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Futuro de intérpretes afegãos fica incerto com saída da Otan

Milhares de intérpretes afegãos que trabalham para as forças internacionais temem por suas vidas e empregos depois de 2014

Soldado americano no Afeganistão: forças internacionais devem deixar o país em 2014 (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2013 às 10h28.

Cabul - À medida que avança a retirada das tropas da Otan , milhares de intérpretes afegãos que trabalham para as forças internacionais temem por suas vidas e empregos depois de 2014 e cogitam a possibilidade de sair do Afeganistão.

A insurgência talibã os considera traidores e espiões. Eles e muitos outros afegãos que serviram as tropas estrangeiras durante a última década, o que torna futuro ainda mais complicado e incerto no cenário futuro do país asiático.

Um deles é Abdul Qahar, de 27 anos, que mora em Cabul há nove e trabalha para as forças americanas na base aérea de Bagram, cidade próxima a capital afegã.

"Acho que os afegãos trabalharam para melhorar a vida de suas famílias, servir à comunidade, mas a imagem que se tem de nós é diferente", disse Qahar.

"A situação está piorando. Muitos morreremos, seremos decapitados ou receberemos ameaças dos talibãs", lamentou.

Frequentemente os intérpretes afegãos ficam na primeira linha de tiro durante as operações militares para informar sobre os distritos e aldeias e facilitar o cumprimento das missões.

Apesar de o trabalho proporcionar um lucro econômico que dificilmente conseguiriam em outras funções, os coloca também na mira da insurgência e faz com que os profissionais sejam muitas vezes alvo de represálias.

"Os talibãs me atacaram várias vezes. Uma vez, em 2010, fiquei refém por oito horas e consegui escapar depois de tomar um tiro na perna esquerda" revelou Qahar.


Enquanto mostrava o ferimento, o intérprete assegurou que os rebeldes tratam "pior" os trabalhadores afegãos do que os soldados estrangeiros capturados.

Desde 2011 o exército e a polícia afegã assumem gradualmente mais responsabilidades em matéria de segurança no país até assumir o completo controle, o que está previsto para o ano que vem.

Enquanto isso, o conflito está em um dos momentos mais sangrentos e muitos analistas ainda consideram os talibãs uma séria ameaça à estabilidade do Afeganistão após a saída da Otan. Conscientes disso, várias potências estrangeiras prometeram vistos a milhares de antigos e atuais empregados afegãos.

O que dá alguma esperança para um intérprete de 25 anos, que prefere manter o anonimato, e diz estar em perigo na sua região, o sul do país, depois de pedir visto para os Estados Unidos em 2011.

"Perdi a esperança de obtê-lo após esperar quase dois anos e agora nem sequer posso retornar a minha aldeia. Vejo a minha família uma vez cada dois meses em Cabul, pois é mais seguro que Helmand", contou.

Ele era professor de inglês em sua cidade natal, mas decidiu se unir as tropas americanas encorajado por um atraente salário, sem prever "as fatais consequências" que a decisão traria.


Segundo Qahar, os EUA ordenaram em 2009 que a embaixada em Cabul concedesse anualmente 1.500 vistos de imigração até 2013 para cidadãos afegãos que tivessem trabalhado para o governo americano no Afeganistão.

Desde então foram registradas mais de cinco mil solicitações, mas só 12% conseguiram o documento. "O atraso significa não só semanas ou meses, mas anos. Isto é o que tem quem ajudou os EUA arriscando a própria vida e sabendo que nossa família poderia ser assassinada a qualquer momento", criticou Qahar.

O intérprete lembra a "triste história" de um colega afegão que estava nas mesmas missões, Ghulam Sakhi Maqsudi, que morreu em um ataque suicida na província de Wardak. Segundo Qahar, Maqsudi "estava esperando a chegada do visto", que demorou mais de um ano por causa de "formalidades banais".

Algo semelhante aconteceu com Masud Sarwari, que trabalhava como funcionário em um escritório de relações públicas em Bagram e foi assassinado a tiros por insurgentes.

Na semana passada, membros do exército britânico se encontraram com o primeiro-ministro David Cameron para pedir que se acelere o processo de emissão de vistos para todos os intérpretes que serviram às tropas do Reino Unido.

As autoridades britânicas nem têm claro ainda de quantos potenciais imigrantes estão falando. O Ministério da Defesa calcula que atualmente 550 das 1.100 pessoas que trabalham para a Grã Bretanha no Afeganistão são intérpretes, mas desde a queda do regime talibã no final de 2001 serão provavelmente "milhares".

Milhares de histórias de medo e desconfiança que se agarram a fiapos de esperança. EFE

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Um deles é Abdul Qahar, de 27 anos, que mora em Cabul há nove e trabalha para as forças americanas na base aérea de Bagram, cidade próxima a capital afegã.

"Acho que os afegãos trabalharam para melhorar a vida de suas famílias, servir à comunidade, mas a imagem que se tem de nós é diferente", disse Qahar.

"A situação está piorando. Muitos morreremos, seremos decapitados ou receberemos ameaças dos talibãs", lamentou.

Frequentemente os intérpretes afegãos ficam na primeira linha de tiro durante as operações militares para informar sobre os distritos e aldeias e facilitar o cumprimento das missões.

Apesar de o trabalho proporcionar um lucro econômico que dificilmente conseguiriam em outras funções, os coloca também na mira da insurgência e faz com que os profissionais sejam muitas vezes alvo de represálias.

"Os talibãs me atacaram várias vezes. Uma vez, em 2010, fiquei refém por oito horas e consegui escapar depois de tomar um tiro na perna esquerda" revelou Qahar.


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Desde 2011 o exército e a polícia afegã assumem gradualmente mais responsabilidades em matéria de segurança no país até assumir o completo controle, o que está previsto para o ano que vem.

Enquanto isso, o conflito está em um dos momentos mais sangrentos e muitos analistas ainda consideram os talibãs uma séria ameaça à estabilidade do Afeganistão após a saída da Otan. Conscientes disso, várias potências estrangeiras prometeram vistos a milhares de antigos e atuais empregados afegãos.

O que dá alguma esperança para um intérprete de 25 anos, que prefere manter o anonimato, e diz estar em perigo na sua região, o sul do país, depois de pedir visto para os Estados Unidos em 2011.

"Perdi a esperança de obtê-lo após esperar quase dois anos e agora nem sequer posso retornar a minha aldeia. Vejo a minha família uma vez cada dois meses em Cabul, pois é mais seguro que Helmand", contou.

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Segundo Qahar, os EUA ordenaram em 2009 que a embaixada em Cabul concedesse anualmente 1.500 vistos de imigração até 2013 para cidadãos afegãos que tivessem trabalhado para o governo americano no Afeganistão.

Desde então foram registradas mais de cinco mil solicitações, mas só 12% conseguiram o documento. "O atraso significa não só semanas ou meses, mas anos. Isto é o que tem quem ajudou os EUA arriscando a própria vida e sabendo que nossa família poderia ser assassinada a qualquer momento", criticou Qahar.

O intérprete lembra a "triste história" de um colega afegão que estava nas mesmas missões, Ghulam Sakhi Maqsudi, que morreu em um ataque suicida na província de Wardak. Segundo Qahar, Maqsudi "estava esperando a chegada do visto", que demorou mais de um ano por causa de "formalidades banais".

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Na semana passada, membros do exército britânico se encontraram com o primeiro-ministro David Cameron para pedir que se acelere o processo de emissão de vistos para todos os intérpretes que serviram às tropas do Reino Unido.

As autoridades britânicas nem têm claro ainda de quantos potenciais imigrantes estão falando. O Ministério da Defesa calcula que atualmente 550 das 1.100 pessoas que trabalham para a Grã Bretanha no Afeganistão são intérpretes, mas desde a queda do regime talibã no final de 2001 serão provavelmente "milhares".

Milhares de histórias de medo e desconfiança que se agarram a fiapos de esperança. EFE

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