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Disputa entre Trump e Biden testa fôlego da ascensão populista no mundo

Em seu mandato, Trump se aproximou de líderes autoritários, como Kim Jong-un, preferiu o isolacionismo ao multilateralismo e rompeu com aliados históricos

Donald Trump: Trump entrou em atrito com França e Alemanha e retirou o país de boa parte dos fóruns e tratados multilaterais dos quais os americanos foram protagonistas (Joe Raedle / Equipe/Getty Images)

Donald Trump: Trump entrou em atrito com França e Alemanha e retirou o país de boa parte dos fóruns e tratados multilaterais dos quais os americanos foram protagonistas (Joe Raedle / Equipe/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de novembro de 2020 às 17h12.

Última atualização em 1 de novembro de 2020 às 17h15.

“Donald Trump é um risco para a democracia?” O título do artigo de Steven Levitsky no jornal The New York Times, em dezembro de 2016, levantava a preocupação sobre o futuro dos EUA no mandato do presidente eleito. Quatro anos depois, a eleição é um teste não só para a resiliência das instituições americanas, mas para a ordem democrática global.

Em seu mandato, Trump se aproximou de líderes autoritários, como Kim Jong-un, preferiu o isolacionismo ao multilateralismo, rompeu com aliados históricos, conduziu os EUA a um nível de tensão inédito com a China e virou inspiração de adeptos do populismo nacionalista, como Jair Bolsonaro.

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“Trump não liga se o país é autoritário ou se é democrático. É uma política muito transacional. Ele não quer uma Europa forte, não gosta da arquitetura multilateral. Um ‘G-zero’ escalaria mais rápido em um segundo mandato de Trump do que em um governo Biden”, diz Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco política Eurásia.

O conceito de G-zero pressupõe um vácuo de poder no cenário mundial por ausência de um país que paute a agenda internacional e vem sendo apontado por Bremmer há quase uma década. Após a 2.ª Guerra, os EUA tomaram dianteira na reorganização mundial, com a criação da Organização das Nações Unidos (ONU) e do sistema de Bretton Woods. Em um mundo “G-zero”, os EUA passariam longe disso. Sob Trump, também.

“Trump enfraqueceu o que já vinha enfraquecendo e acelerou o fato de que há hoje poucos líderes no mundo que admiram o sistema político americano e desejam replicá-lo. Muito do ‘soft power’ dos EUA foi corroído”, afirma Bremmer. A instituição americana Freedom House aponta o papel do “retorno da rivalidade entre grandes potências” e da “nítida falta de liderança na governança democrática de defensores tradicionais como os EUA” na deterioração da democracia mundial.

Thomas Wright, diretor do centro de EUA e Europa do centro de estudos Brookings, sustenta em artigo que, se Trump ganhar, os próximos quatro anos serão mais disruptivos para a ordem global do que os últimos quatro. “Ao confirmar que os EUA rejeitaram seu papel de liderança tradicional, um segundo mandato de Trump causaria impacto duradouro na direita mundial em um momento vulnerável. As alianças dos EUA provavelmente desmoronariam, a economia global fecharia e a democracia e os direitos humanos entrariam em declínio rápido.”

Trump entrou em atrito com França e Alemanha e retirou o país de boa parte dos fóruns e tratados multilaterais dos quais os americanos foram protagonistas. Na lista estão o acordo nuclear com o Irã, o acordo climático de Paris, a paralisação do órgão de apelações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o anúncio durante a pandemia do coronavírus de que os EUA sairão da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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