Apoiadora do presidente deposto Mohamed Mursi chora durante protesto no Cairo, Egito (Suhaib Salem/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2013 às 19h19.
Cairo - Os governantes interinos do Egito saudaram na quinta-feira as declarações do Departamento de Estado dos Estados Unidos descrevendo o presidente deposto Mohamed Mursi como antidemocrático, o que foi visto no Cairo como um sinal de que Washington não interromperá sua ajuda anual de 1,5 bilhão de dólares.
Até agora, os EUA adotavam uma postura muito cuidadosa para se referir à intervenção militar da semana passada contra Mursi, um político islâmico que foi o primeiro líder livremente eleito na história egípcia, mas enfrentava enormes protestos populares exigindo sua renúncia.
O governo norte-americano evitou descrever a situação como um golpe de Estado, o que poderia acarretar sanções e a suspensão da ajuda militar ao Egito.
No entanto, Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado, disse na quarta-feira que o governo de Mursi "não era um regime democrático".
"O que eu quero dizer é que estamos referenciando as 22 milhões de pessoas que estiveram expressando suas opiniões e deixando claro que democracia não é só vencer a votação na urna", disse ela.
Essa nova posição dos EUA foi calorosamente acolhida pelo governo provisório egípcio, e prontamente denunciada pela Irmandade Muçulmana, grupo político que dava sustentação a Mursi e agora teme sofrer perseguições.
Bard Abdelatty, porta-voz da chancelaria egípcia, disse que as declarações de Psaki refletem "o entendimento e percepção sobre os fatos políticos que o Egito está testemunhando nos últimos dias como algo que encarna a vontade de milhões de egípcios que saíram às ruas".
Já Gehad Haddad, porta-voz da Irmandade, disse que as declarações revelam hipocrisia norte-americana. "Não havia como o Exército egípcio ter dado esse golpe se ele não tivesse sido aprovado pelos EUA", afirmou.
Ao contrário da postura cautelosa dos governos ocidentais, monarquias árabes não esconderam sua satisfação com a derrubada de Mursi, e três delas - Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait - anunciaram nesta semana a oferta de 12 bilhões de dólares em doações, empréstimos e combustível para ajudar o Egito a fazer frente a uma crise econômica que perdura desde a revolução que depôs o regime de Hosni Mubarak em 2011.
Num sinal da gravidade da crise, o ministro de Abastecimento do governo deposto, Bassem Ouda, disse à Reuters que o governo mantém em estoque atualmente apenas 500 mil toneladas de trigo importado, suficiente para cerca de dois meses.
O Egito é o maior importador mundial de trigo, comprando cerca de 10 milhões de toneladas por ano, das quais metade é distribuída à população na forma de pão subsidiado. O volume do estoque oficial era até agora um segredo de Estado.