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Fake news sobre coronavírus leva 44 pessoas à morte no Irã

O Irã é um dos países mais fechados do mundo e é um dos mais afetados pelo novo coronavírus. A EXAME, brasileiro relata a situação atual no país

Irã: nesta terça-feira, dia 10, o país registrou mais 54 de mortes causadas pela doença, batendo o recorde mundial de novos óbitos nas últimas 24 horas (Nazanin Tabatabaee/Reuters)

Irã: nesta terça-feira, dia 10, o país registrou mais 54 de mortes causadas pela doença, batendo o recorde mundial de novos óbitos nas últimas 24 horas (Nazanin Tabatabaee/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 10 de março de 2020 às 17h27.

Última atualização em 10 de março de 2020 às 17h52.

São Paulo — Cerca de 150 brasileiros que vivem no Irã, trabalhando em ONGs ou empresas  privadas, estão bastante preocupados com a rápida propagação do coronavírus na região. Nesta terça-feira, 10, o país registrou mais 54 de mortes causadas pela doença, batendo o recorde mundial de novos óbitos nas últimas 24 horas.

Oficialmente, o Irã tem mais de 8.000 infectados, 230 mortos e é o terceiro país com mais casos da doença no mundo. A oposição, no entanto, alega que esse número pode ser maior, já que muitos casos não estariam sendo notificados.

As ruas de Teerã, capital do Irã, e de outras importantes cidades do país têm amanhecido praticamente vazias. Faltam máscaras e álcool-gel em quase todo o país. O estoque desses produtos já acabou na Embaixada do Brasil em Teerã, e diplomatas brasileiros alocados em países próximos têm enviado remessas desses materiais.

Mas os problemas não param por ai: a falta de informação sobre a doença tem levado a erros fatais. Na última semana, começaram a circular boatos de que o álcool poderia combater o vírus.

Como a venda e o consumo de bebidas alcóolicas é proibida no país, que segue à risca os preceitos do islamismo, as pessoas resolveram tomar álcool puro, usado para limpeza, ou bebidas contrabandeadas.

O resultado foi catastrófico e mais de 40 iranianos morreram nesta terça-feira por intoxicação causada por metanol.

Um brasileiro que mora no país e preferiu não se identificar conta à EXAME que moradores têm medo de falar publicamente sobre o assunto e sofrer represálias do governo. "A situação aqui é terrível, muito pior do que se pensa”, disse. Ele trabalha em uma ONG internacional que presta assistência a crianças carentes do país.

“Ninguém sabe ao certo o grau da crise, mas fala-se em mais de 1.500 mortos”, afirma. As mídias sociais estão sendo monitoradas, o que aumenta ainda mais o temor de falar sobre a epidemia e acabar tendo problemas com o governo.

O regime iraniano, centrado na figura do aiatolá Ali Khamanei, é considerado bastante repressor. Manifestações costumam ser contidas à bala e as mulheres são obrigadas a usar um véu, chamado hijab, para cobrir a cabeça. Estrangeiros não podem andar sozinhos pelo país – é preciso ter a companhia permanente de um guia de turismo local.

As comemorações do Ano Novo Persa, marcadas para o próximo dia 21, também estão comprometidas. O governo já anunciou que barreiras militares deverão ser instaladas nos principais pontos turísticos, como as praias do Mar Cáspio, para impedir o deslocamento de pessoas.

As rodovias com maior fluxo de automóveis também deverão ter o tráfego suspenso em boa parte do país. De qualquer forma, não há mesmo muito o que comemorar.

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