O protesto aconteceu frente ao Salão Internacional de Conferências, na capital Cairo, onde os deputados e senadores estavam reunidos (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2012 às 17h55.
Cairo - Os deputados liberais egípcios se retiraram neste sábado da votação para escolher a comissão que redigirá a nova Constituição do país e denunciaram que a maioria islâmica do Parlamento quer impor sua opinião, disse à Agência Efe um membro do partido Social-Democrata.
Uma porta-voz da legenda, Hala Mustafa, explicou que tanto os integrantes de seu partido como dos Egípcios Livres, entre outros grupos liberais, tomaram esta medida por considerar que a atual situação 'pode resultar na elaboração de uma Constituição religiosa islâmica que ameace a união nacional'.
Estes grupos criticaram a proposta dos islamitas Partido Liberdade e Justiça (PLJ) e Al Nur de que 50% dos membros da comissão saiam do Parlamento, o que indicaria a intenção de monopolizar a redação da Carta Magna.
Em 17 de março, o Parlamento aprovou com arrasadora maioria que o comitê encarregado de elaborar a nova Constituição seja composto por 50 legisladores e 50 representantes da sociedade egípcia.
Hala Mustafa disse que desta forma o PLJ e Al Nur, que ocupam quase três quartos do Parlamento, 'não deram uma oportunidade para as forças civis terem uma representação justa'.
O partido denunciou a pequena representação de coptas (10% da população egípcia), mulheres e sindicatos, entre outros, na comissão.
A porta-voz do partido Social-Democrata afirmou que embora a maioria dos deputados que se retiraram são muçulmanos, eles não querem que a Constituição seja 'intransigente'.
A formação realizará uma reunião neste domingo, na sede do partido, com outras forças políticas e personalidades do país para discutir a situação.
Enquanto os políticos se reuniam para escolher os membros da comissão, centenas de pessoas realizavam uma manifestação e levavam cartazes com frases como 'o povo rejeita que o poder legislativo monopolize a redação da Constituição'.
O protesto aconteceu frente ao Salão Internacional de Conferências, na capital Cairo, onde os deputados e senadores estavam reunidos.
Diante dos temores da população, o PLJ, braço político da Irmandade Muçulmana, insistiu em várias ocasiões que todas as correntes serão representadas.
A elaboração de uma nova Constituição é um dos passos fundamentais no processo de transição do Egito, que deverá ser coroado com a escolha de um novo presidente da república após as eleições convocadas para os dias 23 e 24 de maio.