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Ex-militares deportados pelos EUA nutrem esperança de voltarem ao país

Alguns anos atrás, eles eram militares nos EUA, mas depois, por algum erro ou contravenção, foram expulsos

Soldados do Exército dos Estados Unidos no Afeganistão (REUTERS/Andrew Burton/Reuters)
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EFE

Publicado em 15 de julho de 2018 às 10h55.

Tijuana (México) - Assim como dezenas de ex-militares deportados, o mexicano José Melquíades continua sentindo os Estados Unidos como o seu país, e por isso mantém, do outro lado da fronteira, a esperança de voltar a um lugar pelo qual ele garante não nutrir "sentimentos ruins".

Na cidade de Tijuana, no México, Melquíades dorme em uma pequena casa que serve de ponto de encontro e refúgio para pessoas que, como ele, sonham em voltar ao país que as deportou. Alguns anos atrás, elas eram militares nos EUA, mas depois, por algum erro ou contravenção, foram expulsas.

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A casa tem uma grande bandeira americana como item de decoração e uma parede cheia de fotos de militares. No segundo andar, um quarto com duas camas pequenas, uma pilha de livros (em inglês) e aparelhos para exercícios físicos será o local onde Melquíades ficará pelos próximos três meses, no mínimo.

"Esta é a minha bandeira e vai continuar a ser", ressaltou, orgulhoso.

Nascido em Guadalajara e hoje aos 64 anos, ele viveu praticamente a vida inteira nos Estados Unidos, aonde chegou quando tinha 11. Entrou para o serviço militar no início dos anos 70. Por muitos anos, foi instrutor de sistemas de helicópteros de combate e fez parte da Guarda Nacional. Um dia, se viu no meio de um tiroteio e foi levado pela Polícia.

"Não fiz nada", declarou Melquíades em entrevista à Agência Efe, reiterando sua inocência.

Foram 490 dias preso, mas sem condenação. Mesmo sem sentença, acabou deportado. Com direito a residência em solo americano, seu "erro", ele mesmo reconheceu, foi não ter se naturalizado quando teve a oportunidade, porque nunca pensou "que fosse precisar".

"Meu objetivo é voltar. Considero os Estados Unidos como o meu país. Não tenho outro", defendeu José, que teve todos os benefícios como militar suspensos por um processo que, segundo ele, teve irregularidades.

Mesmo assim, ele garantiu não estar magoado.

"Não tenho sentimentos negativos, nem mesmo contra o país. O que o sistema fez não quer dizer que todo o país seja igual", ponderou.

Outro ocupante da casa, Armando Scott foi deportado há dez anos e não esquece o que sentiu naquele momento.

"O que mais me doeu foi que coloquei a minha vida em risco por aquele país e me chutaram como lixo", disse, ressentido.

Nascido no Panamá, ele sempre quis trabalhar no exército, como o pai e os irmãos. Armando chegou a Nova York em 1980 e passou sete anos no serviço militar. Foi preso em San Diego porque deu carona para um colega de trabalho que não tinha a documentação em dia.

O advogado de defesa sugeriu que ele se declarasse culpado, porque, em tese, pegaria apenas seis meses de prisão e depois seria solto. Ele seguiu a orientação, mas o resultado não foi o planejado.

"Quando estava para sair da prisão, um funcionário da Imigração me disse: 'Não, você vem comigo'. Eu tinha que brigar pelo meu caso, mas não tinha dinheiro", explicou.

De acordo com um relatório de novembro do ano passado da ONG National Immigration Forum, cerca de 40 mil imigrantes trabalham nas Forças Armadas dos Estados Unidos, e cerca de 50 mil veteranos são estrangeiros. A maioria tem visto de residente permanente.

Conforme o Instituto de Política de Migração, a presença de imigrantes nas forças armadas tem vários precedentes históricos. Um exemplo disso é que durante a Guerra de Secessão (1861 a 1865), 20% dos 1,5 milhão de membros do Exército eram estrangeiros.

Segundo a rede de televisão "CNN", há diferentes casos de militares deportados, mas a maioria se refere a pessoas que já saíram das Forças Armadas e cometeram alguma infração como civis.

Para os ex-militares deportados, a esperança tem nome e sobrenome: Héctor Barajas, que é o fundador do "The Bunker", a casa que os abriga em Tijuana. Ele conseguiu voltar aos Estados Unidos em abril, oito anos depois de ser expulso após se envolver em uma troca de tiros.

Para Emiliano Arce, que tem 56 anos e nasceu no estado mexicano de Nayari, é preciso uma mudança na legislação para que "os veteranos se tenham uma segunda oportunidade". Ele morava nos Estados Unidos desde os nove anos. Quando completou a maioridade, entrou para a Marinha.

"Sempre quis ser soldado. Gostava da ideia, porque as pessoas diziam que, assim, eu poderia ir à Alemanha, ao Japão, às Filipinas... e eu adorava viajar", contou.

Arce serviu por quatro anos, e, ao sair, teve problemas com o álcool. Foi detido duas vezes por dirigir embriagado e depois caiu no mundo das drogas. Um policial infiltrado descobriu que ele também traficava, e o ex-militar acabou sendo condenado a cinco anos de prisão.

Da mesma forma que Melquíades, ele também acreditava que, por ter sido militar, não seria deportado.

"Se soubesse, teria olhado as coisas um pouco melhor", admitiu.

Apesar de ter consciência de que cometeu um crime grave, ele defendeu que a expulsão "não deixa de ser uma injustiça".

"No tempo em que estive preso, fiz tudo o que o juiz disse que eu tinha que fazer. As pessoas que estão lá cometem crimes e, quando cumprem a sentença, ficam livres. Por que eu não?", questionou. EFE

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