O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, acena ao chegar em Genebra: Ban Ki-moon precisou se retratar e retirar no último minuto o convite feito ao Irã (Fabrice Coffrini/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2014 às 09h21.
Montreux - A exclusão do Irã salvou a conferência de paz para a Síria de Genebra II, mas a Rússia considerou nesta terça-feira que se trata de um erro, enquanto Teerã, principal aliado regional de Damasco, previu um fracasso.
Anfitrião da conferência que começa na quarta-feira na localidade suíça de Montreux, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, precisou se retratar e retirar no último minuto o convite feito ao Irã diante dos protestos dos ocidentais e da ameaça da delegação da oposição síria de boicotar a reunião.
"Todos sabem que, sem o Irã, as chances (de alcançar) uma verdadeira solução na Síria não são tão grandes", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, ao ser perguntado pela televisão estatal.
"Está claro que não será possível encontrar uma solução global à questão síria se no processo não estão envolvidas todas as partes influentes", acrescentou.
Estados Unidos, Reino Unido e França, partidários de que o presidente sírio Bashar al-Assad abandone o poder, condicionaram a presença do Irã na conferência ao apoio a uma transição democrática na Síria.
Teerã é acusado de fornecer apoio militar e financeiro ao regime sírio no conflito, que custou a vida de mais de 130.000 pessoas desde março de 2011.
O outro apoio de Damasco, a Rússia, que havia preparado a reunião na semana passada em Moscou com os chefes da diplomacia síria e iraniana, reagiu sobriamente.
"Está claro que é um erro", afirmou seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. "Sempre dissemos que todos os atores externos tinham que estar representados", acrescentou.
Lavrov criticou a explicação dada por Ban para mudar de opinião.
"Quando o secretário-geral da ONU diz que era obrigado a cancelar seu convite ao Irã porque (este país) não compartilha os princípios do regulamento do comunicado de Genebra (de junho de 2012), na minha opinião é uma frase bastante distorcida", declarou Lavrov.
"Os que exigiram o cancelamento do convite ao Irã são os mesmos que afirmam que a aplicação do comunicado de Genebra deve levar a uma mudança de regime" na Síria, afirmou o ministro russo.
"É uma interpretação desonesta do que havíamos acordado em Genebra em junho de 2012", acrescentou Lavrov, que, no entanto, estimou que a ausência do Irã "não será catastrófica".
A polêmica antes da abertura da conferência demonstra a fragilidade do processo. O convite escrito que Ban enviou a trinta países afirma explicitamente que o objetivo da reunião é "formar um governo de transição com plenos poderes", como preconizou Genebra I.
Para não ter que recuar, não está, a princípio, previsto que a reunião adote uma nova resolução, segundo fontes diplomáticas, e Ban se limitará certamente a fazer uma síntese de todas as intervenções, especialmente as dos dois grupos opostos, ao fim do dia.
Entre os muros do Montreux Palace, sede da conferência e cujo acesso está vetado à imprensa, devem ocorrer, sobretudo, discussões discretas para preparar a reunião de sexta-feira na ONU em Genebra com as duas delegações sírias e o emissário especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.
Lavrov e Kerry devem se reunir nesta terça-feira em Montreux.
No entanto, os preparativos se aceleravam na localidade turística às margens do lago Lemán, especialmente em matéria de protocolo e segurança.
"Há delegações que querem estar fisicamente separadas, que não podem estar em um mesmo hotel", declarou à AFP o comissário Jean-Christophe Sauteral, da polícia suíça.
Ban chegou na manhã desta terça-feira à sede em Genebra da ONU, onde deve realizar vários encontros bilaterais e uma reunião preparatória com as equipes das Nações Unidas, antes de viajar durante a tarde a Montreux.