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Ebola representa um duplo perigo para as grávidas da África

Mulheres convivem com a dupla ameaça entre o medo dos hospitais ou o risco de dar à luz em casa

Mulheres passam mal ao saber que vizinha morreu vítima de ebola, em Waterloo, Serra Leoa (Florian Plaucheur/AFP)

Mulheres passam mal ao saber que vizinha morreu vítima de ebola, em Waterloo, Serra Leoa (Florian Plaucheur/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2014 às 12h38.

Freetown - As mulheres grávidas da África ocidental vivem sob uma dupla ameaça gerada pelo ebola: o medo dos hospitais ou o risco de dar à luz em casa, correndo o risco de contágio.

No centro da capital de Serra Leoa, Freetown, no bairro "Magazine", de onde se veem casebres miseráveis em Susan's Bay, o pessoal do ambulatório de Mabella lamentava as instalações vazias, em frente à mesquita.

"As pacientes têm medo de nós. Não vêm mais, a menos que estejam realmente doentes", disse sua encarregada, Justina Bangura, exibindo o grande registro amarelo onde estão anotados os nomes das parturientes.

"Quarenta e sete partos em julho, 30 em agosto, 25 em setembro e 27 em outubro", disse.

Sua equipe viu passar o número de partos em domicílio de sete, em julho, para catorze em agosto, e 10 em outubro. Sem ignorar que outras puderam fazê-lo sem que se tenha conhecimento.

"Trata-se de explicar às mulheres que correm risco de infecções e morte dando à luz em casa. Mas nos chamam as 'enfermeiras ebola'. Entre julho e agosto, diziam que inclusive injetavam o vírus nelas. As pessoas nos insultam e atiram pedras em nós", diz, emocionada, Eugenia Bodkin.

"Até mesmo eu, no começo, tinha medo de tocar nos pacientes, de apalpá-los", disse a enfermeira. "Mas tento convencê-los: estamos ali para salvar vidas".

A mulher, com cerca de 40 anos, chega ao local usando roupas normais e só veste o uniforme no consultório.

Longe do centro da cidade, no bairro de Wellington, as enfermeiras do ambulatório de Kuntorloh encontraram uma forma para evitar o preconceito das pacientes: trabalham vestidas na rua e sem os uniformes de enfermeiras.

"Todos têm medo do ebola", disse Ramatu Kamara, de saia e turbante lilás, mas com luvas de borracha, antes de vacinar Anthony, de dois meses.

"É a razão pela qual não usamos mais uniforme. Do contrário, as mulheres não vêm mais. Dizem que todas as enfermeiras têm ebola, que morrem e que estão mentindo", explica.

Recorde de mortalidade

Segundo o diretor, Musab Sillah, a situação melhorou um pouco após os três dias de confinamento imposto pelo governo a toda a população em setembro, aproveitada pelas agências humanitárias como o Unicef ou a ONG britânica Save the Children, que apoia o ambulatório, para fazer pedagogia porta a porta.

"Mas quando o governo tenta sensibilizar a população em reuniões públicas, isto não funciona em nada", afirmou.

Em outros países, como a Libéria, com frequência, as estruturas sanitárias, superlotadas por causa da epidemia, fecham as portas às mulheres grávidas.

Serra Leoa tem a taxa de mortalidade natal mais elevada do mundo, com 1.200 mortes por 100.000 nascimentos, taxa agravada ainda mais pelo ebola.

O governo reagiu sancionando os nascimentos em domicílio: 50.000 leões (11 dólares, 9 euros) de multa para as mulheres que violarem a regra. Mas aqui, continua o diretor, se atende sem denunciar as que buscam ajuda após dar à luz.

Depois do parto, em caso de suspeita de ebola, devem imediatamente parar de amamentar os bebês, disse Musab Sillah.

Segundo os cálculos do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), 800.000 mulheres darão à luz nos próximos 12 meses nos três países mais afetados pelo ebola; Libéria, Serra Leoa e Guiné.

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