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Haverá contraofensiva na guerra entre Rússia e Ucrânia?

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vem se esforçando para manter as tropas e o público em geral motivados para uma luta prolongada

Volodymyr Zelensky Volodimir Zelenski (AFP/AFP)
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 10 de abril de 2023 às 14h40.

O maior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial está prestes a entrar em uma nova fase nas próximas semanas. Sem nenhum indício de um fim negociado para os 13 meses de combates entre Rússia e Ucrânia , o ministro da defesa ucraniano disse no fim de março que uma contraofensiva na primavera do hemisfério Norte começaria em abril.

Kiev enfrenta uma questão tática fundamental: como os militares ucranianos podem desalojar as forças russas do território que estão ocupando? O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky , vem se esforçando para manter as tropas e o público em geral motivados para uma luta prolongada.

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Vamos examinar como o combate evoluiu e como a campanha de primavera pode se desenrolar:

Como a guerra chegou até aqui?

A Rússia lançou sua primeira invasão da Ucrânia em grande escala em 24 de fevereiro de 2022, mas seus ataques não atingiram alguns dos principais alvos e perderam força em julho. As contraofensivas ucranianas recuperaram grandes áreas entre agosto e novembro.

Depois disso, o combate ficou atolado na guerra de atrito durante o inverno rigoroso e o degelo lamacento do início da primavera.

Agora, Kiev pode aproveitar a melhora das condições climáticas para tomar a iniciativa no campo de batalha com novas levas de armas ocidentais, incluindo dezenas de tanques e tropas descansadas, treinadas nos países ocidentais.

As forças russas, porém, estão profundamente arraigadas, aguardando atrás de campos minados e ao longo de quilômetros de trincheiras.

Como a Rússia se saiu até agora?

A guerra expôs deficiências constrangedoras na capacidade militar do Kremlin.

Dentre os contratempos no campo de batalha estão o fracasso da Rússia em chegar a Kiev nos primeiros dias da invasão, e sua incapacidade de reter algumas áreas e de tomar a devastada cidade de Bakhmut, a leste, após sete meses de combate. As tentativas de abater a disposição dos ucranianos para a luta, como os ataques incessantes contra a rede elétrica do país, também falharam.

Os serviços de inteligência de Moscou avaliaram muito mal a determinação da Ucrânia e a resposta ocidental. A invasão também esgotou os recursos militares russos, gerando dificuldades com suprimento de munição, moral e quantidade de soldados.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aparentemente preocupado que a guerra possa desgastar o apoio público ao seu governo, vem evitando uma pressão total pela vitória por meio de uma convocação obrigatória em massa.

"Os russos têm um problema sem fim", diz James Nixey, diretor do programa de Rússia e Eurásia no instituto de políticas Chatham House, em Londres.

Ao perceber que não tem condições de vencer a guerra tão cedo, Putin pretende fincar o pé e arrastar o combate, na esperança de que o apoio ocidental a Kiev se esvaia, explica Nixey.

A estratégia russa é pensada para "levar os países ocidentais a desmoronar", diz.

O que vem a seguir para os ucranianos?

As forças ucranianas começam a temporada com um fluxo de chegada de armas poderosas.

A Alemanha declarou ter entregado os 18 tanques Leopard 2 que prometera à Ucrânia. Polônia, Canadá e Noruega também entregaram os tanques Leopard que haviam prometido. Tanques britânicos Challenger também chegaram.

O ministro da defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse ter esperança de que os parceiros ocidentais forneçam pelo menos dois batalhões de Leopard 2 de fabricação alemã ainda em abril. Ele também espera seis ou sete batalhões de tanques Leopard 2, com munição, de uma aliança de países.

Também estão prometidos tanques americanos Abrams e tanques leves franceses, bem como soldados ucranianos recentemente treinados em seu uso.

A ajuda ocidental tem sido vital para fortalecer a obstinada resistência ucraniana e moldar o curso da guerra. Zelenskyy reconhece que, sem o apoio dos EUA, seu país não teria chance de vitória.

Os novos suprimentos, incluindo obuses, armas antitanque e 1 milhão de cartuchos de munição de artilharia, darão mais força e maior impacto ao exército ucraniano.

"O grande número de tanques pode abrir uma brecha mais profunda nas posições russas", diz Nixey.

Em sua contraofensiva, as forças ucranianas tentaram romper o corredor terrestre entre a Rússia e a península anexada da Crimeia, movendo-se de Zaporizhzhia em direção a Melitopol e ao mar de Azov, segundo o analista militar ucraniano Oleh Zhdanov.

Se tiverem sucesso, os ucranianos "irão dividir as tropas russas em duas metades e cortar as linhas de suprimento para as unidades que estão mais a oeste, na direção da Crimeia", diz Zhdanov.

Quais podem ser os movimentos finais?

O Institute for the Study of War (Instituto para Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, considera que a Ucrânia precisará lançar uma série de contraofensivas, não apenas uma, para conseguir a vantagem.

As operações teriam "o duplo objetivo de persuadir Putin a aceitar negociar concessões ou de criar realidades militares suficientemente favoráveis à Ucrânia a ponto de permitir que Kiev e seus aliados ocidentais paralisem o conflito por conta própria, independentemente das decisões de Putin", disse o instituto em uma análise publicada esta semana.

Nixey não tem dúvidas de que cada lado continuará "arrancando pedaços um do outro" ao longo dos próximos meses, na esperança de obter uma vantagem na mesa de negociação.

Um período decisivo pode estar à frente: caso Kiev não consiga fazer progressos no campo de batalha com as armas fornecidas pelos países ocidentais, os aliados podem relutar em mandar mais equipamentos caros.

As apostas são altas: a derrota da Ucrânia poderia "ter ramificações globais, e não haverá a segurança da Europa como (atualmente) a compreendemos", disse Nixey.

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