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Japão religa energia em corrida para conter radiação

A ligação de energia foi ao menos mais um passo adiante na usina de Fukushima, apesar de ainda não ser possível determinar se isso será o suficiente para resfriar os reatores

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2011 às 18h59.

Tóquio - Engenheiros japoneses conseguiram neste sábado (horário local) conectar os cabos de energia à usina nuclear atingida pelo terremoto e o tsunami da semana passada, numa corrida para tentar conter o vazamento radioativo que agora já é considerado no mínimo tão grave quanto o de 1979 na ilha de Three Mile, nos EUA.

A os superaquecidos bastões de combustível nuclear, a ligação de energia foi ao menos mais um passo adiante na usina de Fukushima, 240 quilômetros ao norte de Tóquio.

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Quase 300 engenheiros que trabalham dentro do raio de 20 quilômetros que foi isolado pelas autoridades devido à radiação estavam focados em conseguir religar a energia das bombas de água em quatro dos seis reatores.

"A Tepco (operadora da usina) conectou a linha de transmissão externa com o ponto de recepção da usina e confirmou que a eletricidade foi restabelecida", informou a empresa em comunicado.

O próximo passo será verificar se o equipamento está funcionando e não foi danificado, antes de iniciar o resfriamento do reator número 2, seguido pelos 1, 3 e 4, acrescentou.

Se isso funcionar, será um ponto de virada.

"Se eles conseguirem ligar as bombas e puderem começar a jogar água sem provocar nenhuma falha, devem conseguir controlar a usina nos próximos dias", disse o pesquisador Laurence Williams, da Universidade Central Lancashire, na Grã-Bretanha.

O fato de terem religado a energia, no entanto, não exclui outras opções para a usina nuclear, incluindo enterrá-la debaixo de areia e concreto -- mesmo método empregado em Chernobyl em 1986 para selar vazamentos enormes.


O Japão elevou o nível de gravidade da crise nuclear do país de 4 para 5 numa escala internacional de intensidade até 7. Assim, a situação em Fukushima se iguala ao acidente de Three Mile Island em 1979, apesar de alguns especialistas afirmarem que o caso japonês é mais grave.

Chernobyl, na Ucrânia, teve intensidade 7 nessa escala.

A empresa que opera a usina do Japão reconheceu pela primeira vez que seria possível enterrar o grande complexo erguido há 40 anos -- um sinal de que medidas isoladas, como atirar água de helicópteros militares sobre o reator ou esforçar-se para religar as bombas de resfriamento, podem não funcionar.

"Não seria impossível encerrar os reatores em uma capa de concreto. Mas nossa prioridade neste momento é tentar primeiro resfriá-los", disse em coletiva de imprensa um funcionário da Tokyo Electric Power Co (Tepco).

Uma semana depois

Com uma semana completa desde que um terremoto de 9,0 graus e um tsunami de dez metros de altura devastaram cidades costeiras e mataram milhares de pessoas, a pior crise nuclear mundial desde Chernobyl e as piores crises humanitárias do Japão desde a 2a Guerra Mundial pareciam estar longe de encerradas.

Os mortos confirmados pelo terremoto e o tsunami já são quase 7.000, e ainda há 10.700 desaparecidos; teme-se que muitos destes estejam mortos.

Cerca de 390 mil pessoas, entre as quais muitos idosos, estão desabrigadas e enfrentam temperaturas de quase 0 grau Celsius em abrigos improvisados nas áreas costeiras do norte do país. Faltam comida, água, medicamentos e combustível para aquecimento.

O governo assinalou que poderia ter sido mais ágil no enfrentamento dos desastres múltiplos.


Indagado sobre a possibilidade de os reatores serem soterrados em areia e concreto, Nishiyama respondeu: "Essa solução está presente em nossa consciência, mas por enquanto estamos focados em resfriar os reatores."

Se os reatores forem enterrados, uma parte do Japão terá acesso proibido a pessoas por décadas. "Não é tão fácil assim", disse Murray Jenex, professor da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, quando perguntado sobre a chamada opção Chernobyl de enterrar os reatores.

"Os reatores são um pouco como um aparelho de fazer café. Se você deixa o calor ligado, eles fervem até secar e então racham. Colocar concreto em cima disso não tornaria seu aparelho de café mais seguro. Mas, com o tempo, sim, seria possível construir um escudo de concreto e deixar por isso mesmo."

Muitos continuam sem eletricidade e água

A situação dos desabrigados pelo terremoto e o tsunami se agravou depois de uma onda de frio levar neve pesada às áreas mais afetadas.

O fornecimento de água, óleo para aquecimento e combustível está baixo nos centros de desabrigados, onde muitos sobreviventes aguardam embrulhados em cobertores. Faltam remédios para muitos idosos. A comida é racionada. Funcionários dos serviços de resgate informam que há falta aguda de combustível para seus veículos.

O governo disse na sexta-feira que analisa a possibilidade de transferir alguns dos desabrigados para partes do país não atingidas pela devastação.

Quase 320 mil famílias no norte do país continuavam sem eletricidade na sexta-feira à tarde, sob frio congelante, disseram as autoridades, e, segundo o governo, ainda falta água corrente para pelo menos 1,6 milhão de famílias.

O governo ordenou que todas as pessoas residentes em um raio de 20 quilômetros da usina nuclear danificada abandonem suas casas e aconselhou as pessoas que vivem em um raio de até 30 quilômetros a não saírem de suas casas.

A embaixada dos EUA em Tóquio exortou cidadãos residentes em um raio de 80 quilômetros da usina a deixarem a região ou ficarem dentro de casa "como precaução", e o Ministério do Exterior britânico pediu a seus cidadãos que "estudem a possibilidade de deixar a região". Outros países já pediram a seus cidadãos no Japão que deixem o país ou se desloquem para o sul do país.

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