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Eritreia, o maior cárcere de jornalistas na África

Cerca de 30 jornalistas sofrem nas prisões da Eritreia, que se tornou o maior cárcere de jornalistas na África

Jornais: sigiloso país, conhecido como 'a Coreia do Norte da África', está em último lugar do ranking da RSF de liberdade de imprensa de 2014 (sxc.hu)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de dezembro de 2014 às 09h10.

Nairóbi - Presos sem acusações justificadas ou por 'críticas ao governo', cerca de 30 jornalistas sofrem nas prisões da Eritreia, que se tornou o maior cárcere de jornalistas na África , segundo o último relatório sobre liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

O número exato de jornalistas presos não é claro, pois o governo impede a entrada de observadores internacionais no país, afirmou à Agência Efe o diretor para a África do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Tom Rhodes. Segundo ele, 'é difícil saber que o que acontece'.

Este sigiloso país, conhecido como 'a Coreia do Norte da África', está em último lugar do ranking da RSF de liberdade de imprensa de 2014. A Eritreia também é o segundo país do mundo com mais jornalistas presos, atrás apenas da China.

N.F., jornalista que fugiu da Eritreia após ser preso três vezes e que prefere não ser identificado, relatou que durante seu período no cativeiro eram frequentes torturas como privação do sono, agressões físicas e proibição de pão e água. Ele contou, inclusive, que existiam diferentes níveis de tortura que variavam de acordo com o crime cometido.

'O meu era um dos mais baixos. Os outros queriam ter o meu nível de tortura', lembrou, em entrevista por telefone.

Segundo ele, há um 'clima de medo' entre os jornalistas eritreus por causa da infiltração de informantes do governo na imprensa. Basta uma denúncia para ser transferido a um 'campo de tortura'.

Na Eritreia, não há veículos de comunicação privados, e os que existem, de propriedade governamental, seguem um discurso 'ultranacionalista' e beligerante, onde a censura é total. A liberdade de expressão, imprensa, reunião e associação são limitadas.

Rhodes ressaltou que a Eritreia é 'o país com mais censura no mundo', onde já não existem mais vozes críticas contra o governo, algo que seria um 'suicídio' para o atual mandato da Frente Popular para a Democracia e a Justiça (PFDJ, em inglês).

'Há uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada, mas às vezes os jornalistas nem se dão conta. Eles tapam os seus olhos e te levam para uma prisão', declarou o jornalista eritreu, acrescentando que podem se passar meses entre o governo analisar o que é publicado e ativar a polícia para detenções.

Neste clima de terror, os jornalistas seguem as diretrizes do governo, que transformam assim a imprensa em uma 'máquina de propaganda'.

Desde 2001, quando o presidente Issayas Afeworki fechou todos os veículos de comunicação de propriedade privada na Eritreia, os correspondentes estrangeiros foram expulsos e não há mais nenhum no país. Enquanto isso, os censores do governo filtram as notícias que chegam do exterior.

Segundo o relatório da RSF, o governo impediu a chegada de qualquer notícia sobre a Primavera Árabe, e a distribuição de internet no país é ínfima, controlada pela única companhia de telecomunicações existente, que pertence ao Estado.

A única forma de obter informações não censuradas pelo governo é em sites de emigrantes, embora seja necessário fazer estas consultas com precaução, porque basta a denúncia de um vizinho rancoroso para acabar preso, comenta N.F.

O governo utiliza as detenções arbitrárias para aterrorizar os jornalistas, por razões que vão desde a oposição política à pratica de uma religião não reconhecida pelo Estado, além da fuga do serviço militar obrigatório ou do país, explicou a pesquisadora da Anistia Internacional para a Eritreia, Rachel Nicholson.

Mesmo que pudessem fugir, isso acarretaria outros perigos. Segundo Nicholson, o governo adota represálias contra as famílias dos que conseguem escapar do autoritário país.

O 'paranoico' governo da Eritreia, segundo a organização 'Index on Censorship', repudia as acusações de ONGs e governos ocidentais sobre suas violações dos direitos humanos e alega que todas são 'motivadas politicamente'.

Os jornalistas que publicam críticas à gestão do país e os suspeitos de não partilhar das mesmas ideias do partido são acusados e presos por agir 'contra dos interesses da nação', concluiu Rhodes. EFE

aa/vnm/id

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O número exato de jornalistas presos não é claro, pois o governo impede a entrada de observadores internacionais no país, afirmou à Agência Efe o diretor para a África do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Tom Rhodes. Segundo ele, 'é difícil saber que o que acontece'.

Este sigiloso país, conhecido como 'a Coreia do Norte da África', está em último lugar do ranking da RSF de liberdade de imprensa de 2014. A Eritreia também é o segundo país do mundo com mais jornalistas presos, atrás apenas da China.

N.F., jornalista que fugiu da Eritreia após ser preso três vezes e que prefere não ser identificado, relatou que durante seu período no cativeiro eram frequentes torturas como privação do sono, agressões físicas e proibição de pão e água. Ele contou, inclusive, que existiam diferentes níveis de tortura que variavam de acordo com o crime cometido.

'O meu era um dos mais baixos. Os outros queriam ter o meu nível de tortura', lembrou, em entrevista por telefone.

Segundo ele, há um 'clima de medo' entre os jornalistas eritreus por causa da infiltração de informantes do governo na imprensa. Basta uma denúncia para ser transferido a um 'campo de tortura'.

Na Eritreia, não há veículos de comunicação privados, e os que existem, de propriedade governamental, seguem um discurso 'ultranacionalista' e beligerante, onde a censura é total. A liberdade de expressão, imprensa, reunião e associação são limitadas.

Rhodes ressaltou que a Eritreia é 'o país com mais censura no mundo', onde já não existem mais vozes críticas contra o governo, algo que seria um 'suicídio' para o atual mandato da Frente Popular para a Democracia e a Justiça (PFDJ, em inglês).

'Há uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada, mas às vezes os jornalistas nem se dão conta. Eles tapam os seus olhos e te levam para uma prisão', declarou o jornalista eritreu, acrescentando que podem se passar meses entre o governo analisar o que é publicado e ativar a polícia para detenções.

Neste clima de terror, os jornalistas seguem as diretrizes do governo, que transformam assim a imprensa em uma 'máquina de propaganda'.

Desde 2001, quando o presidente Issayas Afeworki fechou todos os veículos de comunicação de propriedade privada na Eritreia, os correspondentes estrangeiros foram expulsos e não há mais nenhum no país. Enquanto isso, os censores do governo filtram as notícias que chegam do exterior.

Segundo o relatório da RSF, o governo impediu a chegada de qualquer notícia sobre a Primavera Árabe, e a distribuição de internet no país é ínfima, controlada pela única companhia de telecomunicações existente, que pertence ao Estado.

A única forma de obter informações não censuradas pelo governo é em sites de emigrantes, embora seja necessário fazer estas consultas com precaução, porque basta a denúncia de um vizinho rancoroso para acabar preso, comenta N.F.

O governo utiliza as detenções arbitrárias para aterrorizar os jornalistas, por razões que vão desde a oposição política à pratica de uma religião não reconhecida pelo Estado, além da fuga do serviço militar obrigatório ou do país, explicou a pesquisadora da Anistia Internacional para a Eritreia, Rachel Nicholson.

Mesmo que pudessem fugir, isso acarretaria outros perigos. Segundo Nicholson, o governo adota represálias contra as famílias dos que conseguem escapar do autoritário país.

O 'paranoico' governo da Eritreia, segundo a organização 'Index on Censorship', repudia as acusações de ONGs e governos ocidentais sobre suas violações dos direitos humanos e alega que todas são 'motivadas politicamente'.

Os jornalistas que publicam críticas à gestão do país e os suspeitos de não partilhar das mesmas ideias do partido são acusados e presos por agir 'contra dos interesses da nação', concluiu Rhodes. EFE

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