Drones para salvar vidas
Copenhague, Dinamarca – Em um gramado deserto dos arredores da capital dinamarquesa, Steve McLinden sofria para pousar seu drone que oscilava cerca de 60 metros acima e mal se via, enfrentando ventos de 16 quilômetros por hora. McLinden, britânico de 45 anos, fazia caretas, concentrando-se na tela do tablet conectado ao drone, monitorando o progresso […]
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2016 às 16h39.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.
Copenhague, Dinamarca – Em um gramado deserto dos arredores da capital dinamarquesa, Steve McLinden sofria para pousar seu drone que oscilava cerca de 60 metros acima e mal se via, enfrentando ventos de 16 quilômetros por hora.
McLinden, britânico de 45 anos, fazia caretas, concentrando-se na tela do tablet conectado ao drone, monitorando o progresso da aeronave com sua câmera a bordo. Enquanto o aparelho mergulhava violentamente durante a descida, McLinden habilmente mexia em seus controles para fazer ajustes de última hora antes de pousar o drone quase perfeitamente no centro de um colchonete vermelho do outro lado do campo. “Basta ter um pouco de prática”, brincou McLinden, que é bombeiro.
McLinden integra um grupo de socorristas de meia-idade que participam de um teste para começar a utilizar a aeronave não tripulada pelos serviços de emergência da Europa. A ideia é colocar a região na frente dos Estados Unidos e de outros países no emprego de drones em casos de emergências no mundo real.
A “escola de drone” se vale da liderança mundial da Europa em dar a grupos públicos e empresas uma liberdade de ação relativamente grande para experimentar com a aeronave não tripulada. Se tudo der certo, os apoiadores do projeto esperam que as agências públicas europeias e de outros lugares possam pegar uma carona nas experiências, ajudando a transformar os drones de brinquedos recreativos em ferramentas para salvar vidas.
“Para nós, essa tecnologia é uma virada de mesa”, conta McLinden, que viajou a Copenhague para um treinamento de três dias com dois colegas bombeiros do País de Gales. “Os drones não vão tomar nosso lugar, Mas tudo que pudermos usar em prol das nossas equipes é ótimo”, acrescenta McLinden.
Os três dias de treinamento em Copenhague foram o começo de um teste de seis meses no maior e mais amplo experimento do mundo com aeronaves não tripuladas com o potencial de salvar vidas. Quatro equipes da Grã-Bretanha, Dinamarca, Islândia e Irlanda fazem parte do programa, organizado pela Associação do Número Europeu de Emergência, entidade sem fins lucrativos, e apoiada pela DJI, fabricante chinesa de drones.
Cada grupo usará dois drones de 5.000 dólares, alguns com câmeras de imagem térmica, e dividirá as experiências enquanto utilizam as máquinas ao responder a chamados de emergência.
Em uma sala de aula de uma unidade desativada do corpo de bombeiros de Copenhague, Thomas Sylvest aconselhava McLinden e outras pessoas com base em seus dois anos de experiência. Como primeiro – e por enquanto único – piloto de drone de emergência da Dinamarca, Sylvest atua em casos variados, tais como desaparecimentos e incêndios, muitas vezes recebendo telefonemas à noite.
Sylvest, 50 anos, de fala veloz, deu dicas sobre a melhor maneira de compartilhar vídeos transmitidos diretamente dos drones aos comandantes em solo. Durante um incêndio no centro de Copenhague, ele conseguiu transmitir imagens de alta definição de cima das chamas, permitindo a seus chefes avaliar se as paredes do prédio iriam cair – coisa que não aconteceu. E quando a polícia lhe telefonou no ano passado depois que um homem foi dado como desaparecido, ele pilotou o drone em um trecho de trilhos de trem para guiar os colegas e indicar onde procurar melhor – o homem foi encontrado.
“Somos apenas bombeiros. Temos de ser capazes de usar os drones de forma muito simples”, ele declara ao beber um café durante o primeiro dia de treinamento.
Todos os membros da equipe reunidos em Copenhague já haviam usado drones, mas no descampado castigado pelo vento nos arredores da cidade, cada grupo ainda se reveza entre checagens antes da decolagem, garantindo que a câmera e a bateria estavam funcionando, e treinando manobras, como voo noturno e pouso a distância, que fariam parte de sua rotina diária. Durante o café com bolo, as equipes também mostraram as personalizações feitas nos aparelhos, como o emprego de suportes para a instalação de várias câmeras na mesma aeronave.
“É necessário treinar tudo, até mesmo voar em linha reta. Pilotar drones não é fácil”, diz Olafur Jon Jonsson, voluntário islandês de 50 anos dedicado à busca e ao salvamento, enquanto seu aparelho ganha vida e decola pelo campo.
Para a escola de drones da Europa ser bem-sucedida, a experiência ainda precisa superar grandes desafios. A maioria das aeronaves não tripuladas não consegue voar em tempo ruim, tem bateria com duração limitada e sofre para se conectar aos sistemas de informática dos serviços de emergência. Segundo as equipes, os drones também foram recebidos com ceticismo por superiores que nunca os utilizaram.
Matthew Kelly, 44 anos, voluntário de busca e salvamento em Donegal, região natural imaculada, mas inóspita no noroeste irlandês, reclamou que muitas vezes tinha de trazer o drone de volta depois de menos de 15 minutos por causa da duração limitada da bateria.
À medida, porém, que os obstáculos tecnológicos forem vencidos e, principalmente, os drones começarem a salvar vidas, Kelly acredita que os aparelhos vão se tornar tão comuns em suas missões quanto Cody, o cão farejador de sua equipe. “Quero muito que chegue a hora de nosso primeiro resgate. Não vejo a hora de ver a reação das pessoas”, declara.
(Mark Scott)
© 2016 New York Times News Service