Democratas na Câmara, republicanos no Senado: o que será de Donald Trump?
Donald Trump sofreu uma dura derrota nas eleições legislativas. Agora terá de usar suas habilidades de negociação se quiser governar
Gabriela Ruic
Publicado em 7 de novembro de 2018 às 15h04.
Última atualização em 7 de novembro de 2018 às 15h14.
São Paulo – As eleições legislativas de 2018 dos Estados Unidos confirmaram o resultado antecipado por analistas: o Partido Democrata conquistou a maioria dos assentos na Câmara dos Representantes, enquanto o Partido Republicano segue como maioria no Senado. Com o poder legislativo agora dividido entre as forças partidárias, uma pergunta inevitável: como fica a presidência de Donald Trump pelos dois anos finais do seu mandato?
Esse desenho do Congresso no qual cada partido detém a maioria em cada uma das casas não é necessariamente inesperado. Muito pelo contrário, na história americana, foram poucas as vezes nas quais um presidente conseguiu assegurar o controle na Câmara após uma eleição como essa. Independentemente disso, o resultado trouxe à tona uma verdade irrefutável e que é a de que a vida de Trump ficará mais difícil nos próximos dois anos.
Como maioria na Câmara, os democratas agora terão poderes para blindar as investigações sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, por exemplo. Isso sem falar na possibilidade de impeachment, uma vez que é nessa casa que é dado o primeiro passo para a remoção de um presidente. Embora um processo como esse possivelmente seja barrado no Senado, trará desgastes para Trump num momento em que busca a reeleição em 2020.
“Trump jogou alto na sua retórica, fez um estardalhaço em torno dessa eleição e apostou que sairia vitorioso”, explicou Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais da Faculdades Integradas Rio Branco, “ele sofreu uma derrota política forte: apesar dos números da recuperação econômica, o recado contundente das urnas é de reprovação do seu governo”, avaliou o especialista.
Na visão de Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM, esse recado mostra que o eleitorado busca um equilíbrio nas agendas do governo. “A eleição revelou uma forte rejeição de Trump e ajudou a impulsionar os democratas rumo à maioria na Câmara”, explicou, “mas ainda há força nos republicanos, que conseguiram se manter no Senado”, lembrou. “A polarização que vimos nos últimos anos permanecerá”, pontuou.
Impactos na presidência
Os maiores problemas a serem enfrentados por Trump, nota Costa Júnior, são justamente do ponto de vista da governabilidade, especialmente quando se lembra que mesmo dentro do seu partido, o Partido Republicano, sua retórica e ações não são unanimidade. “Ele terá problemas para governar e dificilmente conseguirá aprovar projetos grandes”, previu.
“Vejo anos de embates, mas não vejo possibilidade de paralisação”, crê Denilde. Segundo ela, algumas medidas de Trump, como a tentativa de repelir o Obamacare (programa de expansão da saúde que o republicano prometeu derrubar), o muro no México e políticas econômicas que beneficiaram empresários e a alta-renda certamente serão atacadas pela nova oposição na Câmara. “E tudo dependerá de como ele conduzirá a relação com os democratas”, pontuou.
A velocidade das tomadas de decisões pelo governo deve ficar comprometida, avaliou Yann Duzert, professor de negociação e resolução de conflitos da Fundação Getúlio Vargas, e dependerão mais das habilidades do presidente em negociar. “Trump diz que tentará fazer isso, mas ele terá de lidar com o fato de que perdeu poder”, explicou “e irá descobrir que a negociação moderna não é mais feita com autoritarismo e ameaças, mas sim com conciliação”.
Segundo Duzert, Trump, que se gaba de suas habilidades como homem de negócios, terá de aprender novas formas de transacionar para se movimentar no cenário político que enfrentará em 2019. Quem sabe a experiência fará com que o magnata pense em uma edição atualizada do seu best-seller, “A Arte da Negociação”.