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Clã Trump cobiça prédio militar bombardeado pela Otan em Belgrado

Em meados de março, ex-conselheiro da Casa Branca confirmou um projeto de investimento imobiliário de luxo na Sérvia e na Albânia

O assunto é delicado por envolver a concessão do edifício que se tornou, há 25 anos, o emblema da campanha aérea da Otan, liderada pelos Estados Unidos e lançada para pôr fim à guerra no Kosovo (Giorgio Viera/AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 24 de março de 2024 às 13h57.

A antiga sede do Estado-Maior da Iugoslávia, localizada no coração de Belgrado, e bombardeada há 25 anos pela Otan, pode se tornar um hotel de luxo financiado pela família Trump - uma ideia que não agradou os habitantes da cidade.

De acordo com informações de um deputado da oposição e de uma extensa investigação do jornal The New York Times, o governo sérvio planeja ceder, sem custo algum, o prédio e o terreno, por um período de 99 anos, a uma empresa cujo proprietário é Jared Kushner, genro e ex-conselheiro da Casa Branca durante a administração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Em meados de março, Kushner confirmou um projeto de investimento imobiliário de luxo na Sérvia e na Albânia.

O assunto é delicado por envolver a concessão do edifício que se tornou, há 25 anos, o emblema da campanha aérea da Otan, liderada pelos Estados Unidos e lançada para pôr fim à guerra no Kosovo.

Os bombardeios começaram em 24 de março de 1999, mesmo sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU. Já a intervenção terminou em junho, encerrando o conflito, que deixou mais de 13.000 mortos, com a retirada das forças sérvias do Kosovo.

"Deixar isso assim por mais 200 anos não é uma solução", afirma Srdja Nikolic, jornalista aposentado, "mas sou contra doá-lo, e muito menos para aqueles que estiveram à frente do que aconteceu", diz.

Lembrança de um período difícil

O prédio de 1965, destruído pelos bombardeios, foi declarado pelo governo sérvio como um "bem cultural" protegido.

No entanto, esse fator não parece ser um problema para a administração da Sérvia, que, embora não negue a existência do projeto, também não fornece mais detalhes.

Segundo planos vazados, ele seria substituído por três grandes torres de vidro, localizadas a poucos metros dos ministérios sérvios da Defesa e das Relações Exteriores.

Jasminka Avramovic, de 66 anos, lembra vividamente do dia em que o prédio foi bombardeado.

"Nasci no bairro de Senjak, perto daqui. Após o bombardeio, eu vim para a rua Sarajevo pegar pedaços de vidro. Ainda os guardo como lembrança. Foi um desastre", diz ela.

"É preciso reconstruí-lo", acrescenta a aposentada, "mas não devemos dar o terreno aos americanos. Eles não são nossos amigos. Se tivermos que oferecê-lo, então devemos entregá-lo à Rússia", afirma Avramovic.

Após 25 anos, o ressentimento contra a Otan ainda é forte no país - onde muitas vezes se minimiza as atrocidades dos grupos armados locais.

O balanço das vítimas civis durante as onze semanas de bombardeios nunca foi definitivamente estabelecido. As informações variam entre 500 mortos, segundo a ONG Human Rights Watch, e 2.500 segundo funcionários sérvios.

Para Zoran Stosic, de 83 anos, "é preciso deixar este prédio como está, como lembrança deste período desagradável".

Para ele, mais do que um hotel de luxo, deveria ser transformado em um local de memória. "É necessário preservar esses prédios, conservá-los e transformá-los em um museu. Para nos lembrar da importância da paz, para que essas coisas não se repitam", diz Stosic.

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