Iraquiano carrega tecido importado para dentro de uma loja: conflitos, sanções, burocracia, corrupção e repressão atrapalham reconstrução do país (Ahmad Al-Rubaye/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2013 às 12h04.
Bagdá - Dez anos depois da captura de Saddam Hussein, o Iraque ainda convive com o peso da herança deixada pelo ditador executado: conflitos, sanções, burocracia, corrupção e repressão.
Apesar do país, rico em petróleo ter um papel cada vez maior na economia mundial e na diplomacia regional, tudo isso atrapalha sua reconstrução.
Ex-membros do Baath, o partido de Saddam atualmente proibido, continuam excluídos da vida pública por seu passado e os focos de violência são atribuídos a um conjunto de partidários de Saddam e de insurgentes sunitas.
Além disso, a corrupção e o nepotismo reinam no país, que sofre com as consequências dos conflitos internos e regionais nascidos durante a era Saddam.
Analistas consideram que a minoria sunita, que dominava o país no governo de Saddam Hussein, ainda não aceitou totalmente a perda de poder em benefício da maioria xiita.
"Qual será o novo contrato social?", questiona Ayham Kamel, especialista em Oriente Médio da empresa de consultoria Eurasia Group.
"Muitos sunitas acreditam que o país precisa de uma divisão maior de poder e do envio de sinais claros de que o conflito e certas tensões que existiram entre sunitas e xiitas com Saddam acabaram", disse.
Saddam Hussein foi capturado em 13 de dezembro de 2003, nas proximidades de Dawr, onde as tropas americanas o encontraram escondido em um buraco cavado no chão.
Centenas de milhares de pessoas, principalmente xiitas e curdos, morreram durante seu regime, um episódio doloroso que é o pano de fundo da atual tensão entre as autoridades federais e a região autônoma do Curdistão.
Saddam também travou uma guerra contra o Irã nos anos 80 e em 1990 ordenou a invasão do Kuwait, que provocou sanções internacionais que deixaram a economia iraquiana de joelhos. O país ainda paga indenizações ao vizinho do Golfo.
Quando Saddam Hussein foi capturado, as autoridades americanas e iraquianas citaram uma 'virada' na guerra, porque acreditavam que seria um duro golpe para a insurreição. Mas a violência continuou aumentando até culminar no violento período 2006-2007.
Após uma calma relativa a partir de 2008, a violência voltou a explodir este ano, alimentada por um forte descontentamento dos sunitas, que se consideram marginalizados. Certos grupos violentos contam com partidários do regime de Saddam.
"A década passada foi a da mudança, deu esperanças à população", disse Bashar Hana, intérprete de 40 anos.
"Infelizmente, as mudanças não estiveram à altura do que o povo esperava", completou.
Assim como durante o regime de Saddam, a economia permanece abalada por uma burocracia de trâmites intermináveis. E a corrupção não cede: o Iraque ocupa o sétimo lugar na lista de países mais corruptos da Transparência Internacional.
Os serviços públicos, em estado lamentável após o conflito posterior à queda de Saddam, nunca recuperaram o nível anterior. O desemprego permanece elevado e, apesar do aumento da produção de petróleo, muitos iraquianos reclamam que os lucros não são divididos de maneira justa.
"Dez anos depois, tudo continua em ruínas", lamenta Ihsan al-Shamari, professor de Ciências Políticas na Universidade de Bagdá.
"Lamentavelmente isto faz com que muitos iraquianos comparem o que o antigo regime havia conquistado em termos de segurança e as leves melhorias nos serviços obtidas pelo novo sistema democrático", explica.
Os partidários do governo destacam os avanços da liberdade de expressão e de religião.
Milhões de xiitas peregrinam agora para as cidades sagradas para celebrar rituais religiosos que eram proibidos durante a ditadura. As críticas ao governo, que não eram toleradas, são relativamente comuns na imprensa e na internet.