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A Coreia do Sul vive uma crise insólita. Entenda

Assessores secretos, corrupção e toques de fanatismo religioso: presidente sul-coreana no centro de um dos maiores escândalos do país nas últimas décadas

Manifestantes usam máscaras de Choi Soon-il e da presidente Park Geun-Hye (Kim Hong-Ji/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 1 de novembro de 2016 às 10h57.

Última atualização em 1 de novembro de 2016 às 11h21.

São Paulo – A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, vive seu pior momento desde que assumiu o cargo em 2013. Envolvida em um escândalo de contornos bizarros, a primeira presidente mulher do país observou a sua aprovação cair para 10,4% e enfrenta intensa pressão popular pela sua renúncia.

Há em curso em Seul uma investigação para apurar o envolvimento de uma mulher chamada Choi Soon-il nas decisões do governo, bem como o seu acesso a documentos oficiais e os ganhos financeiros que teria obtido com essa influência.

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Choi é amiga íntima da presidente há mais de 40 anos e ex-mulher de um importante assessor do governo, mas nunca ocupou uma posição oficial. A confidente de Park vive fora da Coreia do Sul, mas retornou nesta semana para ser interrogada e acabou detida. Segundo os investigadores, seu estado emocional é “instável”.

As suspeitas são as de que Choi agia como uma assessora secreta, com amplo acesso aos assuntos de Estado e grande controle sobre as decisões da líder sul-corena, de conselhos de estilo até edição de discursos oficiais, incluindo ainda estratégias para lidar com a difícil Coreia do Norte. Tudo em benefício próprio.

Quem é Choi Soon-il

Esse seria só mais um escândalo no alto escalão do governo, não fossem os detalhes peculiares que o caso ganhou nos últimos dias. Choi é filha de Choi Tae-min, um líder religioso que é visto no país como uma espécie de Rasputin, o famoso místico russo que influenciou os rumos da Rússia no início do século passado.

Segundo o jornal The Korea Herald, Tae-min era mentor do pai de Park, Park-Chung-hee, a quem é atribuído o desenvolvimento econômico vivido pelo país nas últimas décadas. Ele teria se aproximado da família alegando ter contato com a mãe da presidente, que foi assassinada na década de 70.

Sua influência sobre Park era tanta que em 2007 a embaixada dos Estados Unidos no país, em uma mensagem revelada pelo Wikileaks, e posteriormente divulgada pelo jornal The Washignton Post, alegava que Tae-Min tinha total controle “sobre o corpo e a alma” da presidente na juventude.

Tamanho da crise

Park se recusou a comentar o caso em princípio. Contudo, com o agravamento da crise, veio à público pedir desculpas pelo escândalo e dizer que sim, Choi era uma amiga próxima que havia lhe ajudado “em tempos difíceis”. Não detalhou, no entanto, que ajuda foi essa.

Na semana passada, ordenou a saída de assessores e anunciou mudanças no gabinete. Isso não parece ser o suficiente para acalmar os ânimos na Coreia do Sul, onde já existe a avaliação é a de que esse é o maior escândalo enfrentado pelo país em décadas.

De acordo com analistas sul-coreanos ouvidos pelo The Korea Herald, Park perdeu a legitimidade para seguir no governo. Yang Seung-ham, professor de ciências políticas da Yonsei University, avaliou que “o primeiro-ministro deveria assumir os assuntos de Estado, incluindo a organização das eleições do ano que vem e a reorganização do gabinete”.

E a Coreia do Norte?

O governo da Coreia do Norte parece estar animado com a perspectiva de que Park renuncie. Em uma nota divulgada nesta semana, o país liderado por Kim Jong-un chamou o governo da presidente de “o mais deformado, anormal e estúpido na sociedade contemporânea” e pediu que ela deixe o cargo.

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