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Efeito colateral de sanções na Rússia afeta até hambúrgueres

Penalidades de EUA e Europa estão começando a repercutir na economia e se tornaram o assunto de discussões nacionais

Manifestação pró-Russia na Ucrânia: tensões eclodiram novamente neste fim de semana, com batalhas entre as forças de segurança ucranianas e atiradores pró-Rússia (Shamil Zhumatov/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2014 às 16h47.

Moscou - É improvável que o presidente dos EUA vá fazer compras na rua Aeroportovskaya, em Moscou, a qualquer momento. Por via das dúvidas, a Magazin Myod, uma pequena loja que vende mel e cera de abelha, colocou na porta um cartaz que diz: “Sanções: proibida a entrada de Barack Obama ”.

As penalidades impostas pelos EUA e pela Europa em consequência da apropriação da península da Crimeia pela Rússia estão começando a repercutir– embora pouco – na economia e se tornaram o assunto de discussões nacionais.

“Quando ouvi falar das sanções, quis me posicionar como cidadão”, disse Vladimir Kulakov, 58, proprietário da Magazin Myod – que significa simplesmente ‘loja de mel’ – e presidente da Associação Nacional de Apicultores da Rússia. “Quase todos os meus clientes apoiam isso”.

Assim como Kulakov, políticos e empresários estão aproveitando as sanções para marcar pontos com os eleitores e consumidores. Um legislador propôs barrar os filmes de Hollywood, um partido político nacionalista quer fechar as lanchonetes McDonald’s por razões sanitárias e lojistas de todo o país colocaram cartazes semelhantes ao da Magazin Myod.

As tensões eclodiram novamente neste fim de semana, com batalhas entre as forças de segurança da Ucrânia e os atiradores pró-Rússia na cidade oriental de Sloviansk. Um militar ucraniano morreu e cinco ficaram feridos; o número de mortes na ala separatista é desconhecido. Os EUA e seus aliados estão prometendo punições mais duras caso o presidente Vladimir Putin realize outras incursões no país e a Rússia diz que a repressão ucraniana dos separatistas no leste poderia provocar uma guerra civil.

Sem caixas eletrônicos

Embora as sanções não sejam diretamente responsáveis, a consequência mais visível do conflito até o momento foi a queda da moeda russa. O rublo caiu cerca de 8 por cento frente ao dólar neste ano, o que provocou inflação e ameaça o crescimento econômico. No dia 8 de abril o Fundo Monetário Internacional reduziu sua previsão para a expansão na Rússia em 2014 de 2 por cento para 1,3 por cento.

São Paulo – Depois de um polêmico referendo, a região da Crimeia é, para todos os efeitos, parte da Rússia . Assim, saem as leis ucranianas e entram as leis russas. Não são apenas bandeiras e simbolismos que irão mudar na vida das 2,5 milhões de pessoas que ali vivem. Algumas leis mudarão pequenas coisas. Outras, trarão para a Crimeia grandes mudanças – a mentalidade radical e conservadora na Rússia de Vladimir Putin . Conheça a seguir 11 dessas leis:
  • 2. 1. A lei contra a "propaganda gay" passará a valer

    2 /13(REUTERS/Neil Hall)

  • Veja também

    O povo da Crimeia se submeterá a uma recente - e polêmica - lei russa, que proíbe a "propaganda gay". Um casal gay se beijando em público se encaixaria na lista de práticas ilegais, por exemplo. A Ucrânia já tinha uma lei similar, mas ainda estava em análise no Parlamento.
  • 3. 2. Novo fuso horário

    3 /13(Artur Bainozarov/Reuters)

  • A Crimeia passará a adotar os fusos horários de Moscou.  Assim, colocará a Crimeia duas horas na frente da Ucrânia em boa parte do ano; e três horas na frente em alguns meses do ano.
  • 4. 3. Visto será obrigatório para estrangeiros

    4 /13(Vasily Fedosenko/Reuters)

    Nos últimos anos, a Ucrânia não pedia vistos de turistas internacionais da maioria das nações desenvolvidas. Isso deu um impulso para a economia local. Já a Rússia faz questão de exigir o visto e os obriga a passar por um burocrático e longo processo de requerimento. A nova política linha-dura deve afastar muitos turistas europeus da região.
  • 5. 4. Sem bebida depois das 23h

    5 /13(David Mdzinarishvili/AFP)

    Desde 2013, os russos não podem comprar bebidas alcoolicas nas lojas depois das 23h, em uma tentativa de diminuir os casos de alcoolismo e abuso de bebida. Na Ucrânia, não havia restrições do tipo.
  • 6. 5. Exames universitários? Só se falar russo

    6 /13(Andrey Smirnov/AFP)

    Na Ucrânia, onde várias línguas são faladas - ucraniano, língua tártara, russo - os exames para entrar nas universidades permitem diferentes expressões. Na Rússia, onde também há diversas línguas, as universidades aceitam apenas o russo. É o que deve acontecer na Crimeia (onde se fala russo, principalmente, mas também ucraniano e língua tártara)
  • 7. 6. O serviço militar será obrigatório

    7 /13(Baz Ratner/Reuters)

    Desde 2013, a Ucrânia não exigia mais o serviço militar de seus cidadãos. Na Rússia, ele continua obrigatório. Para os jovens da Crimeia que não esperavam servir, o futuro agora é certo: alistamento. E para defender a Rússia, não a Ucrânia.
  • 8. 7. Para comprar um chip de celular, mostre o passaporte

    8 /13(Photobucket / meme_168)

    Para comprar um simples chip SIM de celular na Rússia, exige-se o passaporte. Assim será na nova Crimeia. Antes de cair, o presidente ucraniano Viktor Yanukovych tentou criar a mesma lei no país - uma maneira de controlar e vigiar mais facilmente a população e os manifestante.
  • 9. 8. Problemas para combater a Aids

    9 /13(Marcelo Camargo/ABr)

    Desde o fim da União Soviética, russos e ucranianos viveram um rápido crescimento de casos de Aids - principalmente, por conta do uso de drogas injetáveis. Na Ucrânia, medidas do governo ajudaram a controlar a epidemia. Na Rússia, os esforços contra a doença nunca foram tão intensos. O combate à doença na Crimeia pode piorar se as medidas e campanhas de saúde russas passarem a vigorar.
  • 10. 9. Nova moeda

    10 /13(REUTERS/Vasily Fedosenko)

    A Crimeia usava a moeda ucraniana, o hryvnia. Agora, usará o rublo, a moeda russa. Líderes da Crimeia estão planejando um período de transição, com as duas moedas sendo aceitas.
  • 11. 10. ONGs locais perderão força

    11 /13(AFP/Getty Images)

    Em 2012, a Rússia fechou a torneira de fundos das ONGs locais. Putin aprovou uma lei que submetia as organizações a um rigoroso processo de investigação para liberar verbas. Na realidade, era uma maneira de descobrir o que Putin chamada de "agentes estrangeiros" - espiões. O ex-presidente ucraniano Yanukovych tentou criar lei semelhante, sem sucesso. Agora, as ONGs da Crimeia passarão pelo pente fino russo.
  • 12. 11. A internet será censurada

    12 /13(Getty Images)

    Na Rússia, há uma lista de sites proibidos desde 2012. Sites que não podem ser acessados de dentro do país. Segundo o governo, estão bloqueados sites de pornografia infantil, drogas e suicídio. Na realidade, a medida serve para bloquear sites de oposição ao governo. Agora o povo da Crimeia também não poderá acessar determinados sites.
  • 13. Agora veja quem poderia entrar em uma briga com a Rússia

    13 /13(REUTERS/Baz Ratner)


  • Os funcionários da Ren TV, emissora de propriedade de Yury Kovalchuk, banqueiro bilionário que está entre as 31 pessoas que são alvo das sanções, enfrentam maiores dificuldades. Os funcionários recebem seus salários em contas do Bank Rossiya, de Kovalchuk; depois que a Visa e a MasterCard deixaram de operar os cartões de crédito e de débito do banco em decorrência das sanções, os trabalhadores da Ren TV não puderam mais utilizá-los na maioria das lojas ou para sacar dinheiro dos caixas eletrônicos de outros bancos.

    Como os meios de comunicação russos estão instigando a opinião pública em relação à disputa, o efeito limitado das sanções não impediu o clamor para punir as empresas dos EUA. O partido nacionalista liberal-democrático organizou piquetes em filiais da McDonald’s em 22 cidades russas. Em Ecaterimburgo, os ativistas levantaram cartazes com os dizeres “McDonald’s é comida para vagabundos americanos” e “Vamos prejudicar os EUA e não comer sua porcaria”.

    Alienígenas de Los Angeles

    Vladimir Zhirinovsky, líder do partido, defendeu o banimento da rede de comida rápida porque, segundo ele, suas ofertas não são saudáveis. “Vamos fechar o McDonald’s em todo o país e depois partiremos para a Pepsi-Cola”, disse Zhirinovsky aos repórteres em 4 de abril.

    A divisão russa da McDonald’s não quis comentar os protestos, mas disse que suas filiais estão funcionando normalmente. A divisão ucraniana da empresa disse em 3 de abril que interromperia o serviço em suas três lanchonetes na Crimeia. A PepsiCo Inc. não quis fazer comentários.

    Robert Shlegel acha que a oferta cultural americana é igualmente repugnante. O parlamentar do partido Rússia Unida, de Putin, está propondo restrições aos filmes de Hollywood. Os filmes estrangeiros foram responsáveis por 81 por cento da arrecadação em bilheterias no ano passado na Rússia, de acordo com a empresa de pesquisa Kinobusiness.com, e Shlegel quer reduzir esse número pela metade. O primeiro-ministro Dmitry Medvedev solicitou que o governo considere impostos mais altos para os filmes estrangeiros em uma aposta para sustentar a indústria doméstica.

    “Precisamos restringir o monopólio de Hollywood”, disse Shlegel, por telefone. “Esses filmes alardeiam os valores dos EUA e muitos deles são de baixa qualidade. Alienígenas que invadem Los Angeles, gays dos EUA combatendo o preconceito, acabando com o Kremlin em Missão Impossível. Não deveria haver um mercado para isso na Rússia”.

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