Grandes partidos turcos recorrem a alianças para vencer eleições
Partido governista buscou legenda de direita MHP enquanto CHP, que é membro da Internacional Socialista, associou-se ao Saadet e ao IYI, mais conservador
EFE
Publicado em 22 de junho de 2018 às 16h49.
Última atualização em 22 de junho de 2018 às 16h52.
Istambul - O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco) de Recep Tayyip Erdogan , que está no poder na Turquia desde 2002, pretende manter a maioria absoluta no Parlamento com apoio da legenda de direita Movimento de Ação Nacionalista (MHP), uma aliança contra a qual luta uma ampla coalizão, que conta com social-democratas, nacionalistas moderados e islamitas.
As últimas pesquisas mostram a coalizão AKP-MHP com 42% a 46% de intenções de voto, muito longe dos números de 2015, quando o AKP obteve 49% e o MHP, 12%.
Um número similar ao que obteria a Millet (Nação, em tradução livre do turco), a aliança liderada pelo social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), a maior força da oposição.
O CHP, membro da Internacional Socialista e contundente defensor do laicismo sob o qual foi fundada a República da Turquia em 1923, associou-se ao partido IYI, mais conservador, mas também laico, e com o Saadet (Partido da Felicidade), uma legenda sem representação parlamentar e mais religiosa ainda que o AKP.
Há alguns anos, o Saadet, que nas últimas eleições obteve apenas 0,7% dos votos, era contrário ao caminho de abertura de um AKP que parecia orientado para a Europa e aplicaria ao islã o modelo de democracia cristã. Agora, os islamitas do Saadet rejeitam o autoritarismo de Erdogan.
Por sua vez, o CHP é o partido mais votado no litoral oeste da Turquia, assim como entre a classe média e os setores intelectuais de todo o país.
O AKP, que renovou suas maiorias absolutas em 2007, 2011 e 2015, foi fundado em 2001 pelo atual presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e por outros dissidentes que saíram do islamita Partido da Virtude para criar uma legenda conservadora no âmbito religioso, mas moderna e favorável à economia de mercado.
A legenda do atual presidente impulsionava o processo de adesão à União Europeia e utilizava as normas de liberdade religiosa europeias para combater o rígido sistema laico turco e tornar o islã mais visível na vida pública.
Os eleitores do AKP louvam sua boa gestão em nível municipal, os grandes investimentos em infraestrutura (rodovias, pontes, trem, metrô) e suas políticas sociais, como a introdução de um sistema de seguridade social, que mudou a vida das classes menos favorecidas.
Seus críticos, no entanto, ressaltam que, desde 2013, o AKP se transformou em uma máquina a serviço de Erdogan, aplicando políticas cada vez mais autocráticas, destruindo a separação de poderes e assumindo o controle do Judiciário.
O parceiro de coalizão do AKP nas eleições legislativas e presidenciais é o MHP, que sofreu uma cisão no ano passado por sua aproximação com Erdogan, o que traz o risco de perder eleitores e ficar abaixo do patamar mínimo de 10% para entrar no parlamento.
Dessa cisão surgiu o IYI, que agora é o principal aliado do CHP nas eleições legislativas.
Embora os três partidos da coalizão Millet se apresentem separadamente no pleito presidencial, Muharrem Ince, o candidato do CHP e o único com possibilidade de evitar a reeleição de Erdogan, ofereceu cargos de vice-presidência aos candidatos de seus aliados.
Se o esquerdista Partido Democrático dos Povos, que concorre sozinho, superar a barreira eleitoral de 10%, nenhum dos blocos terá maioria, como ocorreu em 2015, o que forçou novas eleições, que foram vencidas pelo AKP com maioria absoluta.
No entanto, a composição do plenário perdeu relevância, já que a reforma constitucional de 2016 dá mais poder ao presidente e lhe permite governar, embora com dificuldades, inclusive sem maioria.