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Como Mursi perdeu o Egito para a oferta de pão

Após décadas tentando tomar o poder, a Irmandade Muçulmana, de Mursi, conseguiu perder o poder em um ano, apenas reduzindo as importações de trigo

Vendedor de rua caminha com pão em frente a um grafite denunciando o presidente do Egito, Mohamed Mursi, e o Ministro do Interior em uma rua próxima da praça Tahrir, em Cairo (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2013 às 17h53.

Cairo - O maior erro que o presidente deposto do Egito Mohamed Mursi cometeu durante o ano em que ficou no poder foi reduzir dramaticamente as importações de trigo, afirmou o novo ministro de suprimentos do país, Mohamed Abu Shadi.

A falta de dinheiro e uma tentativa quixotesca de tornar o Egito autossuficiente estimularam o declínio, disseram autoridades familiarizadas com a questão.

Mursi sonhava em levar o Egito a produzir todo o trigo que consome e permitiu que os estoques de produto importado caíssem a níveis muito baixos. Isso prejudicou tanto os estoques de trigo do país quanto o governo de Mursi.

Com um quarto da população egípcia, de 84 milhões de pessoas, vivendo abaixo da linha de pobreza de 1,65 dólares de salário por dia, milhões dependem do pão subsidiado que é vendido por menos de 1 centavo de dólar por unidade. A oferta depende do trigo estrangeiro.

O país é o maior importador mundial de trigo, trazendo do exterior cerca de 10 milhões de toneladas por ano, ou cerca de metade de seu consumo anual. Manter o sistema de pão subsidiado funcionando era vital quando Mursi, apoiado pela Irmandade Muçulmana, assumiu o poder em junho de 2012.

Mursi indicou o engenheiro Bassem Ouda, de 43 anos, como ministro de suprimentos. Ouda, que assumiu o posto em 6 de janeiro, disse que o programa egípcio, estimado em 3 bilhões de dólares, seria sua maior prioridade. No entanto, ele e Mursi imediatamente começaram a falar sobre tornar o Egito autossuficiente, ao mais que dobrar sua produção doméstica e atender cerca de 18 milhões de toneladas de sua demanda anual. Ao mesmo tempo eles reduziram fortemente as importações de trigo, utilizando e esvaziando estoques.

Em maio, Mursi disse durante um festival da colheita que "pela vontade de Deus, em dois anos nós conseguiremos produzir mais de 80 por cento das nossas necessidade, e buscamos em quatro anos não importar mais trigo." Era uma meta ambiciosa. Críticos disseram que era algo temerário.


"Muitas pessoas ficaram desconcertadas e descontentes com as afirmações do governo de que nós nos tornaríamos autossuficientes", disse o professor de economia na Universidade Americana do Cairo, Adel Beshai. "Qualquer aldeão sabe que não podemos nos tornar autossuficientes, qualquer agricultor iletrado podia ver que não poderíamos nos tornar autossuficientes, então as pessoas acharam que estavam mentindo para elas." A agricultura egípcia é quase que inteiramente dependente de irrigação, com mais de 90 por cento do território sendo constituídos de desertos.

O Departamento de Agricultura dos EUA estimou a última colheita de trigo no Egito em 8,5 milhões de toneladas. Só o programa de pão subsidiado consome 9 milhões de toneladas anuais.

O trigo local é pobre em glúten e por isso é misturado com trigo estrangeiro em partes iguais para a produção de trigo.

A falta de recursos financeiros também tiveram um papel importante na dificuldade de importar trigo, de acordo com uma fonte do governo familiar com o assunto. Em meio a uma crise econômica, o governo islâmico começou a explorar métodos alternativos de comprar trigo.

"Eles estavam tentando realizar permutas por laranjas e batatas", disse uma segunda fonte com experiência nos meandros da Gasc, agência estatal de compras.

O resultado foi a inércia. "Foi uma extensão do que estava acontecendo no resto dos ministérios e no resto do país", disse uma fonte do governo.

Em 10 de julho, dias depois da deposição de Mursi e da renúncia de Ouda, Ouda disse que os estoques do governo estavam em 3,5 milhões de toneladas, incluindo 500 mil toneladas de trigo importado, comparado com 4,9 milhões de toneladas em 1o de julho do ano passado, incluindo 1,2 milhões de toneladas de trigo importado.

Uma fonte do governo disse que o risco de escassez poderia ser revertido com gestão adequada: "Tudo que precisamos são decisões rápidas para entrar no mercado nas horas certas."

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Cairo - O maior erro que o presidente deposto do Egito Mohamed Mursi cometeu durante o ano em que ficou no poder foi reduzir dramaticamente as importações de trigo, afirmou o novo ministro de suprimentos do país, Mohamed Abu Shadi.

A falta de dinheiro e uma tentativa quixotesca de tornar o Egito autossuficiente estimularam o declínio, disseram autoridades familiarizadas com a questão.

Mursi sonhava em levar o Egito a produzir todo o trigo que consome e permitiu que os estoques de produto importado caíssem a níveis muito baixos. Isso prejudicou tanto os estoques de trigo do país quanto o governo de Mursi.

Com um quarto da população egípcia, de 84 milhões de pessoas, vivendo abaixo da linha de pobreza de 1,65 dólares de salário por dia, milhões dependem do pão subsidiado que é vendido por menos de 1 centavo de dólar por unidade. A oferta depende do trigo estrangeiro.

O país é o maior importador mundial de trigo, trazendo do exterior cerca de 10 milhões de toneladas por ano, ou cerca de metade de seu consumo anual. Manter o sistema de pão subsidiado funcionando era vital quando Mursi, apoiado pela Irmandade Muçulmana, assumiu o poder em junho de 2012.

Mursi indicou o engenheiro Bassem Ouda, de 43 anos, como ministro de suprimentos. Ouda, que assumiu o posto em 6 de janeiro, disse que o programa egípcio, estimado em 3 bilhões de dólares, seria sua maior prioridade. No entanto, ele e Mursi imediatamente começaram a falar sobre tornar o Egito autossuficiente, ao mais que dobrar sua produção doméstica e atender cerca de 18 milhões de toneladas de sua demanda anual. Ao mesmo tempo eles reduziram fortemente as importações de trigo, utilizando e esvaziando estoques.

Em maio, Mursi disse durante um festival da colheita que "pela vontade de Deus, em dois anos nós conseguiremos produzir mais de 80 por cento das nossas necessidade, e buscamos em quatro anos não importar mais trigo." Era uma meta ambiciosa. Críticos disseram que era algo temerário.


"Muitas pessoas ficaram desconcertadas e descontentes com as afirmações do governo de que nós nos tornaríamos autossuficientes", disse o professor de economia na Universidade Americana do Cairo, Adel Beshai. "Qualquer aldeão sabe que não podemos nos tornar autossuficientes, qualquer agricultor iletrado podia ver que não poderíamos nos tornar autossuficientes, então as pessoas acharam que estavam mentindo para elas." A agricultura egípcia é quase que inteiramente dependente de irrigação, com mais de 90 por cento do território sendo constituídos de desertos.

O Departamento de Agricultura dos EUA estimou a última colheita de trigo no Egito em 8,5 milhões de toneladas. Só o programa de pão subsidiado consome 9 milhões de toneladas anuais.

O trigo local é pobre em glúten e por isso é misturado com trigo estrangeiro em partes iguais para a produção de trigo.

A falta de recursos financeiros também tiveram um papel importante na dificuldade de importar trigo, de acordo com uma fonte do governo familiar com o assunto. Em meio a uma crise econômica, o governo islâmico começou a explorar métodos alternativos de comprar trigo.

"Eles estavam tentando realizar permutas por laranjas e batatas", disse uma segunda fonte com experiência nos meandros da Gasc, agência estatal de compras.

O resultado foi a inércia. "Foi uma extensão do que estava acontecendo no resto dos ministérios e no resto do país", disse uma fonte do governo.

Em 10 de julho, dias depois da deposição de Mursi e da renúncia de Ouda, Ouda disse que os estoques do governo estavam em 3,5 milhões de toneladas, incluindo 500 mil toneladas de trigo importado, comparado com 4,9 milhões de toneladas em 1o de julho do ano passado, incluindo 1,2 milhões de toneladas de trigo importado.

Uma fonte do governo disse que o risco de escassez poderia ser revertido com gestão adequada: "Tudo que precisamos são decisões rápidas para entrar no mercado nas horas certas."

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