EUA vão às urnas em legislativas; veja o que está em jogo
Eleições desta terça-feira definirão as maiorias parlamentares dois anos após o início do mandato de Trump
AFP
Publicado em 5 de novembro de 2018 às 09h45.
Última atualização em 5 de novembro de 2018 às 11h05.
O presidente Donald Trump está se mostrando muito confiante antes das eleições desta terça-feira, que definirão as maiorias parlamentares dois anos após o início de seu mandato, ao passo que os democratas esperam vingar-se politicamente.
"Vá votar", exclamou o presidente no domingo em seu quarto comício de fim de semana, em Chattanooga, Tennessee.
Nesta segunda-feira, ele discursará em outros três atos em estados do centro-oeste.
Multiplicando os deslocamentos, como aconteceu na última parte de sua campanha vitoriosa em novembro de 2016, Trump repetiu várias vezes que sentiu "uma eletricidade no ambiente como nunca" desde aquele ano.
Em cada etapa, ele deu a impressão de realmente saborear o contato com aqueles que o levaram ao poder, que o apoiaram novamente durante eventos que duraram pelo menos uma hora e meia, tendo o avião presidencial como pano de fundo em comícios que ocorreram nos aeroportos.
"A onda azul não é mais ouvida", disse ele na noite de domingo, referindo-se à ampla ofensiva democrata que algumas pesquisas previram meses atrás.
Seu vice-presidente, Mike Pence, brincou comentando como "a onda azul bate contra uma parede vermelha", da cor dos republicanos.
Depois de numerosas consultas parciais e locais realizadas após a eleição de 2016, nesta terça-feira será dado o primeiro veredicto de alcance nacional dos americanos na presidência Trump.
O presidente assumiu a liderança da campanha republicana, colocando-se como garantidor da boa saúde econômica do país e como escudo contra a imigração clandestina e as "caravanas" de migrantes centro-americanos que atualmente atravessam o México para os Estados Unidos.
"Os democratas querem convidar os clandestinos para inundar o país, caravana após caravana", disse ele. "É uma invasão, não estou interessado no que a mídia falsa diz, é uma invasão do nosso país".
Obama mobilizado
Os democratas concentraram sua campanha na defesa da reforma do sistema de saúde de Barack Obama, mas também apontam para a rejeição despertada por Trump em muitos eleitores, que o consideram mentiroso, catalisador da violência, racista e antissemita.
Eles contam com a mobilização dos eleitores das periferias urbanas e dos republicanos moderados que se arrependem da opção de 2016.
Seu líder natural é o próprio Obama, que tem sido o mais procurado pelos candidatos democratas para obter seu apoio.
"Esses republicanos mentem de forma flagrante, repetida, vergonhosa, inventando qualquer coisa", afirmou Obama durante uma manifestação em apoio ao candidato democrata ao Senado pelo estado de Indiana.
Congresso dividido
Historicamente, o partido no poder raras vezes ganhou as eleições de meio de mandato, com a recente exceção de George W. Bush em 2002, após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Obama e Bill Clinton, ambos democratas, viram seus adversários políticos conquistarem o Congresso depois de dois mandatos no cargo.
Mas a disputa é muito diferente entre as duas casas do Congresso. Na Câmara dos Deputados, onde os democratas precisam conquistar 23 cadeiras dos republicanos para conquistar a maioria, as pesquisas os favorecem em nível nacional.
Uma pesquisa publicada no domingo pelo Washington Post e similar a outras dá 50% das intenções de voto aos democratas contra 43% dos republicanos. A última pesquisa da CBS prevê uma maioria estreita dos democratas como o cenário mais provável. Mas prever o resultado nos mais de sessenta distritos em jogo é uma tarefa impossível.
No Senado, onde apenas 35 dos 100 lugares estão em disputa por períodos de seis anos, os republicanos estão à frente, porque as eleições - as mais importantes do calendário - ocorrem principalmente em estados conservadores.
Os senadores em pior situação são os democratas eleitos há seis anos em Dakota do Norte e Indiana, após a reeleição de Barack Obama.
Os Estados Unidos poderão então amanhecer no dia 3 de janeiro de 2019 com um Congresso partido em dois.
Esse cenário é suficiente para colocar obstáculos no caminho do chefe de Estado, que verá sua agenda legislativa completamente bloqueada durante os 22 meses anteriores à próxima eleição presidencial, em novembro de 2020.
Desafio democrata no Texas
Nesta eleição, o estado do Texas é o centro de todos os olhos com a campanha mais seguida de perto e também a mais cara. Na arena estarão o candidato democrata ao Senado Beto O'Rourke, um antigo cantor de rock-punk que no momento está na Câmara, e o republicano consolidado Ted Cruz.
O'Rourke defende a saúde pública, uma reforma do sistema de justiça e um reforço das leis sobre armas em uma campanha na qual ele ficou conhecido simplesmente pelo seu primeiro nome.
Embora esteja à frente nas pesquisas nas grandes cidades, para vencer tem que convencer os eleitores das áreas rurais.
Tirar o Texas dos republicanos tem sido um sonho almejado pelos democratas há anos, mas precisa do apoio dos eleitores que se opõem a Trump em áreas da periferia urbana para realizaá-lo.
Os republicanos de olho no Missouri
Para os republicanos, o Missouri é uma oportunidade de ouro para arrancar os democratas de uma posição privilegiada depois que a senadora Claire McCaskill ficou fragilizada após dois mandatos.
Este estado do centro dos Estados Unidos se inclinou para conservadores nos últimos anos. Nas eleições de 2016, Trump venceu Hillary Clinton por 19 pontos.
Lá, Josh Hawley compete empatado com McCaskill - e com Trump ao seu lado encorajando e elogiando-o como uma "estrela".
Se os republicanos prevalecerem no Missouri - ou em Dakota do Norte ou Indiana -, onde os democratas defenderão vagas que já ocupam em um território propenso a Trump, provavelmente conseguirão manter a maioria no Senado.
Polêmica en Florida
Apesar de Hillary Clinton ter conquistado o imenso 26º distrito da Flórida por 16 pontos em 2016, os democratas não têm facilidade para tirar Carlos Curbelo.
Este republicano de origem latina critica regularmente Trump, uma posição que poderá ajudá-lo contra sua rival, a democrata Debbie Mucarsel-Powell.
Outra disputa importante é a campanha do democrata Andrew Gillum, prefeito de Tallahassee, que busca se tornar o primeiro governador negro do Estado.
Em seu caminho, o fiel companheiro de Trump, Ron DeSantis, que causou polêmica na quarta-feira, quando fez alusão a adversário afro-americano usando uma expressão que continua a palavra macaco. Ele sempre alerta os eleitores da Flórida contra a tentação de votar em um "programa socialista".
Duelo no deserto
No Distrito 2 do Arizona, na fronteira com o México, a política de imigração de Trump desempenhará um papel central para os eleitores que decidirão entre a republicana de origem latina Lea Marquez Peterson ou a ex-congressista democrata Ann Kirkpatrick.
A atual representante, a republicana Martha McSally, também se apresenta ao Senado para um duelo entre mulheres contra Kyrsten Sinema.
Minnesota no foco
O estado de Minnesota tem a distinção de possuir duas cadeiras democratas que estão em maior risco, de acordo com oCook Political Report.
Um deles é o Distrito 8, uma fortaleza democrata que se inclina para a direita. Entre as principais questões enfrentadas pelo candidato democrata Joe Radinovich e seu rival republicano, o jogador de hóquei Pete Stauber, estão as guerras comerciais e ressentimento amargo dos eleitores mais velhos que perderam seus empregos no setor siderúrgico e madeireiro.
Surpresas no Kansas
Com os democratas encorajados pelo entusiasmo popular, o partido aspira a entrar em uma área que no momento só tem representantes republicanos: o Kansas.
Sharice Davids, uma candidata lésbica de origem indígena, encara o congressista republicano Kevin Yoder pela sede do Distrito 3.
Yoder esteve em apuros nesta semana, quando seu partido cortou os fundos da campanha, uma indicação pouco animadora sobre seus resultados.