Egípcios de todas as classes sociais constataram diante das urnas que faltavam ferramentas para decidir seu voto (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2011 às 18h32.
Cairo - O segundo dia das históricas eleições parlamentares egípcias transcorreu nesta terça-feira com normalidade apesar do complexo sistema de votação e do analfabetismo político de uma população pouco acostumada a exercer a democracia.
Da mesma forma que na segunda-feira, a votação ocorreu sem incidentes destacáveis e em um ambiente pacífico que acabou com os temores sobre a segurança que existiam antes da votação.
Apesar da ausência de problemas graves, o analfabetismo, que no Egito atinge 40% da população, e o desconhecimento do complexo universo de partidos obscurecem em parte as eleições, as primeiras após a queda do presidente egípcio Hosni Mubarak em 11 de fevereiro.
Os egípcios de todas as classes sociais constataram diante das urnas que faltavam ferramentas para decidir seu voto, segundo reconheceram eleitores e juízes.
No bairro de classe alta de Zamalek, no Cairo, várias mulheres vestidas com roupas ocidentais e usando longos cabelos compridos diziam se sentir tão impotentes quanto os eleitores que não sabem ler nem escrever.
'Não temos muita informação, não conhecemos os candidatos, é difícil para nós e estamos confusos', explicou a engenheira Raja Milad, que destacou que compareceu a conferências e leu os jornais para obter informações sobre as eleições.
Do outro lado do Nilo, em Bulaq, um dos bairros mais pobres do Cairo onde não é raro os moradores venderem seus votos ao melhor pagante, um membro da comissão eleitoral que só quis revelar seu primeiro nome, Ayman, reconheceu que 'há mulheres que não sabem nem ler nem escrever e elegem candidatos ao acaso'.
Ayman afirmou que alguns cidadãos o consultaram sobre o voto e explicou que muitos compareceram à votação por medo de serem multados por se absterem, uma possibilidade prevista pela Lei Eleitoral.
'Muita gente, sobretudo as pessoas mais idosas, vem pela multa, mas na realidade não querem votar e me perguntam se eu posso escolher o candidato', contou Ayman, que denunciou que 'todos' os partidos políticos aproveitam este fenômeno para comprar os votos das pessoas 'pobres e ignorantes que não sabem nada'.
Em Abdin, outro bairro popular do leste do Cairo, o eleitor Taher Sakaria criticou o complexo sistema eleitoral egípcio, no qual dois terços da Assembleia do Povo (Câmara Baixa) são eleitos por listas fechadas e um terço é escolhido por listas abertas com candidatos individuais.
'As pessoas conhecem os partidos, mas o problema são as listas abertas, porque só nesta circunscrição há 122 candidatos individuais', afirmou Sakaria, que acrescentou que isto torna a escolha mais difícil.
Segundo o observador Rahman Hussein, muitas pessoas optavam por marcar ao acaso os dois quadrados obrigatórios ou escolhiam os candidatos cujos símbolos lhes pareciam mais atraentes: 'Eles elegem pelos desenhos e às vezes me perguntam sobre os candidatos, mas eu não tenho direito a decidir', afirmou.
Está previsto que nesta quarta-feira sejam divulgados apenas os resultados das listas abertas para candidatos individuais, e, nos casos nos quais for necessário, será realizada um segundo turno nos dias 5 e 6 de dezembro.
No colégio eleitoral de Abdin, um idoso se mostrava orgulhoso de apoiar seu partido favorito: 'Vou votar na Coalizão de Jovens da Revolução', afirmou Adil Abdel Salam enquanto esperava pacientemente sua vez.
Apesar de sua avançada idade, Abdel Salam se declarou contrário aos políticos de idade muito avançada como Mubarak, de 83 anos, e afirmou que é a favor dos jovens que querem levar ao Parlamento o espírito da Praça Tahrir.