Alexei Navalny em uma marcha da oposição em memória do crítico assassinado do Kremlin Boris Nemtsov, no centro de Moscou, em 25 de fevereiro de 2018 (AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 16h10.
A morte, a prisão ou o exílio costumam ser destinos reservados aos opositores do presidente russo, Vladimir Putin, como aconteceu com o maior deles, Alexei Navalny, falecido nesta sexta-feira, 16, em uma prisão no Ártico por motivos ainda desconhecidos.
Navalny, principal opositor de Putin por mais de uma década, ao longo de sua vida foi assediado, envenenado e encarcerado. Por fim, morreu aos 47 anos em uma colônia penitenciária do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos por "extremismo".
Esse ativista contra a corrupção e ex-advogado moscovita já havia sido vítima, em 2020, na Sibéria, de um grave envenenamento, o qual atribuiu ao Kremlin, que sempre negou.
Ao retornar à Rússia em janeiro de 2021 após sua recuperação na Alemanha, foi detido e sua organização anticorrupção FBK foi fechada por "extremismo".
O ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov tornou-se um dos principais críticos de Putin na década de 2000. Menos de um ano depois de se opor à anexação da Crimeia, Nemtsov foi assassinado em fevereiro de 2015 com quatro tiros nas costas em uma ponte a poucos metros do Kremlin. Tinha 55 anos.
Seus apoiadores acusam o líder checheno Ramzan Kadirov de ter dado a ordem, o que ele nega.
Cinco chechenos foram condenados por esse assassinato, sem que o autor tenha sido oficialmente identificado.
Dez anos antes, em outubro de 2006, Anna Politkovskaya foi assassinada no hall de seu prédio em Moscou. Essa jornalista da Novaya Gazeta, principal veículo de comunicação independente do país, havia documentado e denunciado por anos os crimes do exército russo na Chechênia.
Outros críticos foram presos ou correm o risco de ser, como Oleg Orlov, figura da defesa dos direitos humanos e da emblemática ONG Memorial, cujo novo julgamento teve início nesta sexta em Moscou.
Orlov pode pegar até cinco anos de prisão por suas denúncias da ofensiva militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Vladimir Kara Murza, de 42 anos, antigo opositor, afirma ter sobrevivido a dois envenenamentos. Em abril de 2023, foi condenado a 25 anos de reclusão em um julgamento a portas fechadas por divulgar "informações falsas" sobre o exército russo. Está cumprindo sua pena na Sibéria.
No mesmo mês, Ilia Iachin, de 39 anos, foi condenada em apelação a oito anos e meio de prisão por ter denunciado "o assassinato de civis" na cidade ucraniana de Bucha, perto de Kiev, onde o exército russo foi acusado de atrocidades, o que Moscou nega.
Acusada de ter "criado uma organização extremista", Ksenia Fadeieva, de 31 anos, ex-deputada aliada de Navalny, também foi condenada no final de 2023 a nove anos no cárcere.
Em junho de 2023, Lilia Chanicheva, primeira colaboradora de Navalny a ser julgada por criar uma "organização extremista", foi condenada a sete anos e meio de prisão.
A maioria dos principais opositores que permanecem na Rússia está encarcerada. Os demais fugiram ou se exilaram, como o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov.
Mikhail Khodorkovsky, ex-magnata do petróleo, passou uma década preso por ter se oposto a Putin no início dos anos 2000. Depois de sua libertação em 2013, o ex-oligarca se estabeleceu em Londres, de onde financia plataformas de oposição.
Muitos apoiadores de Khodorkovsky, mas também de Navalny, deixaram a Rússia a partir de 2021, ano que marcou uma forte aceleração da repressão, acentuada desde a ofensiva na Ucrânia.
Moscou também aumenta a pressão sobre os dissidentes no exílio. Em fevereiro, foi aberta uma investigação na Rússia contra o escritor Boris Akunin, exilado desde 2014 em Londres, por "difusão de informações falsas" sobre o exército e "apelo ao terrorismo".
Centenas de ativistas de direitos humanos, opositores e jornalistas foram rotulados como "agentes estrangeiros".
Foi o caso em fevereiro de Oleg Orlov, do ex-primeiro-ministro exilado Mikhail Kasyanov e do editor-chefe da Novaya Gazeta, Dmitry Muratov.
Pilar da defesa dos direitos humanos na Rússia, a ONG Memorial, co-vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2022, foi dissolvida pela justiça russa no final de 2021 por violar a lei sobre "agentes estrangeiros", que impõe rígidas obrigações administrativas.
A Justiça russa também ordenou a dissolução de várias associações com opiniões críticas por terem organizado na Rússia eventos fora de sua "zona de atividade" geográfica.
Foi o que ocorreu em agosto com o Centro Sakharov e anteriormente com o Grupo Helsinki de Moscou e o Centro Sova.