Começa a transição
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Barack Obama vai receber o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca nesta quinta-feira para dar início à transição de governo mais importante das últimas décadas. Trump, que lançou sua carreira política questionando se Obama tinha de fato nascido nos Estados Unidos e passou a campanha […]
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 18h42.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York
Barack Obama vai receber o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca nesta quinta-feira para dar início à transição de governo mais importante das últimas décadas. Trump, que lançou sua carreira política questionando se Obama tinha de fato nascido nos Estados Unidos e passou a campanha presidencial inteira prometendo desfazer tudo o que o atual presidente americano realizou nos últimos oito anos, foi declarado vencedor da eleição presidencial na madrugada de quarta, uma notícia que causou choque e estupefação no mundo inteiro. Agora, Trump tem pouco mais de dois meses para montar seu governo. A posse está marcada para 20 de janeiro.
No dia seguinte à surpreendente vitória de Trump, a candidata derrotada, Hillary Clinton, e Obama se pronunciaram sobre a derrota eleitoral – os democratas tiveram mais votos populares, mas perderam no Colégio Eleitoral, que é o órgão que efetivamente elege o presidente americano. Hillary Clinton havia telefonado para parabenizar Trump e admitir a derrota na madrugada. Pela manhã, ela falou a apoiadores e seus assessores em um local arrumado às pressas.
A festa estava montada no centro de Convenções Javits Center, em Nova York. Os democratas tinham escolhido o espaço porque o hall de entrada tem um teto de vidro – uma metáfora poderosa para a chegada da primeira mulher à Presidência americana. Mas a esperada vitória de Hillary não veio, o público foi embora para casa cabisbaixo e, enquanto o enorme palco no formato do mapa do país era desmontado, Hillary falou no salão de um hotel diante de algumas poucas bandeiras americanas.
“É doloroso, e vai ser assim por muito tempo”, disse a ex-primeira-dama, acompanhada pelo marido, Bill Clinton, pela filha, Chelsea, e pelo genro. “Algum dia alguém vai romper o teto de vidro, espero que mais cedo do que estejamos acreditando agora.” Hillary disse esperar que Donald Trump seja um presidente “bem-sucedido” para todos os americanos. “Devemos manter a cabeça aberta e dar a ele a chance de liderar.” Aparentando emoção, mas sem chorar, Hillary tentou foi conciliadora, mas incluiu em seu breve discurso uma menção aos “direitos iguais de todos”, independentemente de religião ou raça – um de pontos mais importantes de sua campanha contra um candidato conhecido por suas ofensas contra as minorias.
Cerca de meia hora depois, Barack Obama falou aos jornalistas na Casa Branca. O tom da mensagem era o mesmo: conciliação e uma transição sem sobressaltos. “Não é segredo que temos diferenças significativas”, disse o presidente. “Mas neste cargo você logo percebe que a Presidência é maior do que você. Vamos nos esforçar para que a transição seja bem sucedida.” Obama comparou as próximas semanas à passagem do bastão entre seu antecessor, George W. Bush, e ele próprio. “Todos ficam tristes quando perdem uma eleição. Mas estamos no mesmo time. Antes de ser republicanos ou democratas, somos americanos.”
Embora ninguém duvide das promessas de civilidade e do empenho em garantir uma transição sem obstáculos, o encontro da quinta-feira vai colocar frente a frente dois adversários ferrenhos, que há anos estão envolvidos em uma briga pública. Tudo começou em abril de 2011, quando o empresário começou a dar entrevistas sugerindo que Obama não tinha nascido nos Estados Unidos. A implicação óbvia é que ele não poderia ser presidente do país, e as aparições de Trump eram um balão de ensaio para uma possível candidatura presidencial na eleição do ano seguinte.
Na campanha deste ano, Obama foi ao ataque contra Trump diversas vezes. Em agosto, depois de o republicano atacar a família de um soldado americano e muçulmano morto em combate, o presidente disse: “O indicado republicano não está qualificado para servir como presidente”. “Uma pessoa que fique incomodada com uma esquete do [programa humorístico] Saturday Night Live, você não quer que ela tenha o controle de armas nucleares”, disse Obama na semana passada, durante um comício em Miami. Outra alfinetada: Trump só tem contato com trabalhadores “quando eles estão limpando seu quarto ou aparando a grama dos seus campos de golfe”.
O ministério
O encontro entre Obama e Trump dá início oficial a um cenário que poucos concebiam até a noite da terça-feira: Donald Trump sentado no Salão Oval. Suas tarefas imediatas são escolher um ministério e um juiz para a Suprema Corte, que está com uma vaga em aberto desde fevereiro. As especulações já começaram e envolvem os poucos figurões republicanos que se mantiveram fieis ao bilionário, enquanto a ala tradicional do partido tentava evitar qualquer tipo de associação, real ou imaginada, com Trump. Entre eles estão o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, o governador de Nova Jersey, Chris Christie, e o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich. Não se sabe se haverá lugar para o establishment republicano em um governo Trump.
O republicano Paul Ryan, presidente da Câmara, foi uma das poucas lideranças que tentaram manter um pé em cada canoa. Falando aos jornalistas no dia seguinte à eleição, Ryan disse que Trump tem “mandato” para implementar sua visão de governo. Isso inclui o fim do programa conhecido como Obamacare, que estendeu a cobertura de planos de saúde a mais de 20 milhões de americanos. O deputado também afirmou que ele e Trump conversaram sobre a necessidade de unir o país. “É hora de redenção, não de recriminação”, afirmou Ryan.