Insegurança e desgoverno ameaçam futuro da Líbia
Violência, a insegurança e o desgoverno se estenderam por toda a Líbia, enquanto as missões diplomáticas estrangeiras continuam abandonando o país
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2014 às 14h51.
Trípoli - A violência, a insegurança e o desgoverno se estenderam por toda a Líbia , enquanto as missões diplomáticas estrangeiras continuam abandonando o país e retirando seus cidadãos devido a um temor de um colapso total das instituições.
O último país a retirar "temporariamente" seu embaixador na Líbia foi a Espanha , que anunciou a medida hoje.
Além disso, Estados Unidos, Reino Unido, França, Egito, Itália, Grécia e Argélia, entre outros, também esvaziaram suas missões diplomáticas no país.
O governo brasileiro informou ontem que decidiu retirar seus funcionários da embaixada em Trípoli, capital da Líbia, diante da "contínua deterioração das condições de segurança".
A crise de segurança se agravou no dia 13 de junho, quando as milícias da cidade de Misrata, a 200 quilômetros ao leste de Trípoli, lançaram a operação "Fayer" (Amanhecer) com o objetivo de tomar o controle do aeroporto internacional de Trípoli das milícias de Zintan, localizada a 170 quilômetros ao sudeste da capital.
Desde então, pelo menos cem pessoas morreram nos combates, nos quais estão sendo empregados armamento médio e pesado e que continuam até hoje em torno do aeroporto.
O governo transitório de Abdallah Al-Thani lançou em vão várias iniciativas para conseguir um cessar-fogo.
Apenas o Conselho Local de Trípoli pôde arrancar das duas partes em conflito um compromisso de trégua de 24 horas para facilitar os trabalhos de extinção de um grande incêndio em um depósito de combustível próximo ao aeroporto, que poderia causar uma catástrofe.
A situação começou a provocar deslocados e, segundo a agência estatal tunisiana "TAP", na terça-feira cerca de oito mil pessoas atravessaram o posto fronteiriço de Ras Yedir em direção à Tunísia.
As autoridades do país vizinho, temerosas de outra crise humanitária como a gerada durante o levantamento popular armado de 2011 contra o ditador Muammar Kadafi, advertiram que poderiam fechar suas fronteiras se voltar a ocorrer uma fuga em massa de refugiados.
A queda de Líbia no caos e no desgoverno vem sendo progressiva desde as eleições parlamentares de 7 julho de 2012, resultado das diferenças políticas, étnicas e territoriais existentes tanto dentro como fora do parlamento.
As desavenças, que afetaram também as relações entre os vários executivos e parlamentos formados no país recentemente, provocaram o bloqueio da transição democrática e a paralisação da reconstrução das instituições da Líbia.
As autoridades reconheceram em várias ocasiões sua incapacidade de controlar a proliferação de armas, de criar um exército e uma polícia eficientes e de integrar as milícias surgidas no levantamento de 2011 às forças de segurança.
Neste contexto, ao qual é preciso acrescentar um fraco sistema judiciário, as milícias impuseram em muitas ocasiões seus interesses aos deputados mediante a intimidação das armas, e ignoraram as decisões executivas, como a que determina sua saída dos centros urbanos.
Há um ano, milícias federalistas do leste do país assumiram o controle dos principais portos petroleiros, provocando uma crise que ocasionou a destituição, em 11 de março, do primeiro-ministro Ali Zidan, acusado de ser incapaz de controlar a situação.
Um mês antes, o parlamento tinha tomado a decisão de prolongar seu mandato, que finalizava em 7 de fevereiro, o que suscitou outra crise de legitimidade, que o país vive até hoje.
Em Benghazi, capital do leste líbio, o general reformado Jalifa Hafter, que já tinha denunciado o parlamento por ampliar seu mandato, sublevou-se em 16 de maio ao lado de milicianos e paramilitares com o objetivo de expulsar da cidade os grupos islamitas, aos quais acusa de estarem por trás da onda de atentados que a cidade está sofrendo.
Desde então, vários centenas de pessoas morreram no conflito entre as forças leais a Hafter, as quais se uniram várias unidades do exército, como as forças especiais Saiqa, e as milícias islamitas e jihadistas reunidas em uma frente conhecida como Conselho dos Revolucionários.
Diante da crise das instituições políticas, foram anunciadas novas eleições gerais, realizadas em 25 de junho, com a esperança de melhorar a situação.
Em 4 de agosto, em meio à caótica situação de descontrole e com as representações diplomáticas em debandada, o novo parlamento deve realizar sua primeira sessão.