Chilenos criam sacos plásticos solúveis em água que não poluem
Roberto Astete e Cristian Olivares encontraram fórmula química à base de PVA (álcool polivinílico, solúvel em água) que substitui derivados do petróleo
AFP
Publicado em 24 de julho de 2018 às 21h57.
Com uma mudança sutil na fórmula do plástico, que permite substituir o petróleo pela pedra calcária, um grupo de empreendedores chilenos conseguiu fabricar sacos plásticos e de tecido reutilizáveis solúveis em água e que não contaminam.
Roberto Astete e Cristian Olivares, os dois artífices deste produto, começam a fazer experimentos para fabricar um detergente biodegradável, mas acabaram encontrando a fórmula química à base de PVA (álcool polivinílico, solúvel em água) e que substitui os derivados do petróleo, responsáveis pela alta durabilidade dos plásticos que se integrou à cadeia alimentar de animais marinhos e responsáveis pela deterioração do meio ambiente.
"Nosso produto deriva de uma pedra calcária que não causa danos ao meio ambiente", assegurou Astete, diretor-geral da empresa SoluBag, que espera comercializar seus produtos a partir de outubro no Chile, um dos primeiros países da América Latina a proibir o uso de sacos plásticos convencionais em estabelecimentos comerciais.
"É como fazer pão", acrescenta. "Para fazer pão é preciso farinha e outros ingredientes. Nossa farinha é de álcool de polivinil e outros componentes, aprovados pela FDA (agência americana reguladora de alimentos, medicamentos, cosméticos, aparelhos médicos, produtos biológicos e derivados sanguíneos), que nos permitiu ter uma matéria-prima para fazer diferentes produtos".
Diante de jornalistas, os dois demonstraram a solubilidade imediata de suas sacolas plásticas em água fria ou de bolsas de tecido reutilizáveis em água quente.
"O que fica na água é carbono", assegura Astete, o que os exames médicos realizados demonstraram que "não tem nenhum efeito no corpo humano".
Para demonstrar que a água turva resultante da dissolução é "inócua" e potável, eles bebem alguns copos.
Reciclagem doméstica
"A grande diferença entre o plástico tradicional e o nosso é que aquele vai estar entre 150 e até 500 anos no meio ambiente e o nosso demora apenas cinco minutos. A gente decide quando o destrói", afirma Astete, antes de acrescentar que "hoje em dia a máquina recicladora pode ser a panela de casa ou a máquina de lavar".
A fórmula encontrada permite "fazer qualquer material plástico", razão pela qual já estão trabalhando na produção de materiais como talheres, pratos e embalagens.
Os tecidos solúveis na mesma água quente que serve, por exemplo, para preparar um chá ou um café, podem ser usados para produzir sacolas de compras reutilizáveis e produtos hospitalares como os protetores de macas, batas e gorros do pessoal médico e de pacientes que costumam ter um único uso, explica Olivares.
E quando chove, como as compras chegam em casa? Os fabricantes podem programar a temperatura à qual tanto os sacos plásticos como os de lixo se dissolvem no contato com a água.
Outra vantagem das sacos é que são antiasfixia, uma causa importante de mortalidade infantil, pois se dissolve em contato com a língua ou as lágrimas.
Com a produção maciça, que pode ser feita nas mesmas empresas que fabricam os plásticos convencionais - basta apenas alterar a fórmula -, o preço de seus produtos pode ser similar ao dos atuais, garantem.
Em um mundo onde em 2014 foram fabricadas 311 milhões de toneladas de plástico e se nada mudar, em 2050, serão produzidas 1,124 bilhão de toneladas, Astete e Olivares esperam dar ao cliente o "empoderamento de ajudar a descontaminar o meio ambiente" porque "a grande vantagem é que o usuário decide quando destruí-la", assegura.
A iniciativa ganhou o prêmio SingularityU Chile Summit 2018 como empreendimento catalizador de mudança, o que rendeu aos inventores um estágio no Vale do Silício a partir de setembro.