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Hillary arrasa na "primária invísivel" das eleições dos EUA

Com o apoio de diversas figuras públicas, como o secretário de Trabalho, Tom Perez, Hillary vence seus rivais em ambos os partidos

Hillary Clinton: ela é pré-candidata pelo Partido Democrata (REUTERS/Carlo Allegri)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2015 às 14h57.

Washington -- Hillary Clinton é a líder indiscutível da chamada "primária invisível" dos Estados Unidos , o período no qual os pré-candidatos presidenciais conquistam o apoio de figuras públicas, diante de um Partido Republicano tão dividido que os respaldos das elites acabam perdendo seu valor.

Desde 1980, o aval político no ano prévio à disputa pela Casa Branca foi um indicador quase infalível de quem será o candidato de cada partido. Hillary vence, até então, seus rivais em ambos os partidos, com o apoio de 12 governadores, 38 senadores, 140 congressistas e três membros do gabinete de Obama. O último deles foi o secretário de Trabalho, Tom Perez, nesta quinta-feira.

Trata-se de um nível de respaldo "sem precedentes" para um pré-candidato democrata que não busca a reeleição, segundo um estudo do "FiveThirtyEight", um site dedicado ao jornalismo de dados.

Para Allan Lichtman, autor de um sistema de prognóstico que acertou o resultado de todas as eleições presidenciais dos últimos 30 anos no país, o apoio a Hillary, no entanto, não é um "indicador definitivo".

"Os apoios no processo das primárias podem ser importantes porque te dão dinheiro e organização, mas não são necessariamente determinantes", disse Litchman, que é professor de História na American University de Washington, à Agência Efe.

"Em 2008, ela não tinha tantos apoios, mas no começo das primárias era claramente a favorita do partido e, apesar de tudo, Obama a derrotou", lembrou o especialista.

Até o auge do sistema de primárias na década de 1960, as elites dos partidos tinham um enorme controle sobre o processo de indicação dos candidatos. A "primária invisível", onde esse apoio pode marcar a diferença antes da abertura das urnas, permitiu a conservação de parte desse poder decisório.

"O ciclo funciona assim: esses apoios geram atenção da imprensa e os números do candidato nas pesquisas costumam subir. Essa alta nas pesquisas, por sua vez, gera mais cobertura positiva na imprensa, o que desencadeia mais apoios públicos e doações", explicou Lynn Vavreck, professora de Política na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em artigo publicado pelo "The New York Times".

No entanto, se outro pré-candidato diferente ao escolhido pelas elites mostra muita força nas primárias nos primeiros estados, a "cúpula do partido pode mudar seu apoio, porque eles gostam dos vencedores", completou Lichtman.

Portanto, se o principal rival de Clinton nas primárias democratas, Bernie Sanders, que por enquanto conta com o apoio de dois congressistas, ganhasse as primárias-chave de Iowa e New Hampshire, algumas figuras públicas poderiam mudar de lado.

Mas Hillary está conseguindo também o apoio de muitos líderes sindicais. "Isso prejudica Sanders, porque os sindicatos seguem como o elemento mais importante do Partido Democrata", disse Litchman.

O panorama é completamente diferente no Partido Republicano, que está "profundamente dividido". Isso faz com que os apoios públicos "sejam muito menos valiosos", indicou o especialista.

"Há uma enorme corrente contrária às elites do partido por parte das pessoas que votam nas primárias, o que minimiza a importância dos apoios públicos", explicou Litchman.

Quem tem mais aval de figuras públicas é Jeb Bush, ex-governador da Flórida, com cerca de 30 senadores e congressistas ao seu lado. Ele é seguido por Marco Rubio, senador pela Flórida, que o vence nas pesquisas, e por Chris Christie e Mike Huckabee, dois dos últimos colocados na corrida republicana à Casa Branca.

"A vantagem antecipada que Bush conseguiu em termos de apoio da cúpula do partido não se traduziu até agora em nada que se aproxime de uma campanha presidencial bem-sucedida. Atualmente, Bush parece um perdedor", avaliou Litchman, prevendo que, se a tendência se mantiver, os apoios ao irmão do ex-presidente George W. Bush migrem para um de seus rivais na disputa.

Os pré-candidatos que se apresentam como alheios ao chamado "establishment" do partido, como Donald Trump e Ben Carson, podem conseguir muitos respaldos, indicou o especialista, mas também são suscetíveis aos altos e baixos nas pesquisas.

O professor vê três candidatos "viáveis" no Partido Republicado atualmente. Trump, Rubio e Ted Cruz, senador pelo Texas. Todos eles apelam de alguma forma a uma base do partido que se inclinou mais à direita e está cansada das velhas receitas de Washington.

Porém, enquanto Hillary é o "mais próximo que pode haver de uma candidata inevitável", nenhum de seus rivais atinge esse status na avaliação de Litchman. E a conquista dos grandes nomes do partido não parece ser uma solução para o caos republicano. EFE

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Desde 1980, o aval político no ano prévio à disputa pela Casa Branca foi um indicador quase infalível de quem será o candidato de cada partido. Hillary vence, até então, seus rivais em ambos os partidos, com o apoio de 12 governadores, 38 senadores, 140 congressistas e três membros do gabinete de Obama. O último deles foi o secretário de Trabalho, Tom Perez, nesta quinta-feira.

Trata-se de um nível de respaldo "sem precedentes" para um pré-candidato democrata que não busca a reeleição, segundo um estudo do "FiveThirtyEight", um site dedicado ao jornalismo de dados.

Para Allan Lichtman, autor de um sistema de prognóstico que acertou o resultado de todas as eleições presidenciais dos últimos 30 anos no país, o apoio a Hillary, no entanto, não é um "indicador definitivo".

"Os apoios no processo das primárias podem ser importantes porque te dão dinheiro e organização, mas não são necessariamente determinantes", disse Litchman, que é professor de História na American University de Washington, à Agência Efe.

"Em 2008, ela não tinha tantos apoios, mas no começo das primárias era claramente a favorita do partido e, apesar de tudo, Obama a derrotou", lembrou o especialista.

Até o auge do sistema de primárias na década de 1960, as elites dos partidos tinham um enorme controle sobre o processo de indicação dos candidatos. A "primária invisível", onde esse apoio pode marcar a diferença antes da abertura das urnas, permitiu a conservação de parte desse poder decisório.

"O ciclo funciona assim: esses apoios geram atenção da imprensa e os números do candidato nas pesquisas costumam subir. Essa alta nas pesquisas, por sua vez, gera mais cobertura positiva na imprensa, o que desencadeia mais apoios públicos e doações", explicou Lynn Vavreck, professora de Política na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em artigo publicado pelo "The New York Times".

No entanto, se outro pré-candidato diferente ao escolhido pelas elites mostra muita força nas primárias nos primeiros estados, a "cúpula do partido pode mudar seu apoio, porque eles gostam dos vencedores", completou Lichtman.

Portanto, se o principal rival de Clinton nas primárias democratas, Bernie Sanders, que por enquanto conta com o apoio de dois congressistas, ganhasse as primárias-chave de Iowa e New Hampshire, algumas figuras públicas poderiam mudar de lado.

Mas Hillary está conseguindo também o apoio de muitos líderes sindicais. "Isso prejudica Sanders, porque os sindicatos seguem como o elemento mais importante do Partido Democrata", disse Litchman.

O panorama é completamente diferente no Partido Republicano, que está "profundamente dividido". Isso faz com que os apoios públicos "sejam muito menos valiosos", indicou o especialista.

"Há uma enorme corrente contrária às elites do partido por parte das pessoas que votam nas primárias, o que minimiza a importância dos apoios públicos", explicou Litchman.

Quem tem mais aval de figuras públicas é Jeb Bush, ex-governador da Flórida, com cerca de 30 senadores e congressistas ao seu lado. Ele é seguido por Marco Rubio, senador pela Flórida, que o vence nas pesquisas, e por Chris Christie e Mike Huckabee, dois dos últimos colocados na corrida republicana à Casa Branca.

"A vantagem antecipada que Bush conseguiu em termos de apoio da cúpula do partido não se traduziu até agora em nada que se aproxime de uma campanha presidencial bem-sucedida. Atualmente, Bush parece um perdedor", avaliou Litchman, prevendo que, se a tendência se mantiver, os apoios ao irmão do ex-presidente George W. Bush migrem para um de seus rivais na disputa.

Os pré-candidatos que se apresentam como alheios ao chamado "establishment" do partido, como Donald Trump e Ben Carson, podem conseguir muitos respaldos, indicou o especialista, mas também são suscetíveis aos altos e baixos nas pesquisas.

O professor vê três candidatos "viáveis" no Partido Republicado atualmente. Trump, Rubio e Ted Cruz, senador pelo Texas. Todos eles apelam de alguma forma a uma base do partido que se inclinou mais à direita e está cansada das velhas receitas de Washington.

Porém, enquanto Hillary é o "mais próximo que pode haver de uma candidata inevitável", nenhum de seus rivais atinge esse status na avaliação de Litchman. E a conquista dos grandes nomes do partido não parece ser uma solução para o caos republicano. EFE

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