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Convencida pela Boeing, Lion Air desistiu de treinamento para 737 Max

Um ano depois da tentativa da Lion Air de treinar tripulação para pilotar o Boeing 737 Max, 189 pessoas morreram em acidente aéreo na Indonésia

Partes do Boeing 737 da Lion Air, que caiu na Indonésia em 2018: companhia aérea pediu treinamento para a Boeing, mas foi convencida de que não era necessário (Beawiharta/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 18h53.

A companhia aérea Lion Air, da Indonésia, considerou treinar seus pilotos em um simulador antes de voarem com o 737 Max, da Boeing, mas abandonou a ideia depois que a fabricante de aviões a convenceu em 2017 de que o treinamento era desnecessário, segundo pessoas a par do assunto e comunicações internas da empresa.

No ano seguinte, 189 pessoas morreram quando um 737 Max da Lion Air mergulhou no mar de Java, um desastre atribuído em parte ao treinamento inadequado e à falta de familiaridade da tripulação com um novo recurso de controle de voo do Max que não funcionou bem.

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Funcionários da Boeing se alarmaram diante da possibilidade de um dos maiores clientes da empresa exigir que seus pilotos passassem por um treinamento de alto custo em simulador antes de pilotar o novo modelo 737, de acordo com mensagens internas divulgadas na mídia. Essas mensagens, incluídas nas mais de 100 páginas de comunicações internas da Boeing que a empresa forneceu aos congressistas e à Administração Federal de Aviação dos EUA e divulgadas amplamente na quinta-feira, editaram o nome da Lion Air.

Mas o comitê da Câmara dos Deputados dos EUA forneceu trechos dessas mensagens para a Bloomberg News com o nome da companhia aérea indonésia, mas sem edições.

“Agora, a maldita Lion Air pode precisar de um simulador para pilotar o MAX, e, talvez, por causa de sua própria estupidez. Estou confuso tentando descobrir como desaparafusar isso agora! idiotas”, escreveu um funcionário da Boeing, segundo mensagens de texto de junho de 2017 obtidas pela empresa e divulgadas pelo Comitê de Transporte e Infraestrutura da Câmara dos Deputados.

Em resposta, um colega da Boeing respondeu: “WHAT THE F%$!!!! Mas a companhia aérea-irmã já está voando!”. Teria sido uma aparente referência à Malindo Air, a companhia área da Malásia que foi a primeira a voar comercialmente no Max.

Fazer o treinamento em simulador teria afetado um ponto crítico de venda do jato: as companhias aéreas poderiam permitir que as equipes treinadas em uma versão mais antiga do 737 voassem no Max depois de um breve curso de informática.

Em relatório sobre o acidente de 29 de outubro de 2018, o Comitê Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia citou uma falha da Boeing em informar os pilotos sobre o novo recurso de controle de voo no jato, chamado MCAS, e a necessidade de fornecer treinamento para que os pilotos fossem capazes de responder melhor a problemas.

O relatório também citou deficiências na capacidade da tripulação de checar itens de emergência, pilotar o avião manualmente e se comunicar sobre a emergência. O copiloto, que levou quase quatro minutos para procurar um procedimento de emergência que deveria ter memorizado, foi apontado por repetidas falhas durante o treinamento.

Os voos com o 737 Max foram suspensos globalmente em março passado, depois da queda de um avião da Ethiopian Airlines devido a um mau funcionamento similar do MCAS.

A Lion Air não quis comentar se foi a companhia aérea discutida nas mensagens divulgadas na semana passada pela Boeing, mas pessoas familiarizadas com as trocas, que não quiseram ser identificadas, disseram que a Lion Air havia inicialmente levantado preocupações sobre a necessidade de treinamento em simulador para o Max, mas finalmente aceitou a recomendação da Boeing de que era desnecessário.

Algumas das mensagens revelaram a pressão sobre os funcionários - e clientes - para evitar o treinamento adicional. A resistência da Boeing sobre o treinamento em simulador para pilotos da Lion Air foi relatada anteriormente pela Forbes.

A Boeing não respondeu a um pedido de comentário, mas disse na semana passada que “quaisquer possíveis deficiências de segurança identificadas nos documentos foram resolvidas”.

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