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Em Natal minguado pela crise, espanhóis mantêm a fé na loteria

Loteria do 'Gordo' é a mais rica do mundo e dá esperança de melhoria de vida apesar dos problemas econômicos

A loteria 'El Gordo", na Espana, tem verba de 2,32 bilhões de euros (Pierre-Philippe Marcou/AFP/AFP)
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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2010 às 14h48.

Madri - Menos presentes, mesas modestas e ruas pouco iliminadas: os espanhóis se resignaram a passar este ano um Natal minguado pela crise, mas mantêm viva mais do que nunca a ilusão do Gordo, o tradicional sorteio da loteria, com a esperança de conseguir nem que seja algum trocado.

Alberto Espinosa, funcionário público de 38 anos, comprou seus bilhetes de loteria em uma loja da Porta do Sol, em pleno centro de Madri, faltando dois dias para o grande sorteio da quarta-feira.

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Entre o sonho e a realidade, quer acreditar no primeiro prêmio, mas jogará menos do que no ano passado.

"A gente sabe que é difícil ganhar, mas ao mesmo tempo, tem esperança", disse.

Por causa da crise, o salário de Alberto despencou, assim como o de todos os funcionários públicos espanhóis, que tiveram uma redução de 5% em média de seu salário devido a medidas governamentais de austeridade.

"Antes a gente sonhava fazer uma grande viagem, comprar um carro caro. Agora, o sonho é em poder viver tranquilo, sem se preocupar com o fim do mês", acrescentou.

Manuel Rivero, comerciante aposentado de 67 anos, gastará cem euros comprando cinco bilhetes, um para ele e dois para cada um de seus filhos, que lutam para chegar até o fim do mês e pagar as hipotecas.

"Um dos meus filhos está em greve, a mulher do outro não trabalha. É uma esperança tola, mas se fosse ganhar, isto solucionaria muitos problemas", disse, em uma longa fila em frente à casa lotérica Doña Manolita, na Gran Vía.

Dotado, este ano, de 2,32 bilhões de euros, o Gordo é a loteria mais rica do mundo, razão pela qual no centro de Madri, longas filas têm se formado estes dias em frente às casas lotéricas, a alguns passos de grandes lojas.

Celeste Consuegra, funcionária de um centro geriátrico, que está com o marido desempregado há um ano, teve que fazer uma escolha: este ano, só as crianças terão presentes.

"É mais importante para os pequenos receberem presentes, eles têm muita ilusão; nós entendemos melhor a situação", admitiu esta mãe de 48 anos que sai de uma loja carregada com uma bolsa cheia de presentes, embrulhados em papéis coloridos.


A Federação de Usuários e Consumidores Independentes (Fuci) calculou que as despesas de Natal dos lares espanhóis diminuirão pelo terceiro ano consecutivo, passando para 674 euros contra 728 euros do ano passado e os 814 de 2008, quando a crise econômica fez a Espanha mergulhar numa recessão.

"O fato de nos últimos três anos ter caído o consumo em 24% deixa patente os estragos que a crise está provocando em muitas famílias que devem reduzir ainda mais o gasto durante os Natais para poder chegar ao fim do mês", explicou a presidente do Fuci, Agustina Laguna.

As vendas de bilhetes de loteria para o fim do ano diminuíram 9%, destaca a federação, assim como também os gastos em saídas, festas e restaurantes.

E os tradicionais mariscos também serão menos abundantes nas mesas natalinas: a Associação Nacional de Atacadistas de Pescado prevê uma queda nas vendas entre 15% e 20%.

Nas ruas de Madri, as tradicionais luzes de Natal são de lâmpadas de led, de baixo consumo, e seu número foi reduzido a sete milhões do ano passado a algo mais de quatro, este ano.

"É um ano difícil", comentou o prefeito de Madri, Alberto Ruiz Gallardón, na inauguração das luzes.

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