de pessoas protestavam no centro de Londres para reclamar um segundo referendo para tirar o país da crise iniciada com a consulta de 2016, quando o Brexit venceu com 52% dos votos.
A multidão pretendia caminhar em direção ao Parlamento.
Johnson permanece sem ter o êxito garantido, porque sua legislação sobre o Brexit pode ser rejeitada na próxima semana, como aconteceu três vezes com o acordo negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May, especialmente dada a oposição do pequeno partido norte-irlandês DUP, aliado chave do governo.
O novo acordo retoma o que foi negociado por May, mas modifica o ponto de maior discussão: como evitar uma fronteira física entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, país membro da UE, para preservar o frágil acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que em 1998 encerrou três décadas de conflito violento.
O texto atual prevê uma solução técnica complexa, com a qual a província britânica continuaria a ser administradas por algumas regulamentações do mercado único europeu e permaneceria de fato em uma união alfandegária com a UE, embora permanecesse legalmente na mesma zona aduaneira que o resto do Reino Unido.
A ideia enfrenta uma forte oposição do DUP, que não deseja que seu território receba um tratamento diferente do resto do país. "Deve ser um Brexit para todo o Reino Unido", afirmou o deputado norte-irlandês Nigel Dodds.
Contrários a qualquer tipo de Brexit, também votarão contra o governo os nacionalistas escoceses do SNP e os centristas do Partido Liberal-Democrata.
Os deputados do Partido Trabalhista, a principal força da oposição, também receberam ordem para rejeitar o texto. Embora alguns, procedentes de circunscrições eleitorais partidárias do Brexit, possam apoiar o governo.
Se o texto for rejeitado, o país mergulhará ainda mais no caos e arrastará uma UE cansada por uma questão que já deu por encerrada duas vezes.