Foto de criança chorando em fronteira dos EUA vence prêmio
A 62º edição do World Press Photo elegeu a feita pelo fotógrafo John Moore como a melhor do ano
EFE
Publicado em 12 de abril de 2019 às 10h46.
Última atualização em 12 de abril de 2019 às 10h51.
Amsterdã — A cena de uma menina hondurenha que chora na fronteira entre México e Estados Unidos - uma imagem que retrata o outro lado das políticas de "tolerância zero" do presidente americano, Donald Trump - e foi eternizada pela lente do fotógrafo John Moore foi eleita nesta quinta-feira a foto do ano no prêmio World Press Photo.
O júri da 62º edição do prêmio considerou a imagem como Foto de imprensa mundial do ano e destacou o fato de representar "um protesto público contra a polêmica medida" criada pelo governo dos Estados Unidos de separar menores de idade dos pais ou responsáveis. A separação não chegou a acontecer com a protagonista da imagem, a menina Yanela Sanchez, e sua mãe, Sandra, mas a foto ganhou o mundo.
"Surpreendente, única, relevante e memorável", disse Whitney C. Johnson, presidente do júri da competição, a maior do fotojornalismo em nível mundial.
Já Alice Martins, fotojornalista e membro do júri do World Press Photo, argumentou que a foto vencedora diz muito sobre a história e, ao mesmo tempo, faz com que quem está vendo se sinta conectado com o ocorrido.
"Esta foto mostra um tipo diferente de violência, a psicológica", acrescentou ela.
Moore fez o registro na noite de 12 de junho de 2018, no sul do Texas, em uma área conhecida como o Vale do Rio Grande. Ele viajava com um grupo de guardas de fronteira quando avistou mais de 12 pessoas caminhando para entrar nos Estados Unidos, mas que foram levadas pelos agentes a um centro de solicitantes de asilo, conforme explicou à Agência Efe.
A protagonista da foto, uma menina assustada, chorava enquanto o grupo era revistado. Ela e a mãe foram detidas, da mesma forma que os demais, e obrigadas a entregar pertences, documentos e até mesmo os cadarços, deixando para trás o sonho que tinham de tentar viver nos Estados Unidos.
Moore, que trabalha para a agência Getty Images, afirmou que naquela noite conseguiu ver nos olhos da menina e, desde o início, o medo.
"Porque era tarde e, certamente, (os migrantes) enfrentavam uma situação incomum para a maioria deles", explicou o fotojornalista, que disse que, pelo menos na sua presença, a Guarda de Fronteira tratou o grupo muito bem.
Quando um agente teve que registrar Sandra, ela colocou a filha de 2 anos no chão. Naquele momento, a criança começou a chorar, inconsolável, por medo de se separar da mãe.
Moore, então captou a imagem que, depois de estampar as capas de grandes jornais e revistas, entre eles a "Time", lhe valeu hoje o World Press Photo.
Para o fotógarfo, a imagem representa "um exemplo visual da política de tolerância zero" do governo dos Estados Unidos e, embora nada garanta que o sucesso da foto tenha servido para pressionar o presidente americano a se retratar da decisão de separar as crianças das famílias, ela causou incômodo. A equipe de Trump considerou "vergonhoso" que fosse utilizada a imagem de uma menina chorando para denunciar a medida.
Moore já trabalhou em pelo menos 65 países, e suas fotografias foram publicadas internacionalmente durante 17 anos, até que ele decidiu voltar aos Estados Unidos, no fim de 2008, para se especializar em imigração e fronteiras.
Na mesma linha, o júri do World Press Photo também escolheu como "Foto história do ano" a série "A Caravana Migrante", de Pieter ten Hoopen, que documenta "a maior" manifestação de imigrantes do ano, com até 7 mil pessoas, incluindo pelo menos 2.300 crianças, de acordo com números da Organização das Nações Unidas (ONU). A caravana, organizada através de uma campanha nas redes sociais, saiu de San Pedro Sula, em Honduras, em 12 de outubro, e passou por Nicarágua, El Salvador e Guatemala, ocupando manchetes no mundo todo e fazendo críticas às políticas xenofóbicas de Trump.
"A edição da história tinha que ser bastante forte, e a narração deveria estar lá com diferentes elementos de cenário", disse a presidente do júri sobre a série fotográfica elaborada por Hoopen, especializado em guerras e crises humanitárias desde 2004 e fotógrafo da Agência VU, em Paris.