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Como o Talebã explodiu estátuas centenárias de Buda

A sua destruição chocou o mundo e abriu precedente para o recente vandalismo de antiguidades iraquianas por parte de combatentes do Estado Islâmico.

Estátuas de Buda de Bamiyan, que foram destruídas em 2001 pelo Talebã (UNESCO/Wikimedia Commons)

Karin Salomão

Publicado em 14 de março de 2015 às 21h28.

São Paulo - Há 14 anos, Mirza Hussain foi obrigado pelo Talebã a colocar bombas e explosivos em duas estátuas centenárias de Budas, no Afeganistão . A sua destruição chocou o mundo e abriu precedente para o recente vandalismo de antiguidades iraquianas por parte de combatentes do Estado Islâmico.

As antigas esculturas de arenito chegaram a ser as mais altas estátuas de Buda do mundo, com 55 metros de altura, e foram construídas em 507 a. C.

De tão traumático, o afegão, que tinha 26 anos na época, ainda se lembra do episódio como se fosse ontem. "Primeiro, eles atingiram os Budas com tanques e disparos. Quando viram que não fazia efeito, colocaram explosivos para destruí-los", disse ele à BBC.

Mirza foi recrutado, junto a outros moradores da sua província natal, Bamiyan, para colocar explosivos nas estátuas. O trabalho demorou três dias.

Os 25 prisioneiros eram os únicos sobreviventes e ele conta que eram tratados como descartáveis. Não havia civis na cidade, apenas combatentes do grupo sunita .

"Quando um dos homens, que tinha um problema na perna, não conseguiu mais carregar os explosivos, o Talebã atirou nele na hora e deu o corpo a outro prisioneiro, para que ele o descartasse, disse ele em conversa ao serviço afegão da BBC.

Como a maioria da população da cidade de Bamiyan, Mirza é um muçulmano xiita - portanto, era visto como um inimigo e um infiel sob os olhos do Talebã, que é um grupo muçulmano sunita.

Elas foram postas abaixo em 2001, sob as ordens de Mullah Mohammed Omar, depois que o Talebã afirmou que elas eram ídolos e contrárias ao islamismo.

Um enviado aos Estados Unidos explicou que a destruição era um protesto contra a ajuda internacional destinada a estátuas e outras obras históricas, enquanto afegãos passavam fome.

Quando as estátuas foram destruídas, o Talebã comemorou, aos gritos de "Allah Akbar" (Deus é grande). "Eles dispararam tiros ao ar, dançaram e levaram nove vacas para serem sacrificadas", disse Mirzah, que testemunhou tudo.

Ele disse que ainda sente remorso. "Lamentei na época, lamento agora e sempre lamentarei", diz. "Mas não tinha como resistir, não tinha escolha, porque eles teriam me matado."

Estado Islâmico

Há menos de um mês, o Estado Islâmico divulgou um vídeo nesta quinta-feira no qual mostra militantes destruindo artefatos antigos com martelos na cidade de Mosul, norte do Iraque. Os extremistas descreveram as relíquias como ídolos, que precisam ser destruídos.

Acredita-se também que eles tenham vendidos artefatos antigos no mercado negro para financiar sua campanha na região.

O vídeo de cinco minutos mostra um grupo de homens barbados no interior do museu de Mosul usando martelos e brocas para destruir várias estátuas grandes, mostradas a seguir aos pedaços.

https://youtube.com/watch?v=ZFIo0gM0BWo

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São Paulo - Há 14 anos, Mirza Hussain foi obrigado pelo Talebã a colocar bombas e explosivos em duas estátuas centenárias de Budas, no Afeganistão . A sua destruição chocou o mundo e abriu precedente para o recente vandalismo de antiguidades iraquianas por parte de combatentes do Estado Islâmico.

As antigas esculturas de arenito chegaram a ser as mais altas estátuas de Buda do mundo, com 55 metros de altura, e foram construídas em 507 a. C.

De tão traumático, o afegão, que tinha 26 anos na época, ainda se lembra do episódio como se fosse ontem. "Primeiro, eles atingiram os Budas com tanques e disparos. Quando viram que não fazia efeito, colocaram explosivos para destruí-los", disse ele à BBC.

Mirza foi recrutado, junto a outros moradores da sua província natal, Bamiyan, para colocar explosivos nas estátuas. O trabalho demorou três dias.

Os 25 prisioneiros eram os únicos sobreviventes e ele conta que eram tratados como descartáveis. Não havia civis na cidade, apenas combatentes do grupo sunita .

"Quando um dos homens, que tinha um problema na perna, não conseguiu mais carregar os explosivos, o Talebã atirou nele na hora e deu o corpo a outro prisioneiro, para que ele o descartasse, disse ele em conversa ao serviço afegão da BBC.

Como a maioria da população da cidade de Bamiyan, Mirza é um muçulmano xiita - portanto, era visto como um inimigo e um infiel sob os olhos do Talebã, que é um grupo muçulmano sunita.

Elas foram postas abaixo em 2001, sob as ordens de Mullah Mohammed Omar, depois que o Talebã afirmou que elas eram ídolos e contrárias ao islamismo.

Um enviado aos Estados Unidos explicou que a destruição era um protesto contra a ajuda internacional destinada a estátuas e outras obras históricas, enquanto afegãos passavam fome.

Quando as estátuas foram destruídas, o Talebã comemorou, aos gritos de "Allah Akbar" (Deus é grande). "Eles dispararam tiros ao ar, dançaram e levaram nove vacas para serem sacrificadas", disse Mirzah, que testemunhou tudo.

Ele disse que ainda sente remorso. "Lamentei na época, lamento agora e sempre lamentarei", diz. "Mas não tinha como resistir, não tinha escolha, porque eles teriam me matado."

Estado Islâmico

Há menos de um mês, o Estado Islâmico divulgou um vídeo nesta quinta-feira no qual mostra militantes destruindo artefatos antigos com martelos na cidade de Mosul, norte do Iraque. Os extremistas descreveram as relíquias como ídolos, que precisam ser destruídos.

Acredita-se também que eles tenham vendidos artefatos antigos no mercado negro para financiar sua campanha na região.

O vídeo de cinco minutos mostra um grupo de homens barbados no interior do museu de Mosul usando martelos e brocas para destruir várias estátuas grandes, mostradas a seguir aos pedaços.

https://youtube.com/watch?v=ZFIo0gM0BWo

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