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Chefe de gestão de desastres da Itália renuncia em protesto

Sete cientistas-membros do órgão foram condenados a seis anos de prisão por homicídio culposo por subestimar os riscos de um terremoto ocorrido em 2009

Edificações destruídas pelo terremoto de 2009 na Itália: o terremoto que deixou mais de 80 mil desabrigados continua sendo um trauma para todos os italianos (Filippo Monteforte/AFP)
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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2012 às 12h50.

Roma - O chefe do órgão de gestão de grandes desastres da Itália renunciou nesta terça-feira depois que sete de seus membros foram condenados a seis anos de prisão por homicídio culposo por subestimar os riscos de um terremoto ocorrido em 2009.

Luciano Maiami afirmou à agência de notícias Ansa que renunciou como chefe da Comissão de Grandes Riscos porque "não existem as condições para trabalhar de forma serena", um dia após a decisão que chocou a comunidade científica internacional.

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Maiami, um dos principais físicos da Itália e ex-chefe do CERN, em Genebra, criticou o veredicto aplicado pelo tribunal de L'Aquila na segunda-feira, no centro da Itália, afirmando que foi "um grande erro".

"Estes são profissionais que falaram de boa fé e não estavam, de forma alguma, motivados por interesses pessoais, eles sempre disseram que não é possível prever um terremoto", afirmou ao jornal Corriere della Sera.

"Este é o fim de cientistas dando consultas ao Estado", disse.

Os sete réus eram membros da Comissão de Grandes Riscos, que se reuniu em L'Aquila no dia 31 de março de 2009 - seis dias antes do terremoto de 6,3 graus que devastou a região, matando 309 pessoas e deixando milhares de desabrigados.

Sob o sistema judicial italiano, os sete permanecem livres até que tenham esgotado duas chances de recorrer da sentença.

Entre os sete condenados estão grandes nomes da ciência na Itália, como o professor Enzo Boschi, que presidiu o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, e o vice-diretor da Defesa Civil, Bernardo de Bernardinis.


O terremoto, que devastou a cidade de L'Aquila, varrendo o centro histórico e deixando mais de 80 mil desabrigados, continua sendo um trauma para todos os italianos e gerou polêmicas sobre as negligências que contribuíram para esse trágico registro.

Durante o julgamento, iniciado em setembro, a procuradoria havia pedido uma pena menor, de quatro anos de prisão, contra os sete membros da Comissão de Grandes Riscos, que havia se reunido em 31 de março de 2009 na cidade de L'Aquila, seis dias antes do sismo que provocou a morte de mais de 300 pessoas.

A justiça considera que as autoridades científicas divulgaram informações tranquilizadoras à população, que, caso contrário, teria conseguido agir para se proteger.

Mais de 400 tremores sacudiram a região durante quatro meses e, apesar disso, as autoridades não tomaram medidas específicas e se limitaram a advertir que os terremotos não podem ser previstos.

A defesa dos acusados anunciou que vai recorrer da sentença, que proíbe também que os cientistas ocupem cargos públicos pelo resto de suas vidas.

Mais de 5.000 membros da comunidade científica escreveram uma carta aberta ao presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, na qual asseguraram que um terremoto é impossível de ser previsto.

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