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Jihadista detido na Síria diz que Estado Islâmico pode se reorganizar

"Eles têm amigos íntimos no deserto, pessoas que fingem ser civis, que esperam a hora certa" disse Mohamad Ali

Mohammad Ali, jihadista canadense (Maya Gebeily/AFP)
A

AFP

Publicado em 11 de fevereiro de 2019 às 15h10.

O jihadista canadense Mohamad Ali, capturado na Síria há nove meses enquanto tentava fugir com sua esposa e duas filhas para a Turquia, pediu para ser repatriado para o Canadá e alertou que, apesar de reduzido, o Estado Islâmico é perigoso e pode se reorganizar.

Assim como ele, centenas de jihadistas estrangeiros detidos pelas Forças Democráticas Sírias (FDS) pedem para ser repatriados para seus respectivos países de origem, onde as autoridades se mostram reticentes devido à hostilidade da opinião pública.

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Mohamad Alí, de 28 anos, falou com a AFP no centro de detenção de Hasaka, nordeste da Síria, na presença de dois membros das FDS. A AFP não teve como verificar de maneira independente seu relato sobre suas atividades no grupo Estado Islâmico (EI).

O canadense é filho de paquistaneses e se uniu ao EI em 2014 com o nome de Abu Turab al Kanadi.

Disse que depois de ter sido interrogado pela CIA e outras autoridades, se sente desesperançado, pois não sabe qual será seu destino.

Mohamad Ali conta que se uniu ao EI para lutar contra o regime de Bashar al Assad.

Por sua experiência na indústria do petróleo, trabalhou durante quatro meses no "ministério do Petróleo" criado pelo EI, período durante o qual usou o Twitter para convocar novos jihadistas.

Depois virou combatente e instrutor, mas, afirma, sempre negou-se a "atirar contra civis".

Foi em 2016 que começou a ter dúvidas em relação ao EI, que passou a castigar os membros estrangeiros. Um amigo holandês foi executado, conta, sem querer dar detalhes sobre o tema.

"Os estrangeiros se sentiam abandonados, usados e abusados pela organização", explica.

Então decidiu pagar a um contrabandista para fugir junto à esposa, também do EI, para a Turquia. Queria chegar à embaixada do Canadá em Ancara, mas foram detidos antes de cruzarem a fronteira.

Desde sua prisão, não teve mais contato com a esposa e as filhas instaladas em acampamentos de refugiados administrados pelas FDS, nem sua família no Canadá.

O Ministério do Exterior do Canadá disse à AFP que havia estabelecido um canal de comunicação com as autoridades curdas da Síria, mas acrescentou que não havia acordo para a repatriação. Segundo a ONG "Famílias contra o extremismo violento", cerca de 25 canadenses estão detidos pelas FDS.

Mohamad Ali sabe que pode ir para prisão se voltar para o Canadá, mas pede que não seja "colocado no mesmo saco" que os outros jihadistas estrangeiros conhecidos por seus crimes, como os britânicos Alexandra Amon Kotey e El Shafee el Sheikh, que executaram reféns.

O canadense afirma ainda que, apesar de o EI estar perdendo controle territorial na Síria, os jihadistas continuam muito perigosos e poderão voltar a se reorganizar.

"Entre os sírios e iraquianos muitos se escondem entre a população (...) Eles podem se reorganizar", alerta. "Eles têm amigos íntimos no deserto, pessoas que fingem ser civis, que esperam a hora certa", garante.

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