Estância de gado no Paraguai é investigada por genocídio
Grupo indígena que vive em uma terra no Chaco do Paraguai enfrenta a pressão diária de um fazendeiro, contra quem foi aberta investigação por genocídio
Da Redação
Publicado em 28 de outubro de 2014 às 11h39.
Estância Santa Maria - Um grupo indígena que vive desde tempos imemoráveis em uma terra no Chaco do Paraguai enfrenta a pressão diária de um fazendeiro que conta com o título desse terreno e contra quem a procuradoria do país abriu uma investigação por genocídio .
A comunidade está dividida, pois uma parte das 22 famílias vive dentro da fazenda, chamada Santa Maria, e outros saíram por diversos motivos e os donos já não lhes deixam voltar.
Marciana Antonia Galeano, de 34 anos, saiu um dia para acompanhar seus filhos à escola que se encontra a mais de 15 quilômetros da comunidade e nunca mais pôde retornar.
Há 15 anos vive junto a outros membros da comunidade à beira da estrada que passa em frente à estância de gado, rogando periodicamente aos proprietários que lhes permitam passar para ver sua mãe e outros parentes que seguem no interior.
"Nem visitar minha família pelo menos um dia por semana. Estou proibida de ver minhas tias ou a minha mãe, e elas também não podem sair. O proprietário não quer que saiam", disse Marciana à Agência Efe.
"Estão em um chiqueiro, vivem nas mesmas condições que os porcos e não nos deixam levar-lhes alimentos", lamentou.
No último dia 22 de outubro Santiago González, procurador da Unidade Especializada de Direitos Humanos, entrou na estância graças a uma ordem judicial para verificar um possível caso de genocídio, segundo explicou à Efe.
O gerente da fazenda, Carlos Reinfeld, marido da proprietária, facilitou a entrada da comitiva fiscal e policial, mas impediu o acesso da imprensa até o local onde se encontra a comunidade, vários quilômetros campo dentro.
"O procedimento se iniciou por causa de uma denúncia já do ano passado por uma situação que poderiam estar desrespeitando os direitos humanos dos indígenas que estão no assentamento", declarou González.
Reinfeld, por sua parte, nega que os aborígines da etnia énxet que vivem na fazenda constituam uma comunidade indígena.
A estância é parte de um estabelecimento criador de gado de mais de 100 mil hectares que pertence a Antonella Sacarello, situado cerca de 160 quilômetros ao norte de Assunção.
Abrange parte do território ancestral do povo énxet, uma das etnias milenares oriundas do árido Chaco, que ocupa a metade ocidental do Paraguai.
Seus donos impediram em várias ocasiões a entrada das autoridades do governo para assistir e recensear o grupo nativo, segundo uma entidade que assessora a procuradoria em assuntos indígenas.
"Ele pretende que minha gente nem figure nos papéis", se queixou Marciana, em referência a Reinfeld.
Para os indígenas o cúmulo do que consideram uma perseguição a seu povo é que os fazendeiros lhes impediram de levar assistência sanitária a familiares doentes que estão dentro da estância.
Pelo menos quatro deles morreram nos últimos anos sem poder ser atendidos por uma ambulância, segundo manifestaram em sua denúncia perante as autoridades.
Os criadores de gado não lhes deixaram enterrá-los em seu território tradicional, motivo pelo qual os túmulos estão no costado da estrada. "Eles querem enterrar seus mortos ali para ficar com a terra", alega Reinfeld.
O fazendeiro mantém pelo menos uma dezena de indígenas como empregados permanentes. Esse grupo conta com cédula de identidade e recebe 1,5 milhão de guaranis (cerca de R$ 825) ao mês, segundo disse Reinfeld, que incluiu nessa quantia o valor do alojamento e os alimentos que lhes fornece.
O salário mínimo no Paraguai é de 1,82 milhões de guaranis mensais (pouco mais de R$ 1 mil).
Os demais, que seguem sem identificação, foram contratados como peões por muito pouco dinheiro, segundo os indígenas. "Ele paga como se fôssemos escravos. 130 mil guaranis ao mês (R$ 75) para ser peão na estância", disse Marciana.
Os conflitos pela terra são muito comuns no Paraguai, onde grandes proprietários contam com títulos, às vezes legais e outras vezes ilegais, de terrenos onde residem camponeses e indígenas.
A metade dos 140.000 aborígines que vivem no Paraguai carece de acesso a terras para subsistir e manter sua cultura e língua, segundo a Pastoral Indígena da Igreja Católica.
"O paraguaio tem que entender que nós também somos humanos, já são quatro corpos. Eles precisam nos dar a terra. Este patrão deve pagar pelos mortos, não podem fazer isto; se ele não quer ver os indígenas, que vá embora daqui", disse Galeano.
Estância Santa Maria - Um grupo indígena que vive desde tempos imemoráveis em uma terra no Chaco do Paraguai enfrenta a pressão diária de um fazendeiro que conta com o título desse terreno e contra quem a procuradoria do país abriu uma investigação por genocídio .
A comunidade está dividida, pois uma parte das 22 famílias vive dentro da fazenda, chamada Santa Maria, e outros saíram por diversos motivos e os donos já não lhes deixam voltar.
Marciana Antonia Galeano, de 34 anos, saiu um dia para acompanhar seus filhos à escola que se encontra a mais de 15 quilômetros da comunidade e nunca mais pôde retornar.
Há 15 anos vive junto a outros membros da comunidade à beira da estrada que passa em frente à estância de gado, rogando periodicamente aos proprietários que lhes permitam passar para ver sua mãe e outros parentes que seguem no interior.
"Nem visitar minha família pelo menos um dia por semana. Estou proibida de ver minhas tias ou a minha mãe, e elas também não podem sair. O proprietário não quer que saiam", disse Marciana à Agência Efe.
"Estão em um chiqueiro, vivem nas mesmas condições que os porcos e não nos deixam levar-lhes alimentos", lamentou.
No último dia 22 de outubro Santiago González, procurador da Unidade Especializada de Direitos Humanos, entrou na estância graças a uma ordem judicial para verificar um possível caso de genocídio, segundo explicou à Efe.
O gerente da fazenda, Carlos Reinfeld, marido da proprietária, facilitou a entrada da comitiva fiscal e policial, mas impediu o acesso da imprensa até o local onde se encontra a comunidade, vários quilômetros campo dentro.
"O procedimento se iniciou por causa de uma denúncia já do ano passado por uma situação que poderiam estar desrespeitando os direitos humanos dos indígenas que estão no assentamento", declarou González.
Reinfeld, por sua parte, nega que os aborígines da etnia énxet que vivem na fazenda constituam uma comunidade indígena.
A estância é parte de um estabelecimento criador de gado de mais de 100 mil hectares que pertence a Antonella Sacarello, situado cerca de 160 quilômetros ao norte de Assunção.
Abrange parte do território ancestral do povo énxet, uma das etnias milenares oriundas do árido Chaco, que ocupa a metade ocidental do Paraguai.
Seus donos impediram em várias ocasiões a entrada das autoridades do governo para assistir e recensear o grupo nativo, segundo uma entidade que assessora a procuradoria em assuntos indígenas.
"Ele pretende que minha gente nem figure nos papéis", se queixou Marciana, em referência a Reinfeld.
Para os indígenas o cúmulo do que consideram uma perseguição a seu povo é que os fazendeiros lhes impediram de levar assistência sanitária a familiares doentes que estão dentro da estância.
Pelo menos quatro deles morreram nos últimos anos sem poder ser atendidos por uma ambulância, segundo manifestaram em sua denúncia perante as autoridades.
Os criadores de gado não lhes deixaram enterrá-los em seu território tradicional, motivo pelo qual os túmulos estão no costado da estrada. "Eles querem enterrar seus mortos ali para ficar com a terra", alega Reinfeld.
O fazendeiro mantém pelo menos uma dezena de indígenas como empregados permanentes. Esse grupo conta com cédula de identidade e recebe 1,5 milhão de guaranis (cerca de R$ 825) ao mês, segundo disse Reinfeld, que incluiu nessa quantia o valor do alojamento e os alimentos que lhes fornece.
O salário mínimo no Paraguai é de 1,82 milhões de guaranis mensais (pouco mais de R$ 1 mil).
Os demais, que seguem sem identificação, foram contratados como peões por muito pouco dinheiro, segundo os indígenas. "Ele paga como se fôssemos escravos. 130 mil guaranis ao mês (R$ 75) para ser peão na estância", disse Marciana.
Os conflitos pela terra são muito comuns no Paraguai, onde grandes proprietários contam com títulos, às vezes legais e outras vezes ilegais, de terrenos onde residem camponeses e indígenas.
A metade dos 140.000 aborígines que vivem no Paraguai carece de acesso a terras para subsistir e manter sua cultura e língua, segundo a Pastoral Indígena da Igreja Católica.
"O paraguaio tem que entender que nós também somos humanos, já são quatro corpos. Eles precisam nos dar a terra. Este patrão deve pagar pelos mortos, não podem fazer isto; se ele não quer ver os indígenas, que vá embora daqui", disse Galeano.