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É pouco provável que a Síria use armas químicas

Um grupo de especialistas reunidos no Bahrein consideram que o temor é, principalmente, de uma forma de pressão

Membros das forças de segurança do regime sírio enfrentam rebeldes em Damasco em de novembro
 (AFP)

Membros das forças de segurança do regime sírio enfrentam rebeldes em Damasco em de novembro (AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2012 às 13h07.

Manama - O temor de que o regime sírio utilize armas químicas contra a população é justificável, mas pouco provável, segundo um grupo de especialistas reunidos no Bahrein, que consideram que se trata, principalmente, de uma forma de pressão.

O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, advertiu durante uma reunião sobre segurança regional para o risco de que Damasco utilize armas químicas ou biológicas e mencionou vários "cenários perigosos", incluindo a possibilidade de que estas armas possam "cair nas mãos de outros" grupos.

O senador americano John McCain considerou, por sua vez, que os Estados Unidos e o mundo árabe precisarão tomar "uma decisão muito, muito difícil: a de saber se é preciso fazer algo e, nesse caso, o que fazer diante do perigo de ver Bashar al-Assad reunir estas armas de destruição em massa".

O vice-ministro das Relações Exteriores turco, Naci Koru, que também participava deste diálogo em Manama, organizado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) e realizado de sexta-feira a domingo, lembrou que os temores eram justificados porque "o regime sírio perdeu a razão e toda a legitimidade".

A comunidade internacional intensificou nos últimos dias as advertências a Assad, diante do temor de que ele decida recorrer a armas químicas.

Autoridades americanas que pediram para não ser identificadas afirmaram que o Exército sírio introduziu gás sarin em bombas com a intenção de lançá-las.

Mas Dina Esfandiary, pesquisador do programa de não proliferação e de desarmamento do IISS, recomenda prudência. "Embora seja pouco provável que Assad recorra as suas armas químicas, não podemos ter certeza", disse.

"Acredito que, se a comunidade internacional traçar claramente quais são as linhas vermelhas, o regime sírio não utilizará armas químicas", acrescentou.


Outros especialistas afirmam que os movimentos detectados não significam necessariamente que estas armas estejam carregadas e consideram que o regime pode estar armazenando suas reservas nas regiões que controla.

Damasco reconheceu pela primeira vez que possui armas químicas no dia 23 de julho. No sábado, as autoridades afirmaram que suas tropas nunca usarão essas armas.

A Rússia, aliada do regime sírio, afirmou que Damasco não tem "intenção alguma" de recorrer ao uso de armas químicas para fazer os rebeldes recuarem.

Yezid Sayigh, analista do Carnegie Middle East Center, afirma que o regime dispõe de armas químicas, mas não biológicas.

Em sua opinião, o regime apresenta as armas químicas como um espantalho, como já fez com a Al-Qaeda, "para transmitir uma mensagem de dissuasão ao exterior".

Mas de fato, explica ele, a utilização de armas químicas no conflito "não mudará nada".

"É, principalmente, uma arma psicológica de terror", que, se fosse utilizada, provocaria "pânico entre os civis", disse.

"Mas a verdadeira utilidade dessas armas em uma guerra é muito limitada, já que não podem ser utilizadas em zonas onde a presença de tropas hostis esteja acompanhada por uma população que apoie o regime, nem contra uma população hostil em uma área onde estejam mobilizadas as tropas regulares", disse. Além disso, só podem ser utilizadas por algumas unidades especiais.

Pouco se sabe sobre o programa sírio, lançado nos anos 1970 com a ajuda do Egito e mantido, posteriormente, com o auxílio da antiga União Soviética.

Segundo Dina Esfandiary, é "o maior programa de armas químicas do Oriente Médio, criado inicialmente com o objetivo de contrabalançar o plano nuclear de Israel".

O analista assegura que, graças à deserção de alguns oficiais do Exército sírio, foram obtidas informações sobre estas armas químicas, mas que "estão longe de ser completas".

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