Irmandade Muçulmana não tem força no Egito, diz especialista
Mas deterioração econômica pode levar egípcios ao desespero e ao governo muçulmano
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2012 às 14h00.
Brasília - A Irmandade Muçulmana no Egito aparenta não ter força ou legitimidade suficiente para uma tentativa de assumir o país, mas o desespero da sociedade abre caminho para um cenário onde tudo é possível, de acordo com o professor de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e especialista em assuntos do Oriente Médio, Edgard Leite.
“Embora a sociedade esteja batalhando por mais empregos e oportunidades - e isso não pode ser alcançado por um regime religioso – existe sempre a possibilidade de uma guinada súbita, um tanto desesperada, na falta de uma alternativa laica não consistente”, disse, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.
Para Leite, os militares responsáveis por garantir a transição no Egito após a renúncia do presidente Hosni Mubarak representam uma força fundamental na retomada do controle de órgãos e políticas no país. Todas as pressões internas e externas, segundo ele, vão no sentido de que isso aconteça.
“Sem dúvida, há uma necessidade de mudança na política da região em função dos desafios da modernidade. O Egito vive essa instabilidade desde os anos 50. Diante dos novos modelos internacionais vigentes, há uma necessidade de mudança institucional”, explicou.
Segundo ele, a expectativa maior é no sentido de que as mudanças aconteçam por meio do que chamou de “uma ocidentalização maior do modelo político”, como o que se configura experimentalmente no Iraque por meio do governo norte-americano.
O professor elogiou o posicionamento do governo brasileiro em relação à queda de Mubarak e avaliou que o país, no âmbito internacional, deve sempre se colocar a favor da democracia e do fortalecimento dos direitos humanos.
“Essa é a posição do ocidente como um todo, da ONU [Organização das Nações Unidas], dos países europeus. Todos esperam que a sociedade egípcia marche para uma coisa melhor do que o que é”, disse.
As próximas horas, de acordo com Leite, devem mostrar qual será o grau de abertura da junta militar para negociar, quem serão os interlocutores e quais as demandas do país. “São tantos problemas a serem resolvidos que, sem negociação, não adianta”, concluiu.