Editorial da China pede “desamericanização” do mundo
Leia na íntegra o editoral publicado pelo jornal Xinhua, controlado pelo governo chinês, e que pede menos influência política dos Estados Unidos no mundo
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2013 às 15h08.
São Paulo – A paralisação do governo dos Estados Unidos virou motivo de críticas, desconfiança e até piada dentro do país e fora. Um editorial específico, porém, vem chamando atenção. O jornal Xinhua, controlado pelo governo da China , publicou ontem um texto (em inglês) intitulado “A derrota fiscal dos Estados Unidos pede por um mundo ‘desamericanizado’”.
O editorial, que usa expressões e discursos que remetem à Guerra Fria, faz referências a algumas das maiores críticas sofridas pelos Estados Unidos nos últimos anos: ataques de drones, crise econômica e tortura são temas que o editorial não deixa batido. O texto, que clama por uma “nova ordem mundial”, não perdoa nem o dólar e sugere que uma nova moeda seja institucionalizada para o comércio mundial.
Confira abaixo, e em tradução livre de EXAME.com, o editorial na íntegra:
“Enquanto os políticos norte-americanos de ambos os partidos ainda estão indo e voltando entre a Casa Branca e o Capitólio sem conseguir um acordo viável que traga de volta à normalidade o corpo político do qual eles se vangloriam, talvez seja um bom momento para o confuso mundo começar a considerar a construção de um mundo desamericanizado.
Emergindo do banho de sangue da Segunda Guerra Mundial como a nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos vem desde então tentando construir um império global ao impor uma ordem pós-guerra mundial, alimentando a recuperação na Europa, e encorajando mudanças de regime em nações que julga dificilmente serem aliadas de Washington.
Com o seu aparentemente inigualável poder econômico e militar, os Estados Unidos tem declarado que tem interesses nacionais vitais a proteger em praticamente todos os cantos do globo, e está acostumado a se intrometer nos negócios de outros países e regiões bem distantes de suas costas.
Enquanto isso, o governo dos EUA tem tomado medidas extremas para parecer frente ao mundo como aquele que tem superior moral, embora embaixo dos panos faça coisas tão audaciosas quanto torturar prisioneiros de guerra, matar civis em ataques de drones e espionar líderes mundiais.
Sob o que é conhecido como “Pax Americana”, nós não conseguimos ver um mundo onde os Estados Unidos estão ajudando a diminuir violência e conflitos, reduzir pobreza e população de refugiados, e trazer uma paz real e duradoura.
Além disso, em vez de honrar seus deveres como um poder de liderança responsável, uma Washington que serve a si mesma abusou seu status de superpoder e introduziu ainda mais caos no mundo ao alterar riscos de finanças fora de suas fronteiras, instigar tensões regionais e disputas territoriais, e lutar guerras sem garantias com justificativas simplesmente mentirosas.
Como um resultado, o mundo ainda está se rastejando para sair de um desastre econômico graças à voracidade das elites de Wall Street, enquanto bombardeamentos e mortes se tornaram praticamente rotina no Iraque anos depois de Washington proclamar ter libertado seu povo de um governo tirânico.
Mais recentemente, a estagnação cíclica em Washington por uma solução bipartidária viável para o orçamento federal e pela aprovação do aumento do teto da dívida tem novamente deixado os dólares de muitas nações em risco e a comunidade internacional altamente tensa.
Esses dias alarmantes em que os destinos de outros estão nas mãos de uma nação hipócrita têm de terminar, e uma nova ordem mundial deve ser posta em seu lugar, de acordo com a qual todas as nações, grandes ou pequenas, pobres ou ricas, possam ter seus principais interesses respeitados e protegidos.
Para isso, diverso pilares têm de ser erguidos para a construção de um mundo desamericanizado.
Inicialmente, todas as nações têm de seguir os princípios básicos do Direito Internacional, incluindo o respeito pela soberania, e se afastando das questões internas alheias.
Além disso, a autoridade das Nações Unidas em lidar com focos de tensões globais tem de ser reconhecida. Isso quer dizer que ninguém tem o direito de iniciar nenhuma forma de intervenção militar sem uma ordem da ONU.
Tirando isso, o sistema financeiro mundial também tem de abraçar algumas reformas substanciais.
As economias de mercados em desenvolvimento precisam ter mais palavra nas grandes instituições financeiras globais, inclusive no Bando Mundial e no Fundo Monetário Internacional, para que essas instituições reflitam melhor as transformações da economia global e do contexto político atual.
O que também pode ser incluído como ponto chave para uma reforma eficaz é a introdução de uma nova moeda de reserva internacional que seria criada para substituir o dólar americano dominante, para que a comunidade internacional possa permanentemente se manter afastada dos reflexos da crescente confusão política interna dos Estados Unidos.
Obviamente, o propósito de promover essas mudanças não é colocar os Estados Unidos de lado, o que também é impossível. Melhor, é encorajar Washington a ter um papel bem mais construtivo quando se trata de assuntos globais.
E entre todas as opções, sugere-se que os políticos poderosos primeiro comecem encerrando esse impasse pernicioso.”
São Paulo – A paralisação do governo dos Estados Unidos virou motivo de críticas, desconfiança e até piada dentro do país e fora. Um editorial específico, porém, vem chamando atenção. O jornal Xinhua, controlado pelo governo da China , publicou ontem um texto (em inglês) intitulado “A derrota fiscal dos Estados Unidos pede por um mundo ‘desamericanizado’”.
O editorial, que usa expressões e discursos que remetem à Guerra Fria, faz referências a algumas das maiores críticas sofridas pelos Estados Unidos nos últimos anos: ataques de drones, crise econômica e tortura são temas que o editorial não deixa batido. O texto, que clama por uma “nova ordem mundial”, não perdoa nem o dólar e sugere que uma nova moeda seja institucionalizada para o comércio mundial.
Confira abaixo, e em tradução livre de EXAME.com, o editorial na íntegra:
“Enquanto os políticos norte-americanos de ambos os partidos ainda estão indo e voltando entre a Casa Branca e o Capitólio sem conseguir um acordo viável que traga de volta à normalidade o corpo político do qual eles se vangloriam, talvez seja um bom momento para o confuso mundo começar a considerar a construção de um mundo desamericanizado.
Emergindo do banho de sangue da Segunda Guerra Mundial como a nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos vem desde então tentando construir um império global ao impor uma ordem pós-guerra mundial, alimentando a recuperação na Europa, e encorajando mudanças de regime em nações que julga dificilmente serem aliadas de Washington.
Com o seu aparentemente inigualável poder econômico e militar, os Estados Unidos tem declarado que tem interesses nacionais vitais a proteger em praticamente todos os cantos do globo, e está acostumado a se intrometer nos negócios de outros países e regiões bem distantes de suas costas.
Enquanto isso, o governo dos EUA tem tomado medidas extremas para parecer frente ao mundo como aquele que tem superior moral, embora embaixo dos panos faça coisas tão audaciosas quanto torturar prisioneiros de guerra, matar civis em ataques de drones e espionar líderes mundiais.
Sob o que é conhecido como “Pax Americana”, nós não conseguimos ver um mundo onde os Estados Unidos estão ajudando a diminuir violência e conflitos, reduzir pobreza e população de refugiados, e trazer uma paz real e duradoura.
Além disso, em vez de honrar seus deveres como um poder de liderança responsável, uma Washington que serve a si mesma abusou seu status de superpoder e introduziu ainda mais caos no mundo ao alterar riscos de finanças fora de suas fronteiras, instigar tensões regionais e disputas territoriais, e lutar guerras sem garantias com justificativas simplesmente mentirosas.
Como um resultado, o mundo ainda está se rastejando para sair de um desastre econômico graças à voracidade das elites de Wall Street, enquanto bombardeamentos e mortes se tornaram praticamente rotina no Iraque anos depois de Washington proclamar ter libertado seu povo de um governo tirânico.
Mais recentemente, a estagnação cíclica em Washington por uma solução bipartidária viável para o orçamento federal e pela aprovação do aumento do teto da dívida tem novamente deixado os dólares de muitas nações em risco e a comunidade internacional altamente tensa.
Esses dias alarmantes em que os destinos de outros estão nas mãos de uma nação hipócrita têm de terminar, e uma nova ordem mundial deve ser posta em seu lugar, de acordo com a qual todas as nações, grandes ou pequenas, pobres ou ricas, possam ter seus principais interesses respeitados e protegidos.
Para isso, diverso pilares têm de ser erguidos para a construção de um mundo desamericanizado.
Inicialmente, todas as nações têm de seguir os princípios básicos do Direito Internacional, incluindo o respeito pela soberania, e se afastando das questões internas alheias.
Além disso, a autoridade das Nações Unidas em lidar com focos de tensões globais tem de ser reconhecida. Isso quer dizer que ninguém tem o direito de iniciar nenhuma forma de intervenção militar sem uma ordem da ONU.
Tirando isso, o sistema financeiro mundial também tem de abraçar algumas reformas substanciais.
As economias de mercados em desenvolvimento precisam ter mais palavra nas grandes instituições financeiras globais, inclusive no Bando Mundial e no Fundo Monetário Internacional, para que essas instituições reflitam melhor as transformações da economia global e do contexto político atual.
O que também pode ser incluído como ponto chave para uma reforma eficaz é a introdução de uma nova moeda de reserva internacional que seria criada para substituir o dólar americano dominante, para que a comunidade internacional possa permanentemente se manter afastada dos reflexos da crescente confusão política interna dos Estados Unidos.
Obviamente, o propósito de promover essas mudanças não é colocar os Estados Unidos de lado, o que também é impossível. Melhor, é encorajar Washington a ter um papel bem mais construtivo quando se trata de assuntos globais.
E entre todas as opções, sugere-se que os políticos poderosos primeiro comecem encerrando esse impasse pernicioso.”