Brasil precisa modernizar seus equipamentos militares e repensar sua estratégia, diz CEBRI
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) lançou o policy paper sobre Tensões Geopolíticas Globais e os Desafios de Fortalecimento da Defesa e Segurança Nacional
Carlo Cauti
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 14h55.
Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 16h28.
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) lançou na última terça-feira, 20, o policy paper “Tensões Geopolíticas Globais e os Desafios de Fortalecimento da Defesa e Segurança Nacional: apontamentos preliminares”.
O documento faz parte da série de policy papers que o think tank carioca está produzindo para auxiliar os candidatos à Presidência da República em elaborar políticas públicas em seus futuros eventuais governos.
O policy paper faz recomendações de políticas públicas para a área de Defesa e Segurança nacional para o Brasil, em um contexto de competição sistêmica entre superpotências, quarta revolução industrial e corrida tecnológica e novas guerras hibridas e de cibersegurança.
“Atualmente, a esfera cibernética tem um papel fundamental para a estabilidade das nações e para a segurança internacional. O Brasil não pode ter a ilusão de que não corre riscos devido a sua posição geográfica. A falta de investimentos em ciência e tecnologia deixam o país em posição muito vulnerável”, explicou o Senior Fellow do CEBRI e Professor de Geopolítica da ESG, Ronaldo Carmona.
Segundo o documento, o Brasil tem características que o colocam como um ator relevante no sistema internacional, pois está entre os maiores países do mundo em termos de território e população, e é uma potência em sua região, fazendo fronteira com quase todos os países sul-americanos e tendo quase 17 mil quilômetros de fronteira terrestre.
Por isso, segundo o policy paper, se faz necessário que o país tenha relevância em termos militares, para garantir a sua segurança.
"Urge, por exemplo, relançar uma política e uma estratégia brasileira para a América do Sul, e de forma mais ampla, para seu entorno estratégico, que inclui o Atlântico Sul e a África", escreveram os analistas do CEBRI no documento.
Segurança das fonteiras do Brasil e segurança interna
O documento salienta como é um desafio para o Brasil a questão da violência em seu território, e a garantia de segurança nas suas fronteiras, assim como é um desafio para o Brasil identificar necessidades atinentes à modernização e reequipamento de sua estrutura de defesa.
"Nesse contexto, ajustes institucionais e reversão de instabilidades orçamentarias – cuja consequência é a impossibilidade de planejar gastos de médio e longo prazo - são alguns dos desafios para estruturação de Forças Armadas e de uma base industrial de defesa no Brasil que sejam compatíveis com as necessidades e a importância do país no sistema internacional", explica o texto.
Segundo Jackson Schneider, CEO da Embraer (EMB3) Defesa & Segurança e Conselheiro Consultivo Internacional do CEBRI, a Guerra da Ucrânia tornou mais evidente a necessidade de autonomia dos países.
“O que se vê é um retorno de investimentos em política industrial de defesa e tecnologia para impedir que produtos de sensibilidade nacional não venham de outras regiões fora do eixo de confiança, o que implica também em certo protecionismo. O Brasil deve replicar a experiência bem-sucedida da Embraer em mais investimentos para fortalecer a indústria nacional de Defesa”, pontuou o executivo.
Entre as prioridades apontadas pelo policy paper do CEBRI estão, entre outros:
- assegurar crescente independência sobre sistemas oriundos do exterior;
- buscar soluções tecnológicas próprias;
- se adquirir equipamentos e ter a autonomia de manter seu funcionamento e produção;
- implementar governança da segurança cibernética;
- criar novas estratégias de regulação e incentivos para uma maior coordenação entre empresas do setor de energia;
- relançamento do Conselho Sul-americano de Defesa (CDS);
Para os conselheiros do CEBRI, André Clark, e o General Paulo César Carvalho, Senior Fellow do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional, destacaram que atualmente as ameaças não atingem apenas Governos, mas a sociedade como um todo.
“A ameaça cyber borra a fronteira entre o que é privado e público. Todo mundo é alvo de uma estrutura de ciberataque. Não há mais solução sem pesquisa e envolvimento da sociedade civil, é necessária uma maior integração entre universidades, centros de pesquisa, empresas privadas e governo”, opinou o general Carvalho
Roberto Gallo, Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE), lamentou que o país esteja atrasado na questão da proteção e segurança cibernética: “A propriedade intelectual está na raiz de disputa da 4ª revolução industrial e na geração de valor econômico e militar. Por isso, países são alvo de espionagem e os investimentos em tecnologia e defesa e segurança são prioridades estratégicas no orçamento dos países”, defendeu. o conselheiro do CEBRI.
A integra do policy paper está disponível no site do CEBRI (www.cebri.org).